Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

UM CAUSO - Por Claude Bloc

Seu Mané Danta
(Dedico a Mundim do Vale)


Não é só em Rajalegre que as coisas acontecem... na Serra Verde também havia muita gente engraçada e cheia de lorotas. Não sei se Morais chegou a conhecer, mas um dos personagens mais engraçados da Fazenda era seu Mané Danta. Ele morou por um tempo na Serra dos Cavalos, (encostadinho a Rajalegre) depois em Lagoa do São Bento e finalmente em cima da Serra, perto da casa da gente. 

Neste final de semana que passei em D. Quintino, fiquei hospedada exatamente na casa de Toim, filho dele, que é outro bom contador de causos.

Conversa vai, conversa vem, como não tenho o dom de Mundim do Vale pra escrever essas histórias, gravei uma das presepadas de seu Mané e vou dividir esse causo aqui com vocês. Mas este é apenas um deles.

Ao ficar com a idade mais avançada seu Mané Danta aprontou algumas. Desde novo, foi muito ligado em dinheiro e era sovina que só o cão. Pra ninguém saber o que ele “pissuia”, guardava escondido tudo o que ganhava nos tubos (silos) de feijão, tudo amarradinho num bisaco. Isso só descobriram depois que ele morreu, mas o que lá existia era apenas um monte de dinheiro antigo e sem mais valor.

Quando conseguiu ser aposentado, Seu Mané ia ao banco fantasiado de “quase inválido”. Tirava a dentadura (guardava no bolso) e ficava batendo “os queixo”, pegava um bordão feito com vara linheira e saia se fingindo de corcunda, caminhando com as mãos trêmulas para conseguir furar a fila. Nesse tempo não havia ainda a fila dos idosos e ele usava esse pretexto pra se ver livre bem ligeirinho da maçada. Pensando bem,, creio que foi bem ele que deu essa idéia dos direitos dos idosos pro Governo conceder esse “privilégio” .

Numa dessas saídas do banco, onde ia receber os “apusento”, seu Mané encontrou-se com seu “cumpade” Mané Nune. Este, muito matreiro, encostou em Mané Danta e “dixe”:

-Cumpade Mané, sabe cuma é que tá a vida, né cumpade? Minha roça num deu quais nada, meus animá tão tudo só os lóro, eu intão quiria pidir pro cumpade me imprestá 500 conto...

Mané Danta, fechou a mão imitando uma concha e a encostou na orelha direita falando:
- Oxente cumpade, o que é que tu tá babujando aí? Só vejo tua boca se mexendo e num oiço nada. Tu tá falando cum eu?

Mané Nune, sabido que nem raposa foi logo remendando:
-Cumpade, eu só tava preguntando se o cumpade pudia me imprestá 1000 reais.

Mané Danta olhou pra cara do seu compadre e lascou a resposta:
- Oxente homi, e nestante tu num tava pedindo só 500?

Bom, foi Toim que contou tudo isso. Se é verdade só Deus sabe.

13 comentários:

  1. Prezada Claude.

    No sitio Baixio, na Rajalegre, tinha um Manoel Dantas, senhor de engenho, que pelas caracteristicas deveria ser familiar do da Serra Verde. De posse de um montante de dinheiro proviniente da venda da safra de rapaduras, resolveu procurar um banco para depositar em segurança. Chegando em Crato observou direitinho as agencias todas e disse para mulher: Zefa eu vou lá deixar meu dinheiro num lugar que as portas são de vidro!

    ResponderExcluir
  2. Claude.
    Recebo com muita alegria a sua dedicatória, lendo o seu texto eu me sentí na minha Várzea Alegre.
    Sua versatilidade é um presente para os leitores do Sanharol.
    Abraço do seu carirí.
    Mundim do vale.

    ResponderExcluir
  3. Sabia, colega Claude?
    Eu também sei contar causos.
    Teve um dia que eu tava contando um para o vô Mundim e esquecí uma peça do cenário e o nome de um personagem. Mas diz aí que eu inventei na hora e o vô Mundim e a vó Fátima são tão voadores, que engoliram. Pode?
    Abraços para você e as outras colegas do Sanharol.
    Duda do Vale.

    ResponderExcluir
  4. Quer dizer, Duda, que você passou os avós na conversa? Essa foi boa. Abraço da coleguinha Fafá

    ResponderExcluir
  5. Ei, Mundim, até parece que Claude é da Rajalegre. Os " causos" são os mesmos, só muda os nomes. Fico tão alegre quando você aparece. Abraço Fafá

    ResponderExcluir
  6. Claude,

    Você foi formidável relatando essa história. O povo da serra não é besta, não! Pena, o falso surdo ter se abestalhado no final.

    ResponderExcluir
  7. É...

    Claude

    Teu causo é ótimo. Sertanejo é assim mesmo, mais esperto do que imaginamos.

    Tu só erraste numa coisa, ou foi o Morais? Nos ultimos dias já estivestes aqui pelo Crato duas vezes que eu saiba: Na URCA e em D. Quintino.

    E por é que a gente não se encontra, ao menos para nos conhecermos.

    Bastava você olhar pra mim e dizer Oi, eu sou Claude. Ai eu respondia: Oi, eu sou Vicente Almeida.

    Tai, falei!

    Vicente Almeida

    ResponderExcluir
  8. Morais,

    Como sempre você nos ilustra trazendo mais um complemento para nossa alegria... Só teve uma coisinha que você esqueceu: Zefa falou que as portas eram de VRIDO... (risos)...

    OBRIGADA, Morais, pela sua sempre bem humorada presença ao comentar meus textos...

    Abraço,

    Claude

    ResponderExcluir
  9. Mundim,

    Não sou isso tudo não, viu?... mas fiquei muito feliz ao ter proporcionado, nem que seja um "tiquim" de alegria a você com a leitura de meu texto.

    O melhor presente do Sanharol é você mesmo, com sua poesia e sua graça.

    Mesmo assim, muito obrigada por tanta consideração.

    Um abraço,

    Claude

    ResponderExcluir
  10. Duda,

    Fique sabendo que a melhor coleguinha que tenho aqui no Sanharol é você...

    Mas ó, tenho um netinho chamado Victor e se ele me desse uma rasteira dessas que você deu nos seus avós, sabe o que eu faria? Sabe não?

    Ora, eu dava um beijo nele e um abraço do tamanho do mundo...

    Agora mando um abração pra você...

    Claude

    ResponderExcluir
  11. Fafá, você é uma menina pra lá de carinhosa e amiga, por isso o Sanharol (e sua gente) gosta tanto de você.

    Qualquer hora, quando eu chegar a Fortaleza, depois do dia 31 eu te ligo. Quem sabe agora dê certo de nós "se incrontá"...

    Abraço,

    Claude

    ResponderExcluir
  12. Pois é, Sávio,

    Manuel Dantas tinha dessas coisas. Embora se revelasse, preferiu não ser tido como "besta".

    Abraço,

    Claude

    ResponderExcluir
  13. Vicente,

    Para mim seria uma honra te conhecer pessoalmente.

    Estive em D. Quintino apenas por dois dias e meio. Fui rever amigos e ver um pouco dos festejos de S. Sebastião. Não aguentei esperar pelo dia 20 porque a "zuada" dos carros de som estava grande demais...

    Quanto a nos vermos, estou em Crato até dia 31. No momento estou procurando uma casa para me estabelecer na cidade. Estarei também nesse período cursando na URCA uma Especialização em Língua e Liteuatura. As aulas serão 6ª (tarde e noite) sábado (manhã e tarde) e domingo (de manhã) na URCA, mas ainda terei uma semana no Crato (meio) desocupada. Apenas estarei em busca de casa e trabalho.
    Me mande seu e-mail e lhe enviarei o número do meu celular para contato... mas garanto, não mordo ... Dr. Sávio e Morais podem afirmar isto (risos)
    escreva-me para cbbloc@uol.com.br ou cbboris@uol.com.br
    Será uma alegria poder trocarmos versos e prosas.

    Abraço,

    Claude

    ResponderExcluir