O governo Dilma Rousseff, por suas virtudes e por seus defeitos, fez o que a oposição nunca conseguiu. Nem mesmo com a ajuda do mensalão. A cinco meses das eleições, o patrimônio político construído por Lula está sob ameaça.
Não é uma situação surpreendente. Em fevereiro do ano passado, em artigo publicado aqui mesmo, dizíamos que o favoritismo de Dilma estava ameaçado por conta de uma mistura de fatores econômicos, políticos, gerenciais e sociais.
O meu vaticínio está se concretizando. Porém, as pesquisas mostram uma admirável resistência de Dilma aos insucessos de seu governo. Ela consegue ficar na dianteira e, até mesmo, com chance de vencer no primeiro turno.
Isso significa que a presidente está sendo beneficiada pela força de uma marca que se impôs sem competidores por 12 anos: os programas sociais do PT e o aplicativo eleitoral manejado por Lula, que governou o tempo inteiro em cima do palanque.
Mas é preciso fazer mais, principalmente para atender os cidadãos recém-integrados ao mercado interno e calibrar a economia, departamento do governo que menos responde às expectativas de ricos e remediados e já começa a desagradar aos pobres por conta da inflação.
Os indicadores eleitorais, apesar da perda de pontos de Dilma, mostram que o eleitorado ainda não comprou a ideia mudancista. Mas, em um cenário altamente volátil e instável, tudo pode mudar rapidamente.
A comunicação – arma de elevado sentido político e grande dependência tecnológica – continua sendo operada com cabeça de publicitário, quando o caminho não é este. O governo ainda não valoriza as redes sociais como deveria. Nem consegue mostrar, pelos veículos tradicionais, uma administração em movimento. Parece que funciona aos trancos e barrancos. Segue ao contrário a máxima de Ricupero: o que é ruim a gente mostra, o que é bom a gente esconde.
No entanto, o crescimento do movimento “volta, Lula” é o fator que mais fragiliza Dilma neste momento. Mais do que os soluços da inflação. Mais do que a precária capacidade de comunicação do governo. Ambos fatores aparentemente sem solução a curto prazo.
O manifesto de 20 deputados do PR pedindo a volta de Lula à Presidência é um pálido sintoma do desejo ardente de muitos. A maioria esmagadora da base governista prefere Lula a Dilma. A questão é como fazer a omelete sem quebrar os ovos!
Substituir Dilma não fácil. Ela não vai tão mal a ponto de poder ser simplesmente defenestrada. Nem tão bem a ponto de ser querida por unanimidade.
O ideal para a base governista é que Dilma e seu governo comecem a se comunicar mais e melhor e, sobretudo, que apresentem melhores resultados no campo econômico. Além disso, que ampliem as bases de diálogo e não abusem da paciência da maioria que ainda apoia sua gestão.
Para a oposição, continuando do jeito que está, o segundo turno parece ser inevitável. E, em acontecendo, haverá briga de faca em quarto escuro.
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