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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 7 de março de 2014

Os cupins da democracia - Por Everardo Maciel


A ação dos cupins é lenta, persistente, eficaz e de difícil enfrentamento, sem que se saiba ao certo quando ela alcança um estágio de letalidade, a despeito de algumas evidências.

A democracia brasileira, a “plantinha tenra” no dizer de Octavio Mangabeira (1886-1960), está sujeita a “cupins” que podem minar a festejada estabilidade institucional, condição indispensável à construção do desenvolvimento. O mais letal desses cupins é a violência disseminada contra as pessoas e contra a propriedade.

A violência pode ser admitida, ainda assim sujeita a regramentos, em situações extremas, como a guerra, a insurgência contra a ruptura do estado democrático de direito ou a ação legítima do Estado justamente para deter a própria violência.

O acelerado processo migratório interno para as médias e grandes cidades, a partir dos anos 1960, produziu grandes bolsões de pobreza no entorno das maiores cidades, correspondendo a verdadeiras zonas de exclusão social, sem lei e sem Estado.

Assim, as cidades brasileiras, relativamente seguras no passado, foram, nas últimas décadas, se convertendo em territórios do crime, desde os de baixo poder ofensivo, como as pichações, até a banalização dos assaltos, os sequestros, os arrastões, as explosões de caixas eletrônicos, as agressões de fundo homofóbico ou racista, etc.

Os ricos tentam se proteger com seguranças armados, carros blindados e condomínios que mais parecem fortalezas. Já os pobres, porque indefesos, se tornam, não raro, reféns da marginalidade.

A tudo isso, se soma a violência contra a propriedade. Movimentos políticos, que se autoqualificam como sociais, na busca bem-sucedida por financiamento público, sentem-se investidos no direito de invadir propriedades privadas e edifícios públicos.

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