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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

SEXTA DE TEXTOS - Sávio Pinheiro

LEITE COM GOSTO DE CHUVA

Dedico ao Dr. Hermicésar


Inácio e Raimundo. Dois homens íntegros e de personalidades fortes. O primeiro, funcionário público temporário e comerciante. O outro, vendedor de leite, na informalidade, e agricultor. Ambos, senhores de pura ascendência e de prole dedicada. Atores sociais importantes no cenário sócio-cultural da cidade.


Os protagonistas pertenciam a um mesmo Clube de Serviços e viviam sempre discutindo os problemas da comunidade local e tentando solucioná-los através de campanhas publicitárias, de visitas domiciliares ou através da imprensa, divulgando ou reinvidicando algum donativo para famílias carentes.


O Inacinho, como era chamado o primeiro cidadão, tinha um filho que era uma peste. Traquino, danado, desobediente, impulsivo e malino. Mexia com idosos, adultos e crianças de ambos os sexos. Os professores sofriam com os seus hábitos intempestivos, não sabendo como contorná-los e o seu pai, com certa frequência, tinha que intervir, diplomaticamente, para descascar alguns pepinos.


Paralelamente, o Raimundo também tinha um filho, com o mesmo nome seu, que possuía todos os adjetivos do filho do Inacinho, somando-se mais três quilogramas de ruindade. Peço aqui ao leitor, educadamente, para fazer a conta. Um fedelho gordinho e sem freio.


Corria, na cidade, um boato, que tanto o filho do Inacinho como o do Raimundo possuíam a fama de sabotar o trabalho dos pais na pauta de suas brincadeiras. As más línguas argumentavam que o Raimundo Filho colocava água no leite, que o seu pai vendia; e que o Lannuci, o outro pestinha, urinava dentro do copo do pluviômetro, que o seu pai media.


Certa vez, o senhor Raimundo Leandro, durante um sesão do Clube de Serviço, assume a presidência do mesmo em substituição ao titular do cargo, que teve de ausentar-se por problemas de saúde. Como estava em época invernosa, o novo dirigente, para mostrar serviço, resolve abordar a temática dos índices pluviométricos regionais, os quais quando comparados aos da municipalidade se tornavam inconpatíveis com a realidade.


Discussões à parte, o Presidente em Exercício daquela entidade resolve, por força do cargo e das circunstâncias, abordar o sincero e honesto Inacinho: - É verdade, o boato que corre na cidade, que você bota água no pluviômetro, com o objetivo de aumentar o tamanho da chuva da sua cidade, só para fazer inveja ao povo do Cedro?


O baixinho e invocado Inacinho, diante daquelas palavras mais que ofensivas para ele, responde-lhe em tom forte e contundente, sem se intimidar: BOTO, MAS NÃO VENDO!

4 comentários:

  1. Dr. Savio.

    Muito boa a historia do Inacinho e do Raimundo Leandro. Duas personalidades prestimosas que gozaram da admiração e estima de nossa gente. Parabens pelo resgate.

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  2. Várzea-Alegre é cheio de humoristas. Apesar de conhecer a história, mas relembrar um fato acontecido entre dois ilustres cidadãos do bem faz bem ao coração. Dr Sávio peço-lhe que conte se souber a de Inacinho do terno que ele tomou emprestado e foi participar de um jurado. Se não souber com certeza Morais sabe.

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  3. Morais,

    Esses dois cidadãos eram membros de um mesmo clube de serviços e eram muito amigos, mas deu água...

    Um abraço.

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  4. João Bitu,

    Que bom... você de volta!
    Investigarei a sua história.

    Um abraço.

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