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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Mudança do apelido de Zé de Maria de seu Agostinho - Por João Dino.

João Dino de Zé de Anete. É assim que os mais idosos da minha querida Icó-CE ainda hoje me chamam. Também os meus colegas de colégios, amigos de infância, adolescência e juventude, quase todos tinham apelidos como esses.

E Zé de Maria de Seu Agostinho, apesar de ter nascido antes de mim uns cinco anos, era um dos meus grandes amigos. Ele só perdeu esse nome quando, em 1965, foi convidado por um conterrâneo nosso para trabalhar no serviço de extração de leite de seringueiras, na região amazônica. Ficou por lá pouco mais de um mês. Mas cada vez que abria a boca só falava em Manaus, Tefé, Parintins, Maués, Apuí...

Eu gostava de ouvir as histórias dele. E um dia ele estava me explicando como era que descascava o caule das árvores para retirar o leite que se transformava em matéria prima para confecção da borracha.

Muito empolgado contando a história ele disse: João, o pau fica pelado de cima até a raiz. Eu estava apenas ouvindo a história com atenção, e quis demonstrar meu interesse pelo assunto. E falei: quer dizer Zé, que teu serviço lá na Amazônia era PELAR PAU?

Nessa hora, Du Bico de Maria de Seu Agostinho, irmão dele, que estava ouvindo nosso diálogo, achou graça e disse: Abestado, tu não sabe que João Dino gosta de botar apelido nos outros, ele está te apelidando de ZÉ PELA-PAU.

Gente, Zé era mais velho e mais forte que eu. Andando com ele eu me sentia seguro. Eu gostava de bulir com os doidos da Cidade e Zé era o enfrentante. Hélio Doido, por exemplo, era valente demais. Quando ele tomava pinga ficava cochilando no quiosque de Antonio de Chica de Ribarmar, e Zé, com um cipó de raposa, ficava cutucando a orelha dele. Hélio pensava que era uma mosca, dava cada tapa na orelha que a bicha ficava vermelha. Até que ele descobria que era o cipó de raposa e saía correndo atrás da gente.

Zé é quem tinha coragem de amarrar latas de doce vazias na barra da saia de Romana Caboré. Quando Romana corria atrás da gente era aquele barulho no meio da rua, e povo mangando.

Pois é meus amigos, depois desse dia, por causa do diabo desse apelido, quase nossa amizade se acaba. Ele pegou corda porque os outros companheiros começaram a chamá-lo de ZÉ PELA-PAU.

Tornou-se um apelido muito chato. As pessoas perguntavam: Porque ZÉ PELA-PAU? Algumas conduziam o assunto para o lado sexual. Ele se armava para brigar. E quando ficava brabo olhava prá mim e dizia: a culpa é sua, seu palhaço.

Felizmente ele viu que não tinha jeito. Começou a admitir o apelido.

As vezes ele achava ruim quando jogando peteca, jogando sete pecado, ou jogando bola, alguém gritava: solta essa bola ZÉ PELA-PAU.

Ele se irritava. Fechava as mãos para brigar de murro. E soltando fogo pelas ventas ele chegava junto do sujeito: diga esse apelido de novo prá eu quebrar seus dentes. Ninguém tinha coragem de repetir porque ele quebrava mesmo.

Tem uma história do ESPÍRITO DE PORCO que também aconteceu comigo e com ZÉ PELA-PAU. Depois eu conto.

2 comentários:

  1. Prezado João Dino.

    A probabilidade de um apelido pegar é proporcional a maneira de encarar do apelidado. Se ele não se importa nada feito, se ele se zangar prega tal qual catarro em parede. hahahaha

    Abraços.

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  2. CONCORDO COM O COMENTÁRIO DO BLOG, LITERALMENTE.
    NUMA CIDADE DO ALTO PIRANHAS DA PARAÍBA, TEM UM CIDADÃO QUE SE AUTO APELIDOU DE "PEDRO DO RÁDIO". ESSE APELIDO NUNCA PEGOU.
    NA REALIDADE ELE BUSCOU NESSE APELIDO UM MEIO DE EXTORQUIR DINHEIRO DOS POLÍTICOS. OS CHAMADOS "DEPUTADOS PARAQUEDISTAS", SÃO AS VÍTIMAS.
    ELE SOBE NOS PALANQUES. E EM MEIO AQUELES FALSOS ABRAÇOS, AQUELES PEGADOS DE MÃOS, ELE VAI SE APRESENTANDO: MUITO PRAZER...PEDRO DO RÁDIO.
    DEPOIS QUE ELE SE APRESENTA O CANDIDATO FICA POUSANDO PRÁ FOTOS AO LADO DELE. E CONVERSA VAI, CONVERSA VEM, O CANDIDATO SEMPRE PRESTANDO ATENÇÃO, TENTANDO ENTENDER O QUE OS ORADORES DO COMÍCIO ESTÃO FALANDO. AQUELES DISCURSOS SEM RUMO E SEM PONTO FINAL. PEDRO DO RÁDIO DÁ O BOTE E APLICA O GOLPE DO "PAPEL DA LUZ". NORMALMENTE CAÍ UMA ONÇA (R$ 50,00), PUXADA DO BOLSO, PELA ORELHA. EM SEGUIDA ELE PEGA O BECO.

    UM DIA DEU ERRADO. PORQUE PEDRO NÃO RECONHECEU UM CANDIDATO QUE NASCEU E SE CRIOU EM CACHOEIRA DOS ÍNDIOS (ESSE LUGAR NUNCA TEVE CACHOEIRA E NEM ÍNDIO. O NOME DEVE TER SIDO UMA BRINCADEIRA DE ALGUÉM). O MALA FOI PARA A CAPITAL, JUNTOU DINHEIRO, E SE CANDIDATOU.
    QUANDO PEDRO DO RÁDIO SE APRESENTOU, TENTANDO APLICAR O VELHO GOLPE, O CANDIDATO DISSE. EM QUE RÁDIO VOCÊ TRABALHA? É NA DIFUSORA, NA ALTO PIRANHAS, NA OESTE, NA PATAMUTÉ OU NA ARAPUÃ? E DISSE MAIS: EU NUNCA OUVIU VOCÊ EM NENHUMA RÁDIO.
    PEDRO PERDEU AS ESTRIBEIRAS. NÃO. EU NÃO TRABALHO EM RÁDIO NÃO.
    O CANDIDATO BATEDOR DE CARTEIRA, MAIS ESPERTO DO QUE PEDRO PERGUNTOU: E PORQUE ESSE APELIDO DE PEDRO DO RÁDIO?
    PEDRO RESPONDEU: É PORQUE EU TINHA MANIA DE ANDAR COM UM RÁDIO COLADO NA MINHA ORELHA, AÍ BOTARAM ESSE APELIDO EM MIM.
    NESSA HORA O CANDIDATO, QUE TINHA ABRAÇADO E PEGADO NA MÃO DELE, FEZ FOI ESFREGAR A MÃO NA CALÇA PARA LIMPAR.

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