Em matéria sobre a crise ética no Rio de Janeiro, ancorada na descrição do estado por Raquel Dodge como “terra sem lei”, O Globo ouviu especialistas, entre os quais O Antagonista destaca o cientista social Marcelo Burgos, professor da PUC-Rio:
“O Rio não conseguiu desenvolver partidos com relação orgânica com a sociedade. Em São Paulo, fortaleceram-se partidos com mais lastro com a sociedade civil, como o PT, junto à classe operária, o PSDB, à classe média. Aqui, tivemos o que se diria um populismo de esquerda, nos tempos de Brizola, um arranjo pragmático-clientelista (Garotinho) até chegar à máquina política super blindada de Cabral e Picciani.
Seja pela névoa produzida pelos grandes eventos, ou pelo efeito anestésico das UPPs, fechou-se o ciclo perfeito: bênção, e investimentos, do governo federal do PT, uma Alerj transformada em extensão do Executivo, TCE e agências reguladoras sem desempenhar seu papel, Ministério Público impotente, mesmo a imprensa… Cabral e companhia são frutos deste cenário.
Acho que teremos abstenção enorme em 2018. Deve aumentar a apatia e despolitização da população, que é uma das causas deste quadro.”
Como comentamos em Reunião de Pauta, a apatia e a despolitização da população são – em todos os sentidos – crônicas no Rio.
Com raras exceções, a imprensa tende a continuar deslumbrada com efeitos anestésicos como as UPPs e os grandes eventos; os pobres tendem a continuar querendo mais Estado; e os ricos tendem a continuar querendo apenas mais praias, festas e viagens.
“O ponto de partida é perguntar a si mesmo: se você pudesse garantir vastas somas de dinheiro para você e para sua família e manter a maioria desses valores e ainda evitar a prisão, você agiria de forma corrupta? Há muitos benefícios para atuar de forma corrupta: o lucro garantido e a impunidade. Antes da Lava Jato, se pegos, as chances de denúncia eram mínimas. E mesmo em caso de denúncia, poucos eram condenados. E quando condenados, as penas geralmente eram apenas financeiras.”
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