Me chamam Mundim do Vale
Meu nome depois eu digo,
Na terra de São Raimundo
Eu não deixei inimigo.
Gosto de baião de dois,
Porque na terra do arroz
Enterraram meu umbigo.
Minha mãe teve quatorze
Deles eu fui o segundo,
No ano quarenta e seis
Em agosto eu vim ao mundo.
Em respeito ao padroeiro,
O meu nome verdadeiro
No Batistério é Raimundo.
De doença de menino
Eu contraí um bocado
Sarampo, desinteria,
Coqueluche, bucho inchado,
Maria preta coceira,
Bicho de pé e frieira,
Catapora e mal olhado.
No meu tempo de criança
Fiz tudo que deu na telha,
Pegava animal a alheio
Para correr de parelha.
Cutucava maribondo,
Chega fiava redondo
Ferroado de abelha.
Quando eu fazia o primário
No José Correia Lima,
Vez por outra eu inventava
De fazer alguma rima.
Mas era rima brejeira,
De pau de sebo na feira
Com nota de cem em cima.
Fui ficando adolescente
Deixando de ser menino,
Uma vez falava grosso
Outra vez falava fino.
No tempo dessa mudança,
Eu deixei de ser criança
Sem nunca bater o pino.
Eu tinha amizade as moças
Sem maldade e nem cobiça,
Passava a noite num samba
Sem cansaço e nem preguiça.
Gostava de pescaria,
De forró e cantoria
Mas no domingo ia a missa.
Quando passei dessa faze
Chegando a maioridade,
Fiquei lá em Várzea Alegre
Até os trinta de idade.
Depois vim pra Fortaleza,
Mas já trazendo a certeza
De sentir muita saudade.
Tenho jeito de matuto
Porque nascí na ribeira,
Tendo sido aparado
Por Antônia Cabeleira.
Que não tinha formatura,
Mas exerceu com ternura
O ofício de parteira.
Tudo quanto é profissão
Nessa vida eu trabalhei,
Até na agricultura
Cabo de enxada eu puxei.
Fui vendedor de revista,
Oficial de justiça,
Mas nunca me aposentei.
Mundim do vale
Mais um poema muito bonito!!!
ResponderExcluirRaimundim, também continuo muito brejeira; saí do mato e o mato não saiu de mim... Sou é da rajalegre...
Parabens Mundim por mais esse poema.
ResponderExcluirMuito bom.