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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 15 de junho de 2011

EU PREACAVA NA GINELA - Por Mundim do Vale.

Essa também aconteceu na cidade de Várzea Alegre, mas por questão de ética, eu troquei o cenário e os personagens, para obedecer ao dito popular
Que diz:

EM CASA DE ENFORCADO
NUNCA È BOM FALAR EM CORDA

O casal Cornélio e Generosa comprou dois hectares de terra na área urbana da cidade e construiu uma casa no centro, deixando um bosque de fruteiras circulando a moradia.
Na cidade morava Paulo de Sinhá, que era mais conhecido por Alemão. O apelido ele ganhou porque além de falar muito enrolado, ele era alto e vermelho, assim como os filhos de Dona Clara. Alemão era do tipo mineiro, falava pouco e escutava muito. Se fazia até de doido para não entrar na fila de receber o leite que o padre distribuía para os pobres.
Cornélio mais Generosa com pena de alemão que não tinha onde morar, doaram um pedaço do terreno onde ele construiu uma casa de taipa pouco maior do que uma de botão. Assim que Alemão ocupou o barraco começou a surgir uma conversa de que ele tinha um caso com Generosa. Como Cornélio viajava muito para vender legumes na feira de Icó, o assunto começou a ganhar um certo interesse popular.
Na usina Roriz, onde Alemão trabalhava, quando os colegas falavam no assunto ele negava categoricamente:
- Alemão! É verdade qui tu tá se fornecendo na casa de Seu Cornélio?
- Qui é isso ome? Eu nunca cruzei meus pé na porta de Dona Generosa.
Outro amigo perguntava:
-Ei Alemão! É divera qui Dona Generosa tá sendo muito Generosa cum tu?
- Magina se eu tinha corage! Dona Generosa é uma muié prendada, ela lá ia querer chafurdo cum um casca grossa qui nem eu.
Outro companheiro; - Num negue não alemão. Tu anda mermo, ou num anda cum iscandelo pru lado daquela muié? Todo mundo já sabe qui tu anda acunhando ela.
- Eu mermo nunca pisei meus pé na calçada dela. Alemão negava, negava e negava.
Conversando num salão de fazer unhas uma vez, Generosa disse que adorava bolo ligado e Crush. Por coincidência ou não, toda noite Alemão passava com um pedaço de bolo e um Crush, com essa nova descoberta a fofoca ficou de boca em boca. Logo em seguida a essa fofoca, Rosa de Tuca que trabalhava na casa do casal, chegou com uma conversa na lavanderia coletiva que assanhou mais a especulação. Conversando com Rita de Borrego ela disse:
Tu acha muié? Lá im casa ninguém fuma e já é a segunda vez qui eu acho uma ponta de cigarro globo, bem dibaxo da ginela qui dá pru quarto da patroa, será qui a patroa anda pondo no mato?
- Neguinha cum certeza ela tá. Pruque tu num precura saber quem é o galo qui anda ciscando lá no terreiro?
- Eu não, vigia! O ome qui eu vejo lá é só Seu Cornélio.
Depois desse papo da lavanderia o boato espalhou-se mais do que bolinha de termômetro em piso de cerâmica.
Os colegas de Alemão cada vez mais amparados com os boatos, não paravam com as perguntas tendenciosas:
- E aí Alemão. Tu tá ou num tá quebrando o jijum cum Generosa?
- Já tá bom de acabar cum isso! Eu sempre arrespeitei Dona Generosa. Eu já dixe num sei quantas vez, eu nunca cruzei meus pe´na porta dela.
Outro colega disse:
- Num adianta mais tu negar não Alemão. Ela merma já se descuidou e dixe lá no açougue. Diga logo, tu abaicou ou num abaicou.
- Eu num já dixe. Eu nunca butei os pé na porta dela.
- E Cuma era qui tu fazia prumode moíá o biscoito?
Alemão sem mais nenhum contra-argumento resolveu abrir o jogo:
- EU PREACAVA NA GINELA.


Reprisado para: Aqueles que estão chegando agora.

9 comentários:

  1. Mundim essas coisas existem derna do outro tempo.

    Quando saiu a historia que um certo cidadão arrastava asa para uma cidadã houve este comentario: homem acaba com essa conversa que fulano é serio! É muito serio, mas fulana não é.

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  2. MAIS UMA DAS EXECELENCIAS DO MUNDIM. MAS UMA COISA QUE ME FAZ RI E EU ME LIGO BASTANTE É NOS DETALHES ENGRAÇADOS; O FUXICO SE ESPALHAR MAIS QUE AS BOLINHAS DO TERMÔTERO QUEBRADO EM PISO DE CERAMICA .. FOI MUITO CRIATIVA VALEU GIGANTE.....

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  3. Mundim, suas postagens são sempre muito boas e essa não fica atrás.
    Sinto-me englobada em sua dedicatória, pois estou chegando agora e cheguei pra ficar.
    Um abraço.

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  4. è Ilana, venha e fique por aqui que o Sanharol ainda tem muitas coisas lá de nós, que seu pais ainda não contaram.
    Abraço lá denós.

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  5. Raimundinho, você sempre muito criativo e cativante, já conquistou a Ilana, com certeza.
    Quanto "À PREACA..." ela riu muito!
    De vez em quando a gente conversa sobre esse vocabulário lá de nóis!
    Abraços.

    Desculpe-me, o comentário em nome da Ilana foi removido por ser feito por mim e não por ela.

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  6. Prezado Claudio.

    Em termos de termos engraçados lá vai: Iscandelo - bolo ligado com crusih - quebrando o jijun - abaicou etc.

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  7. Mundim, suas histórias mesmo reprisadas me levam de volta à Serra verde do meu tempo...O palavreado é o mesmo...

    Vôte,abaica essa istora qui Dona Generosa era pra lá de caridosa... (risos). E Seu Cornélio faz jus ao nome.

    Abraço de fulô,

    Claude - Flor da Serra verde.

    P.S. - Tem fulô por aí achando que tu tá se esquecendo de ser jardineiro...

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  8. Mundim, o galego era de uma ética a toda prova: gostei do danado, rsrsrs. Abraço carinhoso e fraterno, da amiga Fatima

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  9. Que bom Flor da Serra Verde. Que você também viveu as coisas lá de nós.
    Diga para a Flor de Lís, que não estou esquecido não. Eu vou passar alguns dias em casa e aproveito para retomar as coisas nossas,
    Abraço para as flores.
    Jardinjeiro do Jatí.

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