Como um pássaro ainda ressentido,
Sentindo ao meio o coração partido,
Sem definir bem certo seu compasso;
Sinto a vontade entre liberte e presa,
E em liberdade, caio na incerteza
Se fico na gaiola ou ganho espaço.
Vejo o viveiro em vivi, vadio,
O outono, a primavera, o inverno, o estio,
No alpista fresco da amizade, farto,
Na eterna festa desse alegre meio,
Era de alegria pura meu gorjeio
E por isso mesmo, com tristeza parto.
Há pássaros que cantam lindos hinos
Pela manha e em tempos vespertinos
Mas sempre tem em festa o coração;
Há outros que se tem como agoureiros,
Que cantam e quando cantam, nos canteiros
Avisam luto, dor, desolação.
Meu coração é como os primeiros,
Que cantam, se libertos ou prisioneiros,
Nas horas de alegrias e de dor
Canta a distancia, a ausência, a saudade,
Canta, porque existe a amizade
Porque existe a fé, existe amor.
Eu vou cantando agora meus cantares
Com pássaros que, também, perderam os ares
E tem suas sinais, suas prisões,
Tornando, assim, as dores mais amenas
Menos cruel o desfolhar das penas,
Que caem sem cessar os corações.
Sei que onde for edificar meu ninho,
Na alfafa, no capim, na lã, no espinho,
Mandar-lhes-ei meu canto pelo vento,
Porque sempre de lá, vendo o infinito,
Ali suas lembranças todas fito,
Ainda que só seja em pensamento.
E se cantando a saudade, hoje vou
Me lembro de lembra-lhes que este vôo,
Que pelas relvas baixas, então solto
Um dia vou alçá-lo as vertentes
E ao viveiro em que deixo-os, contentes
Voando outra vez sei que inda volto.
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