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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O ARRANCA RABO NO BATACLÃ - POR JOÃO DINO

Aquelas imagens e aquelas cenas no BATACLÃ, da novela Gabriela, de Jorge Amado, vocês pensam que é coisa de ficção. Mas eu, e meu violão, já vimos tudo aquilo, ao vivo e em cores.

Para evitar pesquisas, confrontações e conclusões precipitadas eu não vou citar nome de ninguém nessa história.

O ano 1982. A Cidade, Cajazeiras (PB), onde o Seresteiro João Dino apareceu no cenário artístico regional. Nessa época eu era novato no Banco do Brasil. E alguns funcionários do alto escalão do Banco estavam visitando a região do Alto Piranhas da Paraíba.

O telefone tocou na minha casa. Um colega do BB, que pouco tempo depois veio a ser meu compadre, padrinho da milha filha Gislânia, perguntou: João Dino, você toparia acompanhar um grupinho de amigos do BB que está aqui no Bar do Pirulito tomando umas cervejinhas? É claro, trazendo o seu violão para animar o ambiente?

Eu disse topo. Ele disse: pois venha.

Fui muito bem recebido. Comecei a cantar. Bastante aplaudido por todos. Demoramos no Bar do Pirulito umas duas horas. Alguém sugeriu mudar de lugar. Seguimos para a rua mais animada da Cidade, na época, a Camilo de Holanda.

Uma hora depois alguém sugeriu: vamos até o Bataclã das Mangueiras prá gente dançar um pouquinho por lá.

Foi a primeira vez que estive lá. Fiquei surpreso com a organização, com o comportamento e com tratamento das moças.

Não vou descrever o ambiente, nem entrar em detalhes, para não causar inveja a ninguém. Mesmo porque eu estava apenas acompanhando os meus chefes hierárquicos.

De repente meus amigos, o barulho de um automóvel lá fora perturbou a tranqüilidade. Uma mulher tentava subir a calçada. Voltava. Acelerava o carro. Fazia manobras arriscadas dando cavalo-de-pau no terreiro.

E descontroladamente, ela gritava e acenava para dentro do Bataclã, e dizia: Você não vem não? Eu só saio daqui com você, seu cachorro... imundo... seboso... falso...cretino... Todos esses adjetivos era apenas para o marido dela que estava lá, muito embriagado.

Isso durou cerca de 30 minutos. Essa mulher gastou meio tanque de gasolina. Pense num arranca-rabo.

Alguém tomou uma atitude e chamou a Madame para colocar a casa em ordem. Ela não levou mais do que um minuto. Encarou o Cidadão, causador do problema, arrastou ele pelo braço e o devolveu a sua esposa.

Eu vi tudo isso. Fiquei impressionado com a moral dela. Êta mulher resolvida. Eu coloquei o violão sobre a cadeira e fui ouvir o que ela estava conversando com a moça.

O ambiente ficou sereno. E só ela falava em tom moderado. Ela dizia assim: Eu não lhe avisei vagabunda, safada, nojenta... Eu não lhe adverti que esse homem não era conveniente para você...

Nesse momento eu fiquei morrendo de pena da moça.

Ela só fazia chorar o tempo todo e dizia: E a gente adivinha Madame. Não tinha nada escrito na testa dele. Eu não sabia que ele era comprometido...

A Madame respondia: sabia sim... Eu lhe adverti... Eu lhe avisei. Você caiu de besta e de fuleira que é. Onde já se viu... Fazer eu passar uma vergonha dessa na frente dos meus fregueses do BB. Eu lhe disse mais de uma vez que esse homem não era para o seu bico. Um homem limpo. Um homem com cabelo bem penteado. Bigode bem aparado. Bem vestido. Bem calçado... É claro que um homem desse não dá certo para nenhuma de nós aqui do Bataclã.

E continuou. Homem que a gente deve pegar e segurar é o que tem dinheiro, mas chega aqui carente, mal amado, despenteado, bigode sujo, cabelo no nariz, cabelo nas orelhas, cabeça cheia de caspa, e, principalmente – Nessa hora ela levantou a voz e soltou o verbo -, com espinhas maduras no rosto. Você entendeu?

Minha filha, o homem quando começa a usar óculos, ele não ver as espinhas na cara. A mulher é que tem a obrigação de espremer aquela espinha madura e fazer uma limpeza no rosto dele.

Se a dona dele não faz essas coisas que eu estou lhe dizendo, o caboclo vai se apaixonar e se entregar de corpo e alma a primeira mulher que tomar essas providências.

Sinceramente. Ouvir essa orientação de uma mulher semi-analfabeta me tocou demais. Eu fiquei outra vez impressionado.

Naquela hora eu pensei... A experiência dessa Madame eu vou retransmitir para todas as minhas amigas. Tem delas que só levam o tempo em cuidar dos afazeres domésticos, da escola dos meninos, do emprego... Nem se lembram que o marido existe... Eu vou abrir os olhos de todas elas.

Um comentário:

  1. Experiencia antiga da Madame. É por aí mesmo. Morrendo de ri com o arranca rabo.

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