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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 15 de março de 2011

Uma certa tsunami em Várzea Alegre



Tarcísio Matos

Doutor Sávio Pinheiro jura de pé junto que foi verdade o que ora relato. Aconteceu em Várzea Alegre, exatos três dias após a tragédia que massacrou o nordeste do Japão. Como de hábito, estava o véi Mané Florêncio banhando seus animais, por volta das 17 horas, em seu açude grande. Passava água numa burra, com água no joelho, fazia planos pra venda duma novilha de cabra.

Sente suaves ondas acertarem-lhe a bolacha do joelho, despretensiosamente. O único pensamento ali era terminar o asseio e, daqui a pouco, chegar em casa, comer um baiãozinho de dois com pequi e tibungar numa rede com a mulher Chica Zoza. Maravilhado com o quase final de tarde de céu azulzinho, pensa em seu Deus tão bondoso.

Vira a cabeça pra beira d’água, vê seu pacífico canteiro de cebolinha e cheiro verde e lembra de carregar um molho. Nesse instante, uma série de doze ondas semi-graúdas, formadas não-sei-onde, vêm quebrar aos pés do véi Mané. Acredita ser o (vento) Aracati, soprando extemporâneo àquela hora. Batendo no espelho d’água com força, levantava as cristas, que mais e mais chegam à beirada.

As últimas trinta e nove ondas até nem chamaram tanto a atenção. Mas aquelas duas galinhas d’água, oito cuecas e dezessete cotonetes arrastados pelas ondas eram indício de algo novo no sertão Centro-Sul do Ceará.

- Tem arrumação por aqui!

Olhando por cima do espinhaço do animal, escudando-se nele, e ainda esfregando o dorso da mão em passadas rápidas no pelo duro do bicho, Mané Florêncio estranha não haver vento de todo forte que justifique as ondas, agora em maior número e mais e mais agigantadas. O tempo não justificava tão súbita mudança nas então plácidas águas do açude. Nenhum besouro, nenhuma mariposa nas redondezas.

Jumento com os testículos suados, não viu nenhum – eles que adivinham chuva e outros senões da natureza. O Jornal Nacional não predissera nada nesse sentido. João de barro com a boca do ninho voltado pro tradicional nascente, idem! O que seria então aquelas ondas encorpadas que...

- Peraí! Essas aqui têm pra mais de mêi metro! E vão arrastar meu canteiro de coentro!

Mané Florêncio sai da água aos pinotes. Arrasta os animais pra fora (um jumento gabinete quase morre afogado) e vê sua roupa e algumas cangalhas e cambitos e um casal de guaxinins arrastados com mais de mil pro meio do mato. E mais ondas se aproximam, sempre num crescente. É tudo tão inacreditável que custa crer a Mané que aquilo seja um “açudemoto” de março.

Um tronco de bananeira e um colchão velho são arremessados nos peitos do homem de idade. No auge do aperreio, o bravo Mané toma a decisão de procurar o epicentro das ondas destruidoras. De cueca, preocupado com a devastação em curso, segue pela parede do açude à procura do tal epicentro. Com efeito, sabendo que todo efeito tem uma causa...

- Já, já eu descubro o responsável por essa marmota e...

Mal Mané conclui o raciocínio e descobre a razão das tsunamis em seu açude, na Várzea Alegre. De cima da parede, vê o motivo de tudo, em plena ação. Quem fazia tudo aquilo? Quem era o responsável pelas ondas gigantes? Ninguém menos que o também véi Zaqueu. Mané Florêncio grita, afobado, lá de onde estava:

- Zaqueu! Home! Pare já com isso! Senão tu vai acabar com minha propriedade!...

E Zaqueu parou e tudo voltou ao normal.

O que Zaqueu fazia pra causar as tais tsunamis? Simplesmente, nu, na beira do açude, com água no joelho, Zaqueu acunhava a Ana Pitiaca, de costas pra beirada. Como o saco escrotal dele é por demais comprido, no vai-e-vem característico de quem faz amor em pé, os testículos arrastavam na água em movimentos frequentes, cadenciados, cada vez mais rápidos, como se fossem tapas, daí provocando ondas inacreditáveis...

3 comentários:

  1. Amigos,

    O Tarcísio Matos é colunista do jornal "O Povo", escritor esculhambatório, mentor e compositor do desajuizado Falcão e, de quando em vez, publica sem corrigir o meu besteirol na sua coluna "Aos Vivos" desse conceituado jornal. O texto não é humor negro, mas um fato acontecido nas margens varzealegranas de um sensual açude.

    Boa leitura.

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  2. Dr. Savio.

    Já conhecia diversas qualidade do Zaquem mais a de remador e fabricador de ondas estou sabendo agora.

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  3. NEM MESMO, OS DO JUMENTO DA PRAÇA Pe. VIEIRA, NEM MESMO OS DO JEGUE DO DESFILE DA M.I.S; SÃO TÃO GRANDES ASSIM.

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