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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 21 de julho de 2011

A DIVINA COMÉDIA - Canto XX - Por Vicente Almeida

INFERNO

Vala dos adivinhos


Da nossa posição sobre a quarta vala pude ver procissões caladas caminhando e ouvir o seu pranto. Mas quando olhei com mais atenção eu vi, com espanto, que todas as pessoas tinham a cabeça torcida. Só podiam andar para trás, pois olhar para frente não lhes era permitido. Vendo tal imagem torta e as lágrimas que vertiam descendo pelas nádegas, não pude conter-me e chorei também.


- Ainda
estás com esses tolos enganadores? - perguntou-me o guia, repreendendo-me - Aqui, neste lugar, a piedade vive quando a piedade é morta. Quem pode ser mais cruel que o homem que tenta controlar a vontade divina? Levanta o rosto e veja Anfiarau que tentou fugir da guerra, mas foi engolido pela terra até chegar a Minós, que no fim, a todos aferra. Sabes por que ele e os outros têm a cabeça virada para trás? É porque em vida quiseram demais ver adiante. Foram todos adivinhos e astrólogos que agora só podem olhar para o passado. Olha lá Tirésias que foi homem e também mulher, vê Aronta e também Manto, que deu o nome à cidade de Mântua, onde nasci.

Depois de mostrar a vidente Manto, Virgílio me contou como ela percorreu o mundo por muitos anos até encontrar uma planície desabitada no norte da Itália e lá se estabelecer para praticar magia com seus servos. Lá ela morreu e lá deixou seus ossos, sobre os quais foi construída uma cidade, que ganhou o nome de Mântua.

- Mestre - respondi - tua explicação eu sinto tão certa, que outra seria como carvão extinto. Mas dize, dessa gente que passa, se há alguma outra digna de nota.

- Sim, aquele ali cuja barba se espalha do queixo sobre suas costas é Eurípiles - mostrou Virgílio - e aquele outro, magro, é Michael Scott, que sabia tudo sobre magia. Vê Guido Bonatti e vê Asdente, que hoje deseja ter sido mais dedicado na arte de fazer sapatos. Mas agora vamos, pois a lua cheia já se põe e o dia já amanhece.

E enquanto ele falava, nós andávamos.

No Canto XXI, veremos a vala dos corruptos - Malebranche - demônios

21/07/2011

4 comentários:

  1. É...

    Sobre este canto, tenho um comentário a fazer, mas antes, gostaria que o leitor após observar as pinturas, descrevesse o que percebeu de diferente, das demais gravuras de cantos anteriores.

    É muito evidente! Tá na cara!

    Em função disto, ainda não inseri no rodapé das pinturas, as informações devidas.

    Quem ousa iniciar?

    Vicente Almeida

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  2. Vicente, além da evidência nas imagens o texto descreve. E você disse: Tá na cara!

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  3. É isso Vicente, A Artemisia já falou, tá na cara, rsrsrs. Abraço fraterno. Fatima.

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  4. É...

    Artemísia e Fátima:

    Pois é, tá na cara:

    Segundo a descrição de Dante, ao chegar no inferno, Os adivinhos ficam com o rosto voltado para trás, de forma que não conseguem olhar para frente, e assim só podem andar de ré.

    É o contrapasso por alegarem saber o futuro que só a Deus pertence.

    No decorrer das postagens, podemos observado que Dante, para cada tipo de delito, cria um ambiente específico como punição.

    Imaginemos agora olhar para trás e andar de ré eternamente.

    Foi em virtude dessas descrições feitas por Dante em seu poema, e complementadas pelas pinturas e gravuras de artistas consagrados sobre o inferno, nos últimos setecentos anos, que surgiu o termo:

    "Dantesco" que quer dizer: horrível, horripilante, macabro.

    Vicente Almeida

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