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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 18 de abril de 2011

INÊS E PINTA - Por Mundim do Vale.

Raimunda Pinto, era uma Senhora que além de idosa era deficiente visual. O pessoal em V. Alegre chamava na intimidade de Pinta. Ela tinha como guia e companhia a sua neta Inês que ainda criança assumiu a responsabilidade de andar com a sua avó. Inês aprendeu a conduzir a Pinta para os lugares que ela mais gostava. E assim foi gerando uma afeição maior entre avó e neta. O tempo foi passando e Inês foi crescendo sem deixar a companhia da Pinta. Quando completou quinze anos chamava a atenção dos homens pela beleza que tinha: Pernas grossas, cintura Fina, pele limpa e rosto bonito. Para toda parte que ia sempre levava Pinta,não largava a Pinta.E a Pinta por sua vez, só levantava quando Inês segurava. Certo dia Antônio André encontrou-se com as duas e falou para a avó: - Pinta. Você tenha coidado cum Inês! Ela tá ficando muito bem feitinha de corpo e é isso qui os macho quer. Ela já tá sendo prisiguida e você sabe qui fogo perto de algodão o Diabo vem e assopra. Pinta levantou a cabeça e falou: - Savexe não Seu Ontõe. Qui eu vou abrir o ôi cum Inês. Eu num inxergo cum o zói, mais inxergo cum a vivença. Quando Inês começou a namorar a coisa desdandou. Ela continuou levando Pinta mas diminuiu os cuidados: Deixava a Pinta se sujar, deixava a cabeça da Pinta bater na janela, deixava a Pinta se molhar na chuva e não tinha o constrangimento de dizer que não podia viver sem Pinta. Depois de um tempo a Pinta amoleceu, ficou adoentada e não saía mais. Inês sempre fiel não largou a Pinta, ficaram as duas morando juntas numa casa. Pinta dormia no corredor e Inês na sala. Numa certa noite Inês tava agarrada com um namorado quando a Pinta gritou: - Ou Inês! Tem argum ome dento de casa? - Tem não vó. É eu que tou dando a comida do meu gato. - Apois você tenha coidado cum gato de duas pernas! Uma vez as duas almoçaram um peba e logo depois do almoço, Pinta pediu a Inês para catar piolhos na cabeça dela.Logo que Inês começou sentiu uma gastura e começou a vomitar. Pinta notou o aperreio da neta e perguntou: - Inês o quier qui tu tem? Será qui tu tá imbuchada? - Vira essa boca pra lá vó! Isso aqui foi o peba qui fez mal. Pelos meus cálculos se aquele peba sobreviveu, ele deve está hoje com trinta e nove anos.


Reprisado para: Maninha e Flor das Bravas.

4 comentários:

  1. "Pernas grossas, cintura Fina, pele limpa e rosto bonito".

    Mundim.

    Com esses predicados todos, era mesmo que polvora perto de tição.

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  2. Hummmm!!!!!

    Sempre um primor de história...

    Abraço,

    Claude

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  3. MAS UMAS DAS HUMORADAS HISTORIAS DO MUNDIM . MUITO BOA. VALEU POETA.

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  4. É, e sempre sobra pra mim!
    Valeu! Obrigada pela lembrança. Qual das duas é a Pinta e qual das duas é a Inês, heim bichim?

    Flor das Bravas!

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