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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 25 de maio de 2016

O que assombra a República - Por Ricardo Noblat


O ministro Teori Zavascki homologou, ontem à noite, a delação premiada do ex-senador pelo PSDB do Ceará e ex-presidente por 12 anos da Transpetro, o empresário Sérgio Machado.

Nada mais, pelo menos por enquanto, assombra tanto a República dos que as gravações feitas nos últimos meses por Machado em conversas com políticos do PMDB. Mas não só.

Ao que se sabe, nenhum dos delatores da Lava-Jato saiu por aí com um gravador à caça de provas que pudessem confirmar suas confissões.

Machado foi o primeiro. Ou, se preferirem, o segundo. A primazia cabe a um assessor do ex-senador Delcídio do Amaral que gravou o então ministro Aloizio Mercadante, da Educação.

Há, porém, uma diferença. O assessor gravou uma única conversa. E o fez apenas para defender o seu patrão. Não tinha o propósito de causar danos a Mercadante, que mal conhecia.

Muito diferente de Machado, que gravou para se defender mesmo que à custa de prejudicar alguns dos seus maiores amigos e, até o ano passado, protetores.

E logo Machado, que morria de medo de ser gravado. Como presidente da Transpetro, uma subsidiária da Petrobras, ele evitava usar celular para conversas sérias. Usava o telefone fixo.

E, com frequência, mandava fazer varreduras à procura de grampos em seu gabinete e demais dependências da empresa onde promovia reuniões.

Acusado de ter recebido propinas, com receio de que o cerco da Lava-Jato a ele pudesse alcançar sua família, concordou em delatar e foi à luta de gravador no bolso.

Sua primeira vítima foi o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que perdeu o Ministério do Planejamento por ter aparecido em uma conversa com Machado conspirando contra a Lava-Jato.

Ao que tudo indica, suas próximas vítimas serão os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Edison Lobão (PMDB-MA). Renan responde a uma dezena de inquéritos no Supremo Tribunal Federal.

Lobão é investigado pela Lava-Jato sob a suspeita de ter embolsado uma fortuna quando foi ministro das Minas e Energia do governo Dilma. A Petrobras é ligada ao ministério.

É possível que Machado tenha gravado também conversas com o ex-presidente da República José Sarney. Mas quem conhece bem Sarney duvida que ele tenha dito algo capaz de embaraça-lo.

Jucá, Renan e Lobão têm fórum especial porque são senadores. Só poderão ser processados pelo Supremo. Sarney não tem por carecer de mandato. Ficará sujeito ao juiz Sérgio Moro.

Desde que Jucá caiu, Machado recolheu-se à sua casa e desligou o celular. Só atende ligações em telefones fixos, e só depois de saber quem quer falar com ele.

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