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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Uma cena da vida do Imperador Dom Pedro II

(Texto do livro "Memórias do Exílio", do Conde Afonso Celso).


Eis o que os republicanos de 1889 nos tiraram! O mais digno, culto, honesto e patriótico governante!E tudo para colocar no lugar um punhado de aventureiros, que se sucederam ao longo do tempo, mandato após mandato, até hoje sem demonstrar que mereceram estar no mais alto cargo do país...

Leiam o texto que acompanha essa imagem e se transportem para a época, tentando sentir toda a dor daquele momento de um homem que, ao tempo em que enfrentava as agruras do Exílio, acabara de perder a esposa de quase 50 anos de vida em comum.Pela porta entreaberta, presenciei cena tocantíssima: Ocultando o rosto com as mãos magras e pálidas, o Imperador chorava como um menino; por entre os dedos escorriam lhe as lágrimas, que caíam sobre as estrofes de Dante."

Ao chegar a Portugal, como exilado, Dom Pedro II ouviu de um jornalista:
— Vossa Majestade aqui não é um proscrito. Todos vos estimamos, respeitamos e reverenciamos.
O povo nas ruas de Lisboa, clamavam “Viva o magnânimo!”

O Conde Afonso Celso narra a visita de condolências que ele e seu pai, o Visconde de Ouro Preto, fizeram a D. Pedro II por ocasião da morte da Imperatriz:

“Era modestíssimo o seu quarto”. A um canto, cama desfeita. Em frente, um lavatório comum. No centro, larga mesa coberta de livros e papéis. Um sofá e algumas cadeiras completavam a mobília. Tudo frio, desolado e nu.

D. Pedro II do Brasil não aceitou a ajuda financeira de seu sobrinho-neto D. Carlos I, rei de Portugal. D. Carlos I lhe ofereceu voluptuosa quantia e um palácio para residir sem custos.
Mas Pedro II sabia que ali não era o seu lugar, não seria ético em sua visão.

Os joelhos envoltos num cobertor ordinário, trajando velho sobretudo, D. Pedro II lia, sentado à mesa, um grande livro, apoiando a cabeça na mão. Ao nos avistar, acenou para que nos aproximássemos. Meu pai curvou-se para beijar-lhe a mão. O Imperador lançou lhe os braços aos ombros e estreitou-o demoradamente contra o peito. Depois, ordenou que nos sentássemos perto dele.

Notei lhe a funda lividez.
Houve alguns minutos de doloroso silêncio. Sua Majestade o quebrou, apontando para o livro aberto e dizendo com voz cava:
— Eis o que me consola.
— Vossa Majestade é um espírito superior. Achará em si mesmo a força necessária.

D. Pedro não respondeu. Depois de novo silêncio, mostrou-nos o título da obra que estava lendo, uma edição recente da “Divina Comédia”. Então, com estranha vivacidade, pôs-se a falar de literatura, a propósito do livro de Dante Alighieri. Mudando de assunto, discorreu sobre várias matérias, enumerando as curiosidades do Porto, indicando-nos o que, de preferência, deveríamos visitar. Não aludiu uma única vez à Imperatriz.

Só ao cabo de meia hora, quando nos retirávamos, observou baixinho:
— A câmara mortuária é aqui ao lado. Amanhã, às 8 horas, há missa de corpo presente.
“Saímos. No corredor, verifiquei que o meu chapéu havia caído à entrada do aposento imperial.”
Voltei para apanhá-lo.

“Pela porta entreaberta, presenciei cena tocantíssima: Ocultando o rosto com as mãos magras e pálidas, o Imperador chorava como um menino; por entre os dedos escorriam lhe as lágrimas, que caíam sobre as estrofes de Dante."

3 comentários:

  1. Para se ter conhecimento da diferença entre Monarquia e republica carece apenas que leiamos sobre a decência e honradez de Dom Pedro e conheçamos a podridão e imundice do Lula.

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  2. É impressionante como o Brasil cada dia desce a ladeira do escárnio político.

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