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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 2 de novembro de 2014

Luiz Lua Gonzaga - Parte V - Por Antonio Morais

Os primeiros vous da Asa Branca - Postagem e vídeo dedicado a professor Antônio Dantas.

Região: Asa Branca foi e é a composição mais laureada, mais difundida dentro e fora do Pais. É tida como uma especie de hino nacional da musica popular brasileira. É natural que lhe perguntemos: como surgiu a notável composição?

Gonzaga - Quando menino, aqui em Exu, eu era também um moleque fazedor de musica. Naquela época não existia desenvolvimento cultural capaz de induzir na gente a importância daquilo que se estava produzindo. Era um fazer por um simples fazer. Mesmo assim, aquelas mais do agrado do povo eram por ele selecionadas e guardadas. Eram sempre as mais simples. Essas coisas que fazia com a ajuda do meu pai Januário, principalmente na conclusão da frase, saia cantando, por aí, nos forros de pé de serra. Foi nesta fase de minha adolescencia que me inspirei para fazer Asa Branca. Corria uma das grandes secas no Nordeste, castigando duramente o sertão. Interessante é que, ao chegar ao Rio, em 1939, quando tentava conseguir fazer algo como sanfoneiro, frequentava a zone do Mangue e, nos fins de semana, aqueles famosos programas de calouros de Ary Barroso. Quando comecei a tocar era um verdadeiro assassino. Assassinava grandes compositores e cantores como Carlos Gardel, Frazão e Násser, Pedro vargas, Elvira Rios, tentando imita-los, pois, para mim, o importante era tocar e cantar coisas modernas, de gente grande e famosa.

Quem estava na moda, evidentemente, era essa gente toda. O negocio era imitar, sem dar bolas para aquilo que, na verdade, me levou a fama e ao sucesso dos dias atuais: a musica popular, a musica do meu pé de serra. tempos depois foi que acordei para realidade. Nessa fase de transformação, de passagem de um pólo para outro, quando imitava os interpretes famosos da musica moderna, musica erudita, muito devo a um grupo de cearenses. Foi o seguinte: O cafe onde eu tocava era muito frequentado por estrangeiros. Principalmente marinheiro. Nessa época o mundo inteiro usava o mar, o principal meio de transporte era marítimo. Isso na década de trinta, para começo de quarenta. Nesse ambiente, eu ganhava um dinheirinho dos gringos.

È aí que entra a historia dos estudantes cearenses, universitarios. Esse grupo tinha uma republica na Lapa e sempre ia assistir-me. Depois que fizeram intimidade comigo, passaram a exigir tocasse musica daqui, musica do sertão. Insistiram a ponto de ameaçarem que jamais, a partir daquela data, me dariam dinheiro, como vinham dando, numa colaboração com as minhas apresentações no citado local. Disse para eles que aquilo não dava, musica sertaneja não dava para aqueles ambientes, e mesmo eu queria tocar musica de gente, musica de sucesso.

Dias depois, apos meditar muito, resolvi mudar de ideia. Em casa, preparei algo como eles gostariam de ouvir. Preparei um forró bruto mesmo, legitimo do pé de serra. Quinze dias depois, para surpresa minha e da rapaziada do Ceará, lancei a musica que tinha preparado, e foi aquele sucesso. O local ficou apinhado de gente que foi preciso o dono do bar chamar a policia para manter a ordem, pois todos queriam ver a minha presentação do puro baião, do puro forró. Nesse dia, como costumava fazer, coloquei um pires para receber as contribuições dos presentes. Encheu ligeirinho, ligeirinho. Findei enchendo uma bandeja. A vibração dos estudantes foi maior do que a minha. Bom, velho, boa, cabra paidegua. Não lhe dissemos? Daí pra frente as coisas começaram a andar com maior rapidez. Tempos depois estava diante daquela figura admirável de Humberto Teixeira.

Creusa Morena - Valseado.


2 comentários:

  1. A próxima postagem fecharemos com o vídeo da musica e com a historia de Asa Branca. Em seguida faremos duas postagens com a historia do cantor e do compositor Jose Clementino.

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  2. Morais, mas uma vez obrigado. Assisti o filme sobre a vida de Luiz Gonzaga, muito bom! Merece ser visto e apreciado pelo candor, pelas vitórias e derrotas de um homem que acreditou nele e no que era capaz. Dá orgulho e enche os olhos de lágrimas também. Antonio Dantas

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