Uma vez lavado de certas impurezas de origem pelas manifestações que marcaram o domingo, o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff espera a última palavra do Supremo Tribunal Federal (STF) para finalmente dar a partida na Câmara dos Deputados.
Nesta quarta-feira, o STF poderá manter ou revisar as regras que orientarão o rito do impeachment. Mas isso já não importa tanto.
É bem verdade que a presidente resiste a entregar os pontos. Na última sexta-feira, a poucas horas de o país tomar conhecimento de mais um capítulo da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo, Dilma improvisou uma entrevista coletiva para dizer que não tem cara de quem renunciará ao cargo – e, muito menos, de quem está resignada com o fim aparentemente próximo. Foi um desastre.
Sem a ajuda de marqueteiros (o seu está preso, suspeito de ter sido pago no exterior por serviços prestados ao PT e à campanha à reeleição), Dilma mal conseguiu disfarçar o nervosismo.
Estava mais magra do que deveria e mais envelhecida do que há poucas semanas. Disse sandices como de hábito. Enrolou-se com as palavras e cometeu o ato falho de afirmar que “não se renunciaria”. “Eu não me renuncio”, garantiu. Assessores contiveram o riso.
Se não renuncia a si própria e ao cargo, há muito tempo que renunciou a governar. O primeiro ano do seu segundo mandato foi de ausência de governo, de inércia da administração pública carente de dinheiro, ideias e iniciativas.
Enquanto isso o país andou para trás empurrado pela crise econômica mais nefasta desde os anos 30 do século passado. Só não atingiu ainda o fundo do poço porque ao poço, talvez, falte fundo.
A Dilma, além de tudo que sempre lhe faltou como talento e brilho, agora falta apoio para fingir que governa.
Finge governar quando reúne ministros para debater assuntos urgentes, viaja para entregar as unidades do programa Minha Casa Minha Vida, se lembra de sobrevoar regiões em estado de calamidade, e transmite recados pelas redes sociais na impossibilidade de fazê-lo pelo rádio e pela televisão. Teme os incômodos panelaços.
Mas o país suportará que ela siga fingindo governar assim por mais quase três anos? Ou, pior: que se meta de fato a governar sujeita a repetir os trágicos erros do primeiro mandato? Por que seria diferente?
Sob a pressão do PT que cobra um temerário cavalo de pau na condução da economia; do PMDB que começa a desembarcar do governo sem devolver os cargos que ocupa; e das ruas impacientes, Dilma leva algum jeito de poder se recuperar?
Mesmo se levasse jeito, o que não é o caso, sua imagem pessoal de honradez começa a ser posta em xeque. A figura da faxineira ética durou menos de um ano.
Está para ser escrita a história da falsa faxineira que se rendeu às necessidades do PT de roubar e de deixar que roubassem na tentativa de se eternizar no poder. Rendeu-se, não: compartilhou as necessidades. E beneficiou-se dos resultados.
É recomendável que as almas sensíveis e os de estômago frágil se retirem da sala quando trechos da delação gravada de Delcídio puderem ser ouvidos. São chocantes.
Tanto quanto as conversas com auxiliares de Dilma gravadas por empresários delatores.
A Lava-Jato não sequestrou o governo como dizem vozes do governo. Lula, o PT e Dilma foram sequestrados pela própria ambição.
O Brasil, ontem, renunciou a Dilma. Cabe ao Congresso formalizar a renúncia.
"Depois de muito debater com seus auxiliares o que fazer diante dos mais eloquentes protestos de rua contra o seu governo, Dilma Rousseff mandou soltar uma nota. O texto reage ao ronco do monstro com respeito e compostura. Ou seja, a presidente estava completamente fora de si. Descobriu-se que, sem os conselhos do marqueteiro João Santana, preso por ordem do juiz Sérgio Moro, Dilma não é tão Rousseff".
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