Mesmo sendo um republicano convicto, o ex-governador de São Paulo e ex-candidato a presidente do Brasil, José Serra, foi honesto numa análise feita -- em artigo (“República–de volta para o futuro” ) publicado no jornal O Estado de S.Paulo -- sobre a experiência republicana no nosso país.
Depois de tecer loas à República e criticar alguns aspectos (poucos) da experiência monárquica no Brasil, José Serra escreveu alguns tópicos abaixo reproduzidos:
“É preciso reconhecer que a formação do Estado monárquico teve um papel dinâmico do ponto de vista da formação do País. Permitiu a manutenção da integridade territorial, estruturou a máquina do Estado e lançou os fundamentos da organização nacional. Não foram tarefas fáceis. Algumas delas levaram até a guerras com os países platinos”.
“Esses tempos ecoam na História presente do País. Dos 80 anos pós-República Velha, foram quase 30 de autoritarismo. Parte dos problemas que temos hoje é reflexo da pérfida relação sociedade civil-Estado que herdamos. O fortalecimento crescente do aparelho estatal foi mantendo ou empurrando a sociedade civil para fora da arena política. O Estado ocupou sozinho a esfera pública. Quem nele está tudo pode. Quem está fora, contudo, passou a ser tratado, primeiro, como alienígena, depois, como adversário e, dentro dessa lógica perversa, como alguém a ser destruído - como foi o figurino do último decênio.
“O regime republicano teve enorme dificuldade de conciliar crescimento econômico e a manutenção das liberdades fundamentais do cidadão. E isso acabou marcando a nossa História desde 1930. Só na segunda metade dos anos 1950 e, mais especificamente, nas últimas duas décadas, é que conseguimos compatibilizar economia e política, com a estabilização advinda do Plano Real, a construção de uma rede de proteção social e a defesa permanente do Estado Democrático de Direito.
“Mas o espírito da res publica, que começara a reativar-se nos anos 1990, foi desaparecendo. O sonho dos primeiros republicanos, de um governo do povo e para o povo, acabou sendo substituído, numa curiosa metamorfose, por um governo dos, e para os, setores organizados e simpáticos aos poderosos do momento.
“Nos anos recentes, o patrimonialismo refez-se em duas vertentes: na formação de uma burguesia do capital estatal e na ocupação pura e simples da máquina do Estado. Ocupação voltada para o sistemático desvio de recursos públicos para partidos, pessoas e manipulação eleitoral. E, desde logo, de uma ineficiência wagneriana na organização e no funcionamento do serviço público e, pior ainda, na formulação e execução de um projeto de desenvolvimento nacional.
“Isso significa que algumas das características essenciais de um regime republicano se foram perdendo ao longo do tempo, em nome de um suposto pragmatismo que mal esconde arranjos para proteger interesses patrimonialistas e corporativistas que se estabelecem ao arrepio da maioria do povo brasileiro. Precisamos recuperar o espírito da República para que o Brasil possa avançar. Precisamos caminhar de volta para o futuro”.
Muito embora não ser nem um pouco admirador de josé Serra e condenar o PSDB por diversos males, devo dizer que 'as vezes costumamos ver um artigo deste e não ler. Mas é de uam coerência incrível o que o Dr. Serra escreveu e o Armando nos traz.Infelizmente o sonho republicano foi desvirtuado e o hoje o que acontece no poder é tão somente uma pouca vergonha.
ResponderExcluirParabéns Armando!
Abraços,
Giovani Costa
Giovanni:
ResponderExcluirTambém, a cada dia, admiro a sua coerência.
Como bons brasileiros vamos torcer para que essa ré - pública acerte o passo, o que vem sendo tentado nos últimos 23 anos, após a promulgação da Constituição de 1988, mesmo entre um escândalo de corrupção e outro que se alternam...
só a veja , estadão e o blog do sanharol pra ver essas qualidadea do psdb..eu sei que criou a dengue e ajudou a Fernandim vender as empresas do povão..
ResponderExcluirPrezados amigos.
ResponderExcluirLeio com muita atenção todas a materias do Blog do Sanharol, e, nunca vi nenhuma fazendo elogios ao PSDB. A não ser que falar do PT signifique aplaudir o PSDB.
Do PT fala-se menos mal do que ele merece.
Serra, o rato que ruge da política nacional
ResponderExcluirpor Luis Nassif
Em plena campanha de 2010, escrevi aqui: o maior mal que José Serra faria à política não seria sua eleição (felizmente exorcizada pelo bom senso nacional) mas os prejuízos ao surgimento da uma oposição consistente e civilizada.
No plano político-partidário, atualmente Serra é zero. Sua atividade lembra o filme “O Rato que Ruge”, do general do país insignificante que pretende entrar em guerra com os EUA para ser derrotado e, posteriormente, ajudado. Desembarca em Nova York em um momento de estado de emergência em que não se via viva alma nas ruas. E acha que venceu a guerra.
Esse cidade vazia em que só se movimenta o general bufão chama-se velha mídia. É ela que cria a percepção de que Serra existe.
Politicamente, Serra não existe. Seus seguidores se resumem a um factoide político, Andrea Matarazzo, um senador em final de carreira, Aloysio Nunes, dois ou três ex-comunistas perdidos pelo mundo, e um ou dois parlamentares órfãos. E só.
Com exceção de pouquíssimos aliados pessoais que restaram, e só ficaram porque se amarraram a Serra como os fanáticos ao pastor Jim Jones, comprometendo irremediavelmente suas carreiras, Serra é uma figura incômoda, que ninguém quer por perto mas que comparece a todos os eventos públicos, com uma desfaçatez só comparável ao do Beijoqueiro. É incômodo ao PSDB paulista, ao nacional, é incômodo ao próprio Kassab. Não tem espaço em nenhum lugar politicamente decente.
Sua única fonte de poder que restou é o espaço na mídia. E ele ocupa da maneira mais desengonçada possível, propondo e sugerindo estratégias como se tivesse alguma ascendência sobre os atores principais: Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab e Aécio Neves.
ResponderExcluirOntem mencionei a questão da percepção em política, isto é, a política não é o que ocorre no mundo real, mas as percepções passadas pela mídia. Quando sai uma matéria com Serra impondo ao PSDB o apoio ao candidato de Kassab, passa a percepção de que ele articula com Kassab. Nada! Zero! Só um jornalismo sem discernimento, sem capacidade de avaliar o peso político efetivo de cada ator, é capaz de levar Serra a sério.
Aliás, basta responder à questão: quem é o candidato de Kassab? Nenhum.
O PSDB não tem candidatos fortes. A falta de renovação do partido, em São Paulo, faz com que as prévias tenham apenas um candidato de dimensão nacional (José Aníbal), um sobrenome pomposo numa cabeça vazia (Bruno Covas), um factoide que ninguém acredita, nem ele próprio (Andrea Matarazzo). Mas as prévias poderiam reerguer um pouco a militância partidária.
O único candidato de maior peso seria o próprio Serra. A troco de quê, então, esse jogo de cena de exigir do PSDB a adesão ao candidato que não existe, de Kassab?
O nome disso é (recorrendo ao linguajar italiano que Serra ainda não deve ter esquecido): paura, medo de entrar no jogo e enfrentar Fernando Haddad, um Ministro com folha de serviços reconhecida e com uma fluência verbal imensamente superior à de Dilma Rousseff e à do próprio Serra.
Para não ter que beber desse cálice, Serra prefere implodir o partido que garantiu toda sua carreira política.
Para falarem bem do Cerra, e tão mal do PT, dá até impressão de estarem recebendo um mensalam, já que Morais, foi coordenador da campa do Geraldo no Cariri, quando o mesmo concorreu e perdeu para Lula.
Alguém leva a sério o que escreve o jornalista "chapa branca" Luis Nassif?
ResponderExcluirEu sinceramente nao entendo porque toda vez que surgem provas incontestáveis dos desvios da conduta moral e de probidade administrava vinculados a alguns gestores ligados ao Partido dos Trabalhadores, a defesa sempre é culpar a GLOBO, a ABRIL, A FOLHA, O ESTADÃO.
ResponderExcluirParece-me que não há uma outra alternativa. Mas, creio eu, seria muito mais honesto, correto, humano, probo, admitir que alguns petistas ou coligados erraram e por isso foram demitidos, do que tansferir responsabilidades para os meios de comunicação que divulgaram o fato, muito embora sejam tambem estes, culpados por enxergarem apenas o que lhes são convenientes.
Quanto vale uma denúncia nesses tempos eleitorais! A imprensa enche seus cofres nessa época. Ou alguém é ingênuo ao ponto de acreditar que a imprensa elogia ou critica alguém de graça?
ResponderExcluirCadê a reforma política que não foi nem aprovada e tampouco divulgada pela imprensa, será que do jeito que tá tá bom?
Corrupção sempre vai haver e quando for descoberto e provado que sejam severamente punido. Elogiar ou criticar governo não é passaporte de bom jornalismo.
Saiu na Carta Capital:
ResponderExcluirO denuncismo hipócrita
O ministro Lupi segura ainda, com fervor, a sua pasta, para a contrariedade de quem já o queria fora do governo, obediente às denúncias da mídia nativa. Ocorre que a presidenta não se mostrou obediente na mesma medida, a bem da sua autoridade e do seu governo, e dos cidadãos em geral.
Carta Capital não acredita que o ministro Lupi mereça especiais resguardos, tampouco o jornalismo pátrio especial respeito. Antes de ser refém do denuncismo, Dilma Rousseff mostra saber o que lhe convém, e que é ela quem manda. Os objetivos midiáticos, se de um lado parecem evidentes, de outro causam efeitos aparentemente opostos aos desejados.
Caso a intenção tenha sido realmente criar problemas para a eleita contra a vontade da mídia, verifica-se que a culatra é obrigada a um novo, constante desgaste. A cada lance da faxina, a popularidade da presidenta cresce. Pretende-se que embatume? Pois fermenta. Dilma, de resto, prepara uma reforma ministerial para o começo do ano próximo e com toda probabilidade o atual ministro do Trabalho figurará entre os substituídos.
Nebulosa é a forma pela qual se constituiu o ministério no período intermediário entre a eleição e a posse. Falou-se de interferências de Lula na escolha de vários titulares, bem como da designação de outros ao sabor de pressões partidárias de sorte a garantir a chamada governabilidade. Que las hay, las hay, é tradição da nossa política, ditada por injunções inescapáveis.
Há continuidade do texto está no conversa afiada.