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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

De canto a canto - Por Jose de Moraes Brito.

Como um pássaro ainda ressentido,
Sentindo ao meio o coração partido,
Sem definir bem certo  seu compasso;
Sinto a vontade entre liberte e presa,
E em liberdade, caio na incerteza
Se fico na gaiola ou ganho espaço.

Vejo o viveiro em vivi, vadio,
O outono, a primavera, o inverno, o estio,
No alpista fresco da amizade, farto,
Na eterna festa desse alegre meio,
Era de alegria pura meu gorjeio
E por isso mesmo, com tristeza parto.

Há pássaros que cantam lindos hinos
Pela manha e em tempos vespertinos
Mas sempre tem em festa o coração;
Há outros que se tem como agoureiros,
Que cantam e quando cantam, nos canteiros
Avisam luto, dor, desolação.

Meu coração é como os primeiros,
Que cantam, se libertos ou prisioneiros,
Nas horas de alegrias e de dor
Canta a distancia, a ausência, a saudade,
Canta, porque existe  a amizade
Porque existe a fé, existe amor.

Eu vou cantando agora meus cantares
Com pássaros que, também, perderam os ares
E tem suas sinais, suas prisões,
Tornando, assim,  as dores mais amenas
Menos cruel o desfolhar das penas,
Que caem sem  cessar os corações.

Sei que onde for edificar meu ninho,
Na alfafa, no capim, na lã, no espinho,
Mandar-lhes-ei meu canto pelo vento,
Porque sempre de lá, vendo o infinito,
Ali suas lembranças todas fito,
Ainda que só seja em pensamento.

E se cantando a saudade, hoje vou
Me lembro de lembra-lhes que este vôo,
Que pelas relvas baixas, então solto
Um dia vou alçá-lo as vertentes
E ao viveiro em que deixo-os, contentes
Voando outra vez sei que inda volto.

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