"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".
Dom Helder Câmara
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
O cumpade e a cumade - Por Dr. Mozart Cardoso de Alencar.
Um casal pobre, da roça,
Dia de feira, “quebrado”,
Sem níqueis, matou um “capado”
A sombra do oitão da choça.
“Já tão pelando o suíno?
Nóis tamo! E qui bom cumpade!..
Fique e ajude a sua cumade
Qui eu vou vê sal no Fostino”.
O compadre deu a faca
Ao compadre que chegara
E meteu, na estrada, a cara,
Levando no lombo a maca.
O hospede com destreza
Ficou raspando o “sevado”
Mas muito preocupado
Co’a insegurança da mesa.
Torta, a mesa derreava
Aqui e ali, num raspão,
Ameaçando ir ao chão
O porco que ele pelava.
Vez por outra, escorregava
O porco, e, logo, o compadre
Gritava para comadre
Que com o bicho se agarrava.
Esse poico cai, comade!
Oi a mesa! A incrinação!
Se cai, só cai no chão
E agente trepa, cumpadre!...
Mais será que num vai dá
Trabaio, essa trepação?
Dá não, cumpade, dá não!
Nois dois, só, pode trepar!
Rangia e bamboleava,
Aos raspões, a velha mesa,
Limpo, branco, uma beleza,
O porco que ele raspava.
No derradeiro raspão,
Quando tudo terminado,
O porco todo pelado
Deslizou e foi ao chão.
Qui poico vei pra inganá
Nunca pensei que caísse!
E logo nessa imundice!
Cumpade vamo alimpar?
“Tá todo xujo compade.
Tô vendo! É lama no chão.
Mais ante da alimpação
Vamo é trepar, n’é cumade?
Porco gordo, de papada,
Deve pesar uns quilinhos:
Na casa, eles dois sozinhos...
Como foi essa trepada?
Do Livro Doce de Pimenta.
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