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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O apagão de Dilma - Por Ricardo Noblat


Alto lá! Não culpem Levy por pensar como pensa e agir com coerência. Ele não mercadejou o próprio passe. Estava em sossego como executivo bem pago do Bradesco.

Fez à presidente Dilma Rousseff o favor de aceitar o convite para ser ministro da Fazenda, ganhando menos do que ganhava. E para quê? Para virar saco de pancada dos supostos aliados de Dilma?

E sem que ela o defenda? Por que não batem nela?

Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, foi o primeiro a apanhar. Disse lá qualquer coisa que desagradou a Dilma. Acabou obrigado a se corrigir.

Depois foi Eduardo Braga, ministro das Minas e Energia. Caiu na armadilha de responder a perguntas na base do “se”.

Uma vez que dissera que não há racionamento de energia à vista, foi confrontado pela pergunta óbvia: “E se não chover o suficiente?”

Se não chover o suficiente o racionamento será inevitável, respondeu Eduardo. Alguém mais esperto escaparia com a resposta clássica: “Não posso raciocinar sobre hipóteses”.

O racionamento ganhou manchete de jornal. Eduardo levou um carão do seu colega Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil. Abandonou Brasília em silêncio.

Então chegou a vez de Levy. Como Dilma preferiu ir à posse do xamã Evo Morales, presidente da Bolívia, Levy voou a Davos, na Suíça.

À vontade no Fórum Econômico Mundial, admitiu que o Brasil possa atravessar uma leve e breve recessão. Tamanho cuidado com as palavras de pouco adiantou.

A poderosa senhora, que se julga uma economista de primeira, mandou Levy substituir “recessão” por “retração”.

Mas não ficou só nisso. Em entrevista ao jornal britânico “Financial Times”, Levy afirmou que “está ultrapassado” o modelo de seguro-desemprego no Brasil. Ah, para quê...

Foi logo mexer com o social, área que Dilma garantira durante a campanha ser intocável. Não mudaria nem que a diabo tossisse.

Diabo, não. Vaca. O diabo foi citado em outro contexto. Por ela ou por Lula, não lembro agora. Nem quero me socorrer do Google.

Dilma (ou Lula) faria o diabo para vencer a eleição presidencial.  E assim foi. Pintou, bordou e mentiu sem dó. Ganhou por pouco.

De volta ao “ultrapassado” modelo de seguro-desemprego. O Ministério da Fazenda emitiu nota dizendo que a declaração de Levy tivera como objetivo “ampliar o debate pela modernização das regras desse benefício”. Dilma não considerou suficiente. 

Mandou que o ministro Miguel Rossetto, da Secretaria Geral da presidência da República soltasse nota chamando o seguro-desemprego de “conquista civilizatória”. Algo que, certamente, tem a ver com “pátria educadora”, novo slogan do governo.

Levy engoliu a nota a seco. Está dando para fazer o que planejou. E até com rapidez. Quanto a Dilma... Emudeceu. Retornou à clandestinidade. Parece envergonhada.

Afinal, entregou o comando da economia a um banqueiro que assessorou a campanha de Aécio Neves (PSDB-MG).

Seguiu a receita de Lula, que ao se eleger pela primeira vez, escalou um banqueiro do PSDB para o comando do Banco Central. No Ministério da Fazenda pôs Antonio Palocci, que não entendia de economia, mas que era do PT.

Ocorre que Dilma não é Lula.

Não tem o carisma dele, nem a habilidade, nem a liderança, nem o cinismo para culpar seus adversários por qualquer erro.

Lula faz política com prazer. Dilma detesta. Lula afaga os aliados até quando os contraria.  Dilma espanca.  Lula governou com o gogó. Dilma usa o gogó para repreender auxiliares.

Pode dar certo? Não sei. Divertido está. Não tem preço ver petistas da gema estupefatos. Sem voz. Como Dilma.

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