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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 21 de julho de 2011

HISTORIAS DE JOÃO DINO - DESCONSIDERAÇÃO PERDOADA.

O arquiteto, escritor e humorista Jessier Quirino, na estória do “Matuto Laranja” descreve em detalhes a via crúcis, o sofrimento, o tormento que é a vida de um político brasileiro durante uma campanha eleitoral.

Há quem pense que todo sacrifício termina quando apura a votação e o caboclo ganha a eleição. Engana-se quem pensa assim. A exceção dos gestores públicos petistas (Sobretudo os que são eleitos depois de três décadas de peleja. Esses trocam os chips dos celulares, se mudam para luxuosos apartamentos nas capitais, se desligam de rádios, sites, blogs, jornais, revistas, TV’s regionais etc., desprezam velhos companheiros de luta e se limitam a ouvir apenas elogios de meia dúzia de assessores subservientes), a peregrinação começa no 1º dia de janeiro e só termina no dia 31 de dezembro, quatro anos depois.

Compare aquele sorriso de felicidade, o trato da pele, os cabelos e os olhos que aparecem na foto oficial do dia da posse com a imagem dessa mesma pessoa no final do mandato. É grande a diferença. O sorriso fica triste, a pele é só ruga, metade dos cabelos se foi e a outra metade ficou da cor de algodão, e os olhos denunciam a toda hora a tristeza da desilusão. E quando é chegada a hora de entregar a chave daquele gabinete a um estranho, como dói.

Os cabos eleitorais brasileiros são cruéis. São profissionais em usurpar tudo dos gestores públicos. E o que é pior: Eles sabem como mudar de lado na hora certa. Político pisou em falso, fica sozinho. Eu conheço muitos cabos eleitorais milionários. Por outro lado conheço muitos ex-prefeitos que se tornaram inquilinos e que circulam em veículos alienados por cinco anos.

O caboclo que passa os quatro anos do mandato almoçando com advogados, gerentes de bancos ou agiotas, em lugares secretos, e dependendo de liminares para continuar no poder, tem sua expectativa de vida reduzida em 30%.

Se você conhece alguém que vive assim evite falar mal dessa pessoa e procure ajudar. Esse tipo, mesmo sendo prepotente e arrogante, torna-se frágil. Tudo que se atira numa pessoa assim, pega. Até praga e mau olhado. A alma é atormentada e o espírito em constante agitação.

Vou contar um caso que aconteceu comigo, onde em vez de ficar chateado eu fiquei foi com pena. Foi numa cidade do RN. Apareceram na festa, como convidados, o prefeito, a 1ª dama e uma meia dúzia de assessores.

Um dos secretários, muito educadamente me fez um pedido: João Dino, cante a música “sangue do meu sangue” e ofereça ao nosso prefeito. Ele nunca assistiu sua seresta. Mas tem um CD seu no carro dele que já está arranhado de tanto tocar essa música. O pai dele, Dr. Fulano de Tal, maior líder político da região, faleceu recentemente.

Eu deixei a banda solando a música e fui até a mesa onde estava essa comitiva. Com muita dificuldade eu driblei todos as pessoas que estavam importunando o homem. Apertei a mão dele e antes de começar a cantar eu falei: Prefeito, faça de conta que o bravo guerreiro potiguar, Dr. Fulano de Tal (Pai dele) é quem está cantando prá você agora. E comecei: Meu filho, meu grande amigo... Essa canção eu fiz prá você... Para quando eu partir prá bem longe... Nos seus momentos de mim não se esquecer... Quantas vezes lhe acalentei em meu colo... E cantei prá não lhe ver chorar... Quantas vezes bronqueei com você... Mas tudo fiz, para lhe educar... (Inclusive, você devia aproveitar o embalo, acessar o You Tube – “João Dino Seresteiro – Sangue do meu sangue”, e me ver cantando essa música).

Meus amigos esse homem cruzou os dois braços sobre a mesa, apoiou a cabeça, e chorou que nem criança. Emocionou todo mundo. Permaneceu nessa posição por cerca de dez minutos. Levantou-se, foi até a mesa de som e disse ao meu mesário: eu quero a gravação original desse show.

Eu terminei de cantar às 3 horas da manhã. Logo cedinho, antes de sair da cidade, eu fui fazer uma média com ele: Levei o CD original, como ele pediu, autografei, ele recebeu e colocou no bolso.

Domingo, 9 horas da manhã. Mesmo assim a casa dele já estava cheia de gente. Aqueles pedidos tradicionais: Empregos, dentaduras, roupas, sapatos, cimento, madeira, tijolos, telhas, bujões de gás, remédios, ambulâncias, passagens para São Paulo etc.

Entre os pidões tinha um bêbado tão chato, tão nojento, fedorento, desdentado, cuspindo tudo, que chamava atenção. Ele dizia: Lá em casa são 20 votos. Todos seus e dos seus deputados... E eu só estou pedindo R$ 100,00.

O Prefeito disse que não tinha... O banco fechado, etc. e tal... E o bêbado foi baixando a pedida para R$ 50,00, R$ 20,00, R$ 10,00, R$ 5,00... Finalmente R$ 1,00.

O Prefeito estava realmente liso. E estava sem jeito porque, normalmente, todos os babões de prefeitos, parece até castigo, nenhum tem uma moeda nos bolsos.

Mas um pidão profissional assim não quer perder a viagem. Ele olhou para o bolso do prefeito e disse: Pois me dê esse CD de João Dino...

Vocês podem imaginar minha cara nessa hora... O CD gravado ao vivo, original, autografado, um presente que eu acreditei ser muito importante e que ele fosse guardar com muito carinho para recordar o seu pai, aquele bravo guerreiro potiguar...

Pasmem os senhores internautas: O prefeito simplesmente tirou o CD do bolso e entregou ao bêbado.

Que desconsideração... Mais eu, em vez de ficar chateado, fiquei morrendo de pena dele. Em meio a tantos pedidos, tantas perturbações, processos, precatórios, vereadores fazendo de conta que estão na oposição (E o povo não acredita... Ô povo ruim), servidores públicos em greves, jornalistas na cola, repórteres em busca de um furo, etc., ele já tinha até esquecido o que estava gravado naquele CD. Essa cena se repete com muitos gestores públicos brasileiros. Você conhece algum que vive assim como esse lá do RN? Pois é... O coitado com tanta vontade de acertar, prá arrumar a casa, mais nunca deu certo... A imprensa imprensa demais...

3 comentários:

  1. Prezado João Dino.

    Não há quem escape do pidão. Um pidão ao encontrar com um politico pediu um real. O politico disse que andava sem dinheiro. Pediu então um cigarro. O politico disse que não fumava.

    Então o pidão perguntou: e o que é que voce tem no bolso da camisa? Um colirio respodeu o deputado. "Entonce bote um pingo aqui no meu olho".

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  2. É MORAIS... MAS QUANDO O DEPUTADO DISSE: O TUBO DO COLÍRIO ESTÁ VAZIO, EU COLOQUEI NO BOLSO PARA ME LEMBRAR DE COMPRAR OUTRO... O PIDÃO INSISTIU: POIS ME DÊ O TUBINHO PRO MEU MOLEQUE ENCHER D'ÁGUA E BRINCAR DE CHIRINGAR OS AMIGUINHOS DELE... SKSKSKSKSKS..

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  3. João Dino

    Me desculpe, mas a culpa foi sua do acontecido. Quem mandou você acreditar em político! Na política não se acredita assume-se compromisso, sei que você sabe muito bem disso. Antes de serem eleitos assumem dois compromissos, um com o povo e outro com ele, o assumido com dele, normalmente ele cumpre.
    Quanto a popularidade dos político os ptistas aqui do sul são bem diferentes daqueles que você conhece, pois aqui políticos mais a esquerda são os que tem mais contatos com o povo. E esse tipo de eleitor pidão são típicos de eleitores de políticos de direita que só aparecem para pedirem votos. Em suma: A direita pede votos e a esquerda apoio. Mas, para eliminar a compra de votos só com um amplo debate nacional sobre a reforma política o que infelizmente não está ocorrendo.

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