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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 1 de junho de 2021

SOU DO NORDESTE INVENTADO - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

Existem explicações de gente mais versada no assunto, para esclarecer a invenção do Nordeste e, a partir de quando, isso se “assucedeu”.

O que no interessa é dizer que, não conseguimos imaginar a “nossa pessoa” fora desse Saara brasileiro, tão longe do eixo decisório desse país desigual.

Como abrir mão do pertencimento que nos é tão caro nos dizeres, saberes e comeres.

Sem nacionalismos imbecis diria mais que, certamente, minha sobrevivência não seria possível fora do Brasil, onde, na pior das hipóteses, não se tem o nojo de abraçar o outro.

Nas minhas rápidas andanças pelo mundo cobrindo Copas e torneios, em algumas oportunidades me imaginava um exilado político obrigado a viver em terras estranhas.

Só em pensar era acometido de azia e má digestão.

Me reporto mais, até, ao sertão ”feito de silêncios e pedras” como dizem muito bem os  nossos poetas repentistas na trilha de Patativa do Assaré.

Precisaríamos de mil espaços como esse para falar da saga nordestina, do Padre Cícero, de sua religiosidade, tradições e artes.

A nossa culinária de baião de dois com pequi, torresmo, macaxeira e carne de bode compondo o nosso verdadeiro ”caviar”, afora outras maravilhosas opções gastronômicas

A música de Luiz Gonzaga, e seus súditos como a encarnação mais verdadeira de ser nordestino.

Aliás, não consigo falar do “Rei do Baião” sem me emocionar com essa planta, parte orgânica da terra que ele cantou criando moda musical.

Basta dizer que, de cinco musicas rodadas nos alto falantes do Maracanã antes do fatídico Brasil e Uruguai em 1950, quatro eram de Luiz Gonzaga,

Houve um tempo, depois da onda mais efervescente do Rock,Bossa Nova, Iê-iê-iê e Tropicália em que, muita gente se dizendo intelectual e, prá não passar “vergonha”, escondia a predileção pelo baião, xote e xaxado.

Necessário se tornou que dois baianos geniais – Gil e Caetano – mostrassem que o Baião de Luiz Gonzaga não podia ficar fora de nenhuma antologia musical brasileira.

Você, nordestino de “rochedo”, não precisa ter vergonha dos seus valores porque eles são diferentes dos outros.

Bonito fez o nosso magistral Rogaciano Leite:

Não sou um Manuel Bandeira

Drummond ou Jorge de Lima

Não espereis obra prima

Desse matuto plebeu

Eles cantam suas praias

Palácios de porcelana

Eu canto a roça, a choupana

Eu canto o sertão que é meu

Um comentário:

  1. Uma bela crônica de leitura prazerosa. Rogaciano Leite me fez lembra um duelo com o Dr. Mozar Cardoso de Alencar bem ao feitio dos grandes poetas.

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