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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 1 de abril de 2014

ESTEFÂNIA - Por Xico Bizerra

Ambrosina morreu de tédio. Sua irmã Estefânia, ao contrário, preferiu viver de amor, convicta de que a ternura existe e resiste, como lhe dizia uma voz a recitar-lhe Vinícius, ou Bandeira, ou Pessoa; toda a vida teve um colo que lhe embalou revelando sonhos; por todos os lados vislumbrava uma grama verdinha e nela deitava-se sentindo o cheiro da paz e deleitando-se ao som de Chico Buarque ou de um outro passarinho; olhava pro céu e via a luz da lua. Sorria feliz como feliz é quem está com a passagem de volta no bolso, só esperando a hora do voltar.

Com os olhos bem abertos pastorava as estrelas, contando-as até dormir. E dormia, como dormem os de bem, os de paz. Se um grão de saudade, por menor que fosse, tentasse invadir sua alma, escancarava a porta e deixava que assim o fizesse, pois saudade só sentia das coisas boas. E aí, depois de uma cachacinha colhida no mais puro dos alambiques da ternura, tomava goles de amizade e sorria para o mundo torcendo para que todos fossem felizes como ela, por viver rodeada de tantas prendas e por fazer questão da abundância de amor sem nada que atrapalhasse seu bate-papo com Deus.

Xico Bizerra

4 comentários:

  1. Prezado Xico.

    Muitos aguardam o Domingo pra lê suas cronicas. Muitos por comodidade ou por outra razão não comentam, mas enviam mensagens e emails manifestando admiração e respeito. Parabens e muito obrigado. Estamos ficando com o bico doce! Viciados. hahaha

    A. Morais

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  2. Lindo texto, Xico. Adorei.
    Que bom falar de amor, sempre.
    Cheiros pra tu
    stela

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  3. Xico,

    Eu vivo tentando me diambrosinisar da vida alambicando-me, de vez em quando, entre as mundanas coisas, a procura do sereno céu de Estefânia. Tenho tido sorte, pois constatei que a morte é mais ao norte.

    Parabéns por esta mensagem de amor e paz.

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  4. pois é, sávio, o amor é bem mais ao norte, bem distante da morte. alambicar-se é uma das asas que nos leva pra esse norte distante e bom. abraço.
    stela, seus comentários me estimulam a continuar. xêro pra tu.

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