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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 6 de março de 2024

165 - O Crato de Antigamente - Por Antônio Morais.


As beatas chorosas, propalaram  a noticia com eufemismo deslavado. Padre Zeferino fora promovido para uma paróquia mais importante. Dona Carlina uma das maiores figuras das "Filhas de Maria", logo vaticinou : nada que é bom dura nessa cidade, Parece até uma praga.

Zequinha Cururu, no entanto, comentou a questão como um filosofo da "Sorbonne". A igreja quando quer transferi alguém que está dando trabalho usa sempre a mesma estratégia. Padre Zeferino, ninguém precisa dizer, foi um dos maiores rabo de burro desta cidade. 

Ficasse só na mulher de Meia Sola, o sacristão, inda vá lá, mas quase não sobrou nenhuma filha de Maria, até o pessoal do Santíssimo teve que abandonar a opa com medo de Zeferino confundi com saia e : Zás!

O Bispo ficava caladinho mesmo com o zum zum zum na cidade, até que aconteceu aquele caso com a mulher do Coronel Serapião Candeia. O Homem de trabuco na mão ameaçou matar bispo, padre e coroinha.

Padre Zeferino transferiu-se para  outra paróquia, As beatas chorosas fizeram vigília, acenderam velas e rezaram. 
Padre Inácio, o novo vigário, já velhinho mostrava-se o oposto de Zeferino. Dócil, fala mansa, ingênio atendia a todos com presteza inigualável. A idade avançada lhe realçava a castidade.  

Naquele Domingo Padre Inácio marcou uma grande cerimônia de batizado, cem crianças estavam na fila para receber a sagrada unção. Com aquele ritual da vela, do óleo e da água perguntava o nome do bebê, o do pai, o da mãe e procedia ao batismo. 
Já no final da fila, apresentou-se uma morena alta, rebopulosa, com um nenê clarinho de olhos azuis. Padre Inácio indagou maquinalmente :
Nome do menino?
Zezé!
Nome da mãe?
Daguimar.
Nome do Pai?
A moça hesitou:
Pai? Ele não tem pai, não, seu padre.
Como não tem pai? Todo mundo tem um pai. Como é o nome dele?
Mas seu padre, ele num tem não.
Tem não, é? Pois o menino num pode ser batizado.
Seu padre, pois o pai dele é o padre Zeferino.
O que? Tá Louca? Num pode, e Padre Zeferino tirou a batina?
Careceu não, seu padre, ele só fez  assungar.
JFlavio.

2 comentários:

  1. Sabedoria antiga de Zequinha Cururu. Fez malinação, estripulia o padre é transferido para outra paroquia.

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  2. O inocente pecado assim acabava sendo descoberto...

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