Quando começa a chover
O sertão muda à imagem,
Rio começa a correr
Alagando a sua margem.
Menino faz brincadeira,
Se banhando na biqueira
Correndo pelo oitão.
A babuja vai nascendo
E a criação comendo
A mais barata ração.
Sapo canta na lagoa
Camaleão enverdece,
Sertanejo ri à toa
Miséria desaparece.
É o açude sangrando,
Curimatã desovando
Na lei da procriação.
A chuva é a fantasia,
Que faz coreografia
No teatro do sertão.
Mulher aparando água
Homem tirando goteira,
Moça lavando a anágua
E secando na porteira.
Uma vaca aperreada,
No atoleiro da estrada
Cada vez mais afundando.
Dez por cento é negativo,
Mas noventa é positivo.
Pois é inverno chegando.
Pinto, galinha e capão
Ciscando na verde rama,
Menino de pé no chão
Escorregando na lama.
Um repentista contente,
Porque fez no seu repente
A mais certa profecia.
De haver um bom inverno,
Para acabar com o inferno
Que o sertanejo vivia.
Ainda de madrugada
A mulher faz o café,
O homem bate a enxada
E vai pra roça com fé.
Chegando na roça nova,
Faz a carreira de cova
Planta milho e geremum.
Quando a fome lhe aperreia,
A mulher traz uma ceia
E ele quebra o jejum.
A chuva traz a parcela
De uma lavoura futura,
O sertanejo vê nela
O bem da agricultura.
Recebe de mão beijada,
A semente preparada
Do governo estadual.
Um governo que avança,
No progresso da mudança
E benefício rural.
Mundim do Vale
07-06-97.
Dedico esse poema aos primos: Renato e João Bitu. Os homens da terra.
"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".
Dom Helder Câmara
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Prezado Mundim.
ResponderExcluirDe todos os seus poemas este foi o que mais saudades me deu. Eita coisa parecido com o meu Sanharol das decadas de 50 e 60 do seculo passado.