Fotos: Google
O JUMENTINHO BRANCO
Azulão era um asno perfeito. Dinâmico, trabalhador, humilde, dócil e duplamente feliz. Primeiro, por ganhar honestamente o pão de cada dia com o fruto do seu trabalho e segundo, por carregar no seu currículo, a honra de ser um autêntico descendente do animal que conduziu a Sagrada Família até a cidade de Belém, berço do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Zé da Botija, o seu dono, assim o era chamado, pelo fato de ser o protagonista de uma lenda, em que possuía um tesouro enterrado nos confins de suas improdutivas terras. O avarento Zé era exatamente o oposto do seu fiel trabalhador Azulão. Ele era preguiçoso, letárgico, prepotente e duplamente infeliz. Primeiro, por não ter uma companheira, que dividisse com ele as alegrias e as angústias da vida e segundo, por ser odiado e ridicularizado por todos.
Sendo a avareza um dos sete pecados capitais, o ganancioso Zé se tornara um pecador insuportável, sem nenhuma chance de salvação. Pois, além de possuir uma enorme dificuldade de abrir mão do que tinha, mesmo que com isso recebesse algo em troca, era uma pessoa extremamente egoísta.
Conta a fábula, que ele observando a lucrativa produção do seu jumentinho, resolveu lhe retirar a metade do seu alimento, para averiguar se haveria alguma mudança na sua produção diária. Ideia consolidada. Ato praticado. Produção inalterada. Sucesso empresarial confirmado. Semana seguinte, repete o mesmo ato insano. Produção satisfatória. Mês seguinte, uma outra investida semelhante. Idêntica produção; apesar do registro de uma pequena perda de peso do despretensioso animal. Finalmente, quando o desalmado avarento tenta a sua quarta investida, sente o trágico resultado da sua sórdida perversidade. O meigo e fiel Azulão, aquele que carrega, através dos tempos, aquela cruzinha escura nas costas, sucumbe por maus tratos, repetindo a via sacra do homem que morreu para nos salvar.
Paralelamente à história do saudoso Azulão, observa-se uma metáfora, que está longe de ser lenda, por ter uma contemporaneidade extremamente exibível. O Sistema Único de Saúde, depois do Processo de Descentralização, que imaginávamos ser mais resolutivo, por ficar mais próximo às massas populares, tem nos pregado peças inimagináveis.
O médico, que trabalha em hospitais de pequeno e médio porte, está passando por uma situação muito parecida com a do jumentinho Azulão. Senão vejamos, costumava-se atender, nesses serviços médicos, uma média de setenta a oitenta pessoas num plantão de vinte e quatro horas, o que se achava um despropósito e uma agressão ao binômio médico-paciente, já que a média preconizada pelo Ministério da Saúde é de desesseis pacientes por turno de trabalho, perfazendo uma média de quinze minutos por paciente.
Atualmente, com a presença constante da Dengue, dos Resfriados Comuns, das Alergias Respiratórias, das Quedas de Motoqueiros Bêbados e sem Capacetes, dos Celurares e dos Mototaxistas de Plantão a média de atendimento médico nestes hospitais deu um salto para mais de cento e cinquenta pessoas por dia. Os Diretores de Hospitais, Secretários Municipais, Prefeitos, Governadores, Deputados, Senadores e o Ministro da Saúde podem confirmar estes alarmantes dados.
Todavia, esse número assustador de atendimentos não surgiu de imediato. Ele vem crescendo de forma gradativa, porém rápida. De oitenta passou para cem e de cem para cento e vinte. Por sorte médica, surge o stent: uma prótese expansível de metal, que é inserida dentro de uma artéria do coração evitando o seu entupimento e futuro enfarte. De cento e vinte passou para cento e cinquenta. Então aparece a salvadora Revascularização Cardíaca, denominada de Pontes de Safena ou Mamária, operando verdadeiros milagres.
Hoje, com os descendentes de Zé da Botija em atividade, já se ultrapassa a cifra dos cento e sessenta pacientes atendidos em um único dia, em hospitais de pequeno porte. E os médicos, cada vez mais estressados, engrossam as estatísticas dos enfartes, tromboses e acidentes de trânsito provocados pelo sono excessivo advindo das longas jornadas de trabalho mal remuneradas. Alguns, já começando a dormir o sono dos justos... A fábula acabou. O jumentinho branco morreu!
Zé da Botija, o seu dono, assim o era chamado, pelo fato de ser o protagonista de uma lenda, em que possuía um tesouro enterrado nos confins de suas improdutivas terras. O avarento Zé era exatamente o oposto do seu fiel trabalhador Azulão. Ele era preguiçoso, letárgico, prepotente e duplamente infeliz. Primeiro, por não ter uma companheira, que dividisse com ele as alegrias e as angústias da vida e segundo, por ser odiado e ridicularizado por todos.
Sendo a avareza um dos sete pecados capitais, o ganancioso Zé se tornara um pecador insuportável, sem nenhuma chance de salvação. Pois, além de possuir uma enorme dificuldade de abrir mão do que tinha, mesmo que com isso recebesse algo em troca, era uma pessoa extremamente egoísta.
Conta a fábula, que ele observando a lucrativa produção do seu jumentinho, resolveu lhe retirar a metade do seu alimento, para averiguar se haveria alguma mudança na sua produção diária. Ideia consolidada. Ato praticado. Produção inalterada. Sucesso empresarial confirmado. Semana seguinte, repete o mesmo ato insano. Produção satisfatória. Mês seguinte, uma outra investida semelhante. Idêntica produção; apesar do registro de uma pequena perda de peso do despretensioso animal. Finalmente, quando o desalmado avarento tenta a sua quarta investida, sente o trágico resultado da sua sórdida perversidade. O meigo e fiel Azulão, aquele que carrega, através dos tempos, aquela cruzinha escura nas costas, sucumbe por maus tratos, repetindo a via sacra do homem que morreu para nos salvar.
Paralelamente à história do saudoso Azulão, observa-se uma metáfora, que está longe de ser lenda, por ter uma contemporaneidade extremamente exibível. O Sistema Único de Saúde, depois do Processo de Descentralização, que imaginávamos ser mais resolutivo, por ficar mais próximo às massas populares, tem nos pregado peças inimagináveis.
O médico, que trabalha em hospitais de pequeno e médio porte, está passando por uma situação muito parecida com a do jumentinho Azulão. Senão vejamos, costumava-se atender, nesses serviços médicos, uma média de setenta a oitenta pessoas num plantão de vinte e quatro horas, o que se achava um despropósito e uma agressão ao binômio médico-paciente, já que a média preconizada pelo Ministério da Saúde é de desesseis pacientes por turno de trabalho, perfazendo uma média de quinze minutos por paciente.
Atualmente, com a presença constante da Dengue, dos Resfriados Comuns, das Alergias Respiratórias, das Quedas de Motoqueiros Bêbados e sem Capacetes, dos Celurares e dos Mototaxistas de Plantão a média de atendimento médico nestes hospitais deu um salto para mais de cento e cinquenta pessoas por dia. Os Diretores de Hospitais, Secretários Municipais, Prefeitos, Governadores, Deputados, Senadores e o Ministro da Saúde podem confirmar estes alarmantes dados.
Todavia, esse número assustador de atendimentos não surgiu de imediato. Ele vem crescendo de forma gradativa, porém rápida. De oitenta passou para cem e de cem para cento e vinte. Por sorte médica, surge o stent: uma prótese expansível de metal, que é inserida dentro de uma artéria do coração evitando o seu entupimento e futuro enfarte. De cento e vinte passou para cento e cinquenta. Então aparece a salvadora Revascularização Cardíaca, denominada de Pontes de Safena ou Mamária, operando verdadeiros milagres.
Hoje, com os descendentes de Zé da Botija em atividade, já se ultrapassa a cifra dos cento e sessenta pacientes atendidos em um único dia, em hospitais de pequeno porte. E os médicos, cada vez mais estressados, engrossam as estatísticas dos enfartes, tromboses e acidentes de trânsito provocados pelo sono excessivo advindo das longas jornadas de trabalho mal remuneradas. Alguns, já começando a dormir o sono dos justos... A fábula acabou. O jumentinho branco morreu!
Leitores,
ResponderExcluirEsses dias de 2011, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realizou um estudo, que teve por objetivo principal avaliar a percepção da população sobre os serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na percepção dos usuários do sistema, confirmou-se o desejo da população em se aumentar o número de médicos, na tentativa de redução do tempo de espera entre a marcação e a realização da consulta, para que esta possa ter um mínimo de qualidade e dignidade. O deficit desse profissional é enorme, o que implica, de forma impiedosa, na sobrecarga de trabalho do profissional da saúde.
Prezado Dr. Savio.
ResponderExcluirEste quadro que voce apresenta não é de hoje, vem de muito tempo. O pior de tudo é que ha apenas 6 meses atras, toda midia decantava um mundo encantado por parte do Governo no setor saude. O dinheiro que deveria ser investido na saude foi pago para midia apresentar uma versão bem ao contrario das realidade. O povo aceitou e aceita pacificamente. Não duvido que apareça algum apaixonado para afirmar que a culpa é dos medicos etc, etc. Parabens pela postagem.
Sávio,essa bela fábula seria enteressante se pudesse ser publicada no jornal do CFM.Você como autoridade em SUS já provou isso,nas suas palestras pelo o Brasil afora,pelo menos tá denunciando a exploração do profissional médico pelo o sitema de ´saúde do nosso país.
ResponderExcluirDr. Sávio, concordo com o pensamento de vocês e assino embaixo. Tá tudo errado mesmo. Quando iniciei na leitura da fábula já previ a morte do animal e sei que a saúde no Brasil não esta diferente da educação. E o que quer uma professora se metendo em saúde?
ResponderExcluirDei minha resposta naquele comentário, mas isso aqui não chat.
Um abraço.
Morais,
ResponderExcluirAs autoridades para amenizarem o deficit profissional e salarial existente na saúde do nosso país necessitam, além de inúmeras manobras, regularizar a Emenda Constitucional 29 que já está em pauta.
Rolim,
O problema da classe médica e da população se agrava a cada dia. Necessitamos de uma solução urgente.
Artemísia,
A intersetorialidade é um dos princípios básicos do SUS, portanto é bastante pertinente o seu comentário. Saúde e Educação precisam andar juntos para colhermos melhores frutos.
Um grande abraço.
Dr. Sávio Pinheiro
ResponderExcluirSei que sua luta em defesa da recuperação do SUS vem de longe. Ouvi de sua própria boca, que quando ainda era residente via crescer o SUS e tinha grandes perspectivas de dar certo. Declarou também que acreditava nisso, mas deixou claro sua decepção com o que se ver atualmente. O que vemos hoje é o sistema matando a esperança de no futuro termos um sistema de saúde decente. Agora basta saber quem será o Zé da Botija dos médicos.
Amigo Francisco,
ResponderExcluirO problema do SUS não é a falta de recursos, mas de prioridade. Os economistas temem o engessamento da fonte financiadora do sistema, e por conta disso, conseguiram engessar os profissionais e os pacientes. Esperemos a EC 29.
Um abraço.