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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Luís Gama, o ex-escravo que se tornou advogado - Postagem do Antônio Morais.

Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 1830, em Salvador, filho de mãe africana livre e pai branco de origem portuguesa. Quando o menino tinha quatro anos, sua mãe, Luísa, teria participado da revolta dos Malês, na Bahia, pelo fim da escravidão.

Uma reviravolta ocorreu quando Gama tinha dez anos: ficou sob cuidados de um amigo do pai, que o vendeu como escravo. O menino "embarcou livre em Salvador e desembarcou escravo no Rio de Janeiro", escreve a socióloga Angela Alonso no livro Flores, Votos e Balas, sobre o movimento abolicionista. Depois, foi levado para São Paulo, onde trabalhou como escravo doméstico. "Aprendi a copeiro, sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a costurar", escreveu o baiano.

Aos 17 anos, Gama aprendeu a ler e escrever com um estudante de direito. E reivindicou sua liberdade ao seu proprietário, afinal, nascera livre, livre era.

Em São Paulo, Gama se tornou rábula (advogado autodidata, sem diploma) e criou uma nova forma de ativismo abolicionista: entrava com ações na Justiça para libertar escravos. Calcula-se que tenha ajudado a conseguir a liberdade de cerca de 500 pessoas.

Gama usava diversos argumentos para obter a alforria. O principal deles era que os africanos trazidos ao Brasil depois de 1831 tinham sido escravizados ilegalmente. Isso porque naquele ano foi assinado um tratado de proibição do tráfico de escravos. Mais de 700 mil pessoas tinham entrado no país nessas condições. Apenas em 1850 o tráfico de escravos foi abolido definitivamente.

"As vozes dos abolicionistas têm posto em relevo um fato altamente criminoso e assaz defendido pelas nossas indignas autoridades. A maior parte dos escravos africanos  foram importados depois da lei proibitiva do tráfico promulgada em 1831", disse Gama na época.

Como escravos entravam na Justiça e faziam poupança para lutar pela liberdade.

O advogado ainda entrou com diversos pedidos de habeas corpus para soltar escravos que estavam presos, acusados, sobretudo, de fuga. Ainda trabalhou em ações de liberdade, quando o escravo fazia um pedido judicial para comprar sua própria alforria - o que passou a ser permitido em 1871, em um dos artigos da Lei do Ventre Livre.

Luís Gama morreu em 1882, sem ver a abolição. Seu funeral, em São Paulo, foi seguido por uma multidão. "Quanto galgara Luís Gama, de ex-escravo a morto ilustre, em cujo funeral todas as classes representavam-se. Comércio de porta fechada, bandeira a meio mastro, de tempos em tempos, um discurso; nas sacadas, debruçavam-se tapeçarias, como nas procissões da Semana Santa", relata Alonso.

Na hora do enterro, alguém gritou pedindo que a multidão jurasse sobre o corpo de Gama que não deixaria morrer a ideia pela qual ele combatera. E juraram todos. 

7 comentários:

  1. E sabido e a história sustenta que quem mais tinha interesse em libertar os escravos era a família real. Mas, não podemos desconhecer o trabalho de pessoas como Luiz Gama.

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  2. Excelente postagem. Eu desconhecia esta história de Luiz Gama.

    Sou professor de História (Brasil e Geral) no Seminário Propedêutico Dom Fernando Panico (localizado no bairro Novo Horizonte, em Crato). Devido à pandemia do Covid 19, os alunos retornaram às suas casas, e as aulas continuaram sendo ministradas on line pela Internet. As aulas não foram interrompidas, graças as redes sociais. Esta semana concluímos o estudo do tópico “Escravidão Negra”.

    Costumo explorar os tópicos da História de forma crítica, indo no sentido contrário à ditadura da “onda do ensino ideologizado” que domina o ensino público no Brasil.
    Muitos dos meus alunos vêm de cursos dessas universidades, que continuam adotando o “patrulhamento ideológico” de antes da queda do Muro de Berlim. Os alunos ficam surpresos com um ensino que visa “fazer a cabeça” deles – como ocorre nas universidades – e se deparam com um “leque” que abro para eles pesquisarem e concluírem a verdade dos fatos.

    A Internet teve pelo menos esta vantagem. Permite que as pessoas leiam e pesquisem em diversas fontes, garantindo a pluralidade ideológica e permitindo a expressão de opinião das pessoas.

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  3. É essencial que os professores de História se conscientizem que NINGUÉM FAZ A CABEÇA DO ALUNO, nestes tempos onde as redes sociais fazem parte do dia-a-dia da opinião pública.

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  4. Prezado amigo Armando - Farei outras cinco postagens falando de pessoas como Luiz Gama que junto com a generosidade da família real, comandada pela Princesa Isabel trabalharam a Lei áurea e libertaram os escravos no Brasil.

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  5. Excelente postagem. Adoro assuntos como este que nos faz voltar no tempo, através da imaginação, e viver cada momento. Que mais postagem desse naipe venha coroar a excelência desse blog. Tenho diversos livros sobre a história de cidades. Cidades que nem conheço, mas a leitura nos transporta e nos faz viver a história de cada uma delas. Que as postagens políticas sejam exceção e as que nos instrui e nos faz bem venham de montão. Um ótimo final de semana amigo Antônio Morais.

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  6. Prezado Jozinaldo Viturino de Freitas - Farei uma sequencia de 5 postagens com personalidades importantes da historia e que não houve uma disseminação a altura do merecimento de seus trabalhos. Abraços.

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  7. Muito oportuno que você tenha republicado este artigo.

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