Vejam a semelhança que tem esse fato verídico, com a tragédia de Maria de Bil. Eu sei da história porque ouvi o autro do verso abaixo recitar muitas vezes na minha casa.
O TRISTE ADEUS DE AMÉLIA.
Autor: Poeta e profeta, Pedro Severino.
Várzea Alegre, 19 de novembro de 1939.
1
Leitores leiam este verso
Que ningém o conhecia
Pense com sinceridade
Sendo vós como fazia,
Com este lobo cruel
Que assassinou Maria.
2
Com lágrimas e sentimentos
Lanço a pena na mão,
Peço licência ao leitor
Para mover uma ação
Dessa história tão penosa
Que fez cortar coração.
3
Dezenove de novembro
Nessa data receiosa,
Ninguém jamais esperava
Que uma fera rancorosa
Assassinasse Amélia
De uma morte dolorosa.
4
É preciso descrever
Quem foi de Amélia o pai
Para o leitor conhecer
De onde vem, pra onde vai,
Quem ver uma morte dessa
Do pensamento não sai.
5
O senhor José Tomaz
Era o seu progenitor
A mãe maria José
Que com carinho beijou,
Porém dona Mariquinha
Era a mãe, porque criou.
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Amélia desde criança
Que ficou na orfandade,
De morar com os seus pais
Não teve a felicidade
Foi morar em casa alheia
Com oito anos dem idade.
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Mais teve a dignidade
De morar com Mariquinha
Que como criou Amélia
Ela chamava madrinha
Esta lhe criou com zelo
Desde de pequenininha.
8
Amélia lá pelo Cedro
Cresceu e se fez mocinha,
Tendo muita educação
Dada por a Mariquinha,
Digo com conhecimento.
Que antes ela não tinha.
9
Amélia depois de moça
Essa dona Mariquinha,
No sítiol Aba-da-Serra
Morava com uma sobrinha
E Amélia veio passar
Uns meses com Sinhazinha.
10
Amélia quando chegou
Foi grande a satisfação,
De abraçar Sinhazinha
E seguirem em união.
E no meio das vizinhas
Crescia grande ambição.
11
Vicente o dono da casa
Numa bodega vendia
Devido o conhecimento
Muitos negócios fazia,
Ficava Amélia por dona
Quando Vicente saia.
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Ficou ela na bodega
Com gentileza e cuidado,
Para aqueles de costume
Ela vendia fiado
Quando Vicente chegava
Tava pronto o apurado.
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Amélia quando menina
Levava o tempo chorando
Cresceu se pôs uma moça
E só vevia cantando,
Sem pensar que a morte vinha
Dela se aproximando.
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Amélia naquela casa
Tinha grande simpatia
Pois só vevia cantando
Era o dom da alegria,
Quando Amélia não estava
A casa entristecia.
15
Vai se um dia e vem o outro
Até que o dia chegou,
Que o Satanás do inferno
O Ananias atentou,
Que ele com uma foice
A Amélia assassinou.
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Sobre a porta do oitão
Tava Amélia descuidada
Quando chegou Ananias
Sutil e sem dizer nada,
A pobre sem esperar
Recebeu uma foiçada.
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Amélia neste momento
Deu um grito desmedido
E Sinhazinha chamou
Por Vicente seu marido
Pra vê se havia um meio
De segurar o bandido.
18
Amélia com aquele golpe
Um grito bravo soltou:
- Valha me Nossa Senhora,
Ananias me matou,
Estou me esvaindo em sangue
Socorrei-me redentor!
19
Valha – me Nossa Senhora
Meu Jesus de Nazaré.
A fim de atalhar o sangue
Ainda estava na fé,
Que pediu a Sinhazinha:
- Traga a lata do do café.
20
Ela disse essas palavras
E para dentro partiu
Arrependeu-se e voltou
Na mesma porta saiu,
Desceu um pouco e voltando
Perto da casa caiu.
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Vicente Costa subiu
Com Chico ali encostado,
Quando encontrou Ananias
Com olhos de cão danado,
Com um cacete na mão
E uma faca de lado.
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Sinhazinha ia correndo
Pela margem da calçada
E Ananias atrás
De dar uma borduada,
Vicente tomou a frente
Atirou uma pedrada.
23
Vicente errou a pedrada
E ele errou a borduada,
Ali travou-se uma luta
Para o lado da estrada,
Nisto Sinhazinha viu
Amélia em sangue banhada.
24
Amélia disse: - Sinhazinha!
Negrinha me acode aqui,
Sinhazinha respondeu:
- Demore um pouquinho aí.
Que eu venho num instante
Fazer remédio pra tí.
25
Sinhazinha aquela hora
Botou os olhos e foi vendo
Amélia em sangue banhada
Desmaiando esmorecendo,
Porém ainda dizia:
- Sinhazinha estou morrendo.
26
Amélia naquele instante
Não podia mais andar,
Conhecendo que caia
Tratou de se ajoelhar,
Sinhazinha inda chamou
E ela não poude falar.
27
E o tal do Ananias
Foi logo preso e amarrado,
Num tronco de juazeiro
Pelo genro e o cunhado.
Trinta anos de cadeia
Foi ele sentenciado.
28
Depois levaram a Amélia
Colocaram na calçada,
Porém ela quase morta
Sem poder dizer mais nada,
Só fazia abrir a boca
Deitando sangue a golpada.
29
Mostraram a imagem do Senhor
Cravada em ujma cruz
E Francisco de Chicô
Botou-lhe na mão a luz,
Começou logo a orar
Com o nome de Jesus:
30
- Jesus, Jesus, Jesus
Assim Francisco dizia
E tornava a repetir
Jesus, Jesus e Maria
Vinde o anjo da guarda
Para ir na tua guia.
31
Vicente Costa mandou
Um portador avexado:
- Vá ao Cedro. E a chiquinho
Dê esse triste recado
Diga que a noiva dele
Teve óvito inesperado.
32
O portador seguiu logo
Mas muito contrariado,
Entrou pelo Umari Torto,
Como quem ia enganado.
Num jogo de futebol
Chiquinho foi encontrado.
33
Odilon chegou no campo
Contou o que aconteceu
Chamou Chiquinho e lhe dissse:
- A sua amada morreu,
Assassinada inda agora.
Ele alí entristeceu.
34
- Chiquinho a morte de Amélia
Foi assim como uma aviso
Quando avistou Sinhazinha
Não chorou, fez ar de riso,
Ela disse: - Adeus Chiquinho
Até dia de juízo.
35
- Chiquinho a minha morte
Foi rápida e sem defeza,
Porque a vida da gente
É como uma luz acesa,
Receba essa aliança
Oh que hora de tristeza.
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- Coloca essa aliança
No dedo menor da mão,
Tinja de sangue tua alma
E de luto o coração
E se me tem amizade
Sinta a separação.
37
Chiquinho ali provou
Que tinha grande amizade,
Em saber que ela morreu
Foi uma fatalidade,
Ele abraçou a tristeza
Jejuou com crueldade.
38
Ele almoçou a fraqueza
Suspiros soltos jantou
À tarde merendou pena
À noite toda orou,
Quando o dia amanheceu
Mais triste se levantou.
39
Aqui eu deixo Chiquinho
Sem sua amada querida
E volto atrás de Amélia
Que foi quem perdeu a vida
Peço licência aos mais
E faço uma despedida
40
Adeus sítio Aba-da-Serra
Terra de grande alegria,
Fica em paz eu vou embora
Com Deus e Santa Maria
Hoje as onze mil virgens
Serão minha companhia.
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Adeus terra de meus pais
Que eu nasci e me criei,
Adeus padre da freguesia
Matriz que me batizei,
Adeus pequena Laene
A flor que eu mais beijei.
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Adeus casa onde eu morava
Tiá onde eu tecia,
Adeus alpendre querido
Adeus quarto onde eu dormia,
Eu nunca pensei na vida
Que em tua porta eu morria.
Dedico esse verso ao poeta Tarciso Coelho. Que nasceu na localidade onde aocnteceu. E também é parente bem próximo do mcasal que criava Amélia.
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