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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A SECA NO NORDESTE - POR ANTONIO GONÇALO DE SOUSA


Estamos enfrentando uma das piores secas dos últimos trinta anos no Nordeste. Felizmente, não vemos mais aquelas imagens humilhantes que invadiam a mídia e enchiam de amargura os que assistiam os trabalhadores desnutridos em situações humilhantes nas frentes de trabalho; também não vemos mais homens invadindo comércios e a melindrar ajuda nas cidades. Mas uma coisa triste derivada da falta de ação efetiva por parte dos produtores e do governo ainda persiste. Continuamos vendo, nas TVs, jornais, revistas e nas margens das estradas por onde viajamos uma imensidão de carcaças esquálidas de  animais mortos, certamente depois de agonizarem por dias diante da falta de pastagens e água. Além do aspecto econômico, há a imagem de penúria desses seres indefesos e a impressão primeira é de que pode haver também insensatez do ser humano, falta de ação governamental e apoio de autoridades que conhecem de perto essa questão.



O que será que foi feito para que a partir de meado da década de 90 do século passado não se tenha visto mais fragelados penando em uma frente de trabalho ou  pessoas famintas nas ruas invadindo comércios ou mendigando nas épocas de seca? A primeira solução: O governo, promotor das outrora desumanas frentes de trabalho, em vez de gastar tempo e dinheiro com ações ineficientes e ineficazes nas épocas de secas, resolveu transferir essa renda para programas de inserção social; a segunda solução veio em consequência: o homem nordestino menos favorecido, diante da ajuda constante que vem recebendo do governo, encontra-se  “abastecido” da falta de necessidade de enfrentar situações degradantes pedindo ajuda ou saqueando comércios nas cidades, muitas vezes servindo de atrativo para matérias sensacionalistas da mídia. 



Apesar do sofrimento e dos prejuízos econômicos do homem nordestino persistirem, é necessário reconhecermos que os mesmos foram bastante amenizados nos últimos anos. Contudo, o espetáculo da imensidão de carcaças esquálidas de animais mortos, em consequência da fome e sede no sertão continua. Falta, portanto, uma solução urgente do governo e dos produtores rurais para esse problema.  A previsão dos meteorologistas para 2013 é que o Nordeste continue sob a influência do "El Niño" - fenômeno que está causando a seca na região, que foi iniciada no  ano de 2012. As principais causas da seca do nordeste são naturais. A região está localizada numa área em que as chuvas ocorrem poucas vezes durante o ano; esta área recebe pouca influência de massas de ar úmidas e frias vindas do sul. Sendo assim, o sertão permanece durante muito tempo com uma massa de ar quente e seca, não gerando precipitações pluviométricas (chuvas) e, nesse caso, vem a estiagem e consequentemente os seus efeitos desastrosos. 


O desmatamento na região também contribui para o aumento da temperatura, contribuindo para afetar cada vez mais a falta de áreas úmidas e de correntes frias para formação de nuvens com acúmulo de água. Tecnologias para evitar o fenômeno da seca talvez ainda não existam, mas isto não deve ser encarado como o problema principal a ser resolvido. Afinal, comparando-se com os fatores climáticos que ocorrem anualmente em outras regiões do planeta, talvez as estiagens do Sertão Nordestino sejam uma causa menor. 

Aqui as secas são periódicas, enquanto nas regiões frias  anualmente  ocorrem 4 a 5 meses em que não é possível produzir forragens e os animais também não podem sair para pastar. Contudo, lá os agropecuaristas e os governos implementam ações para produzir e armazenar pastagens suficientes para esses períodos. Nós nordestinos temos tecnologias simples e baratas para produzir e armazenar forragens sob as formas de silagem, fenos, medas e também para o cultivo de plantas xerófitas (cactos), sorgo, etc. resistentes às estiagens. Só que a maioria dos produtores rurais e até mesmo as autoridades não as conhecem. Uma pena.....


Fortaleza – CE, 10 de janeiro de 2013

Um comentário:

  1. Postagem de:Grazielly da Costa Souza

    Belo texto pai, parabéns!
    É uma pena que a política de nosso país não tenha acordado ainda para a criação de políticas públicas par a melhor redistribuição de água, pois se a energia do país é toda interligada, porque não fazer o mesmo com os açudes, rios e lençóis de água?

    #fica a dica!

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