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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Faltou equilíbrio e serenidade ao jornalista J. Alcides – por Armando Lopes Rafael (*)



O jornalista J. Alcides tem como característica primordial escrever externando um  comportamento ou opinião inflexível. Ele é o que podemos chamar de extremista ou  radical. Além do mais, J. Alcides escreve ao sabor da última emoção, produz escritos sem se arrimar em  opiniões calcadas na realidade, na veracidade e no bom senso.
Lamentável, profundamente lamentável!
Nesse episódio das demarcações das fronteiras dos municípios da Região Metropolitana do Cariri, talvez patrocinado por versões apressadas, irrefletidas ou mesmo enganosas, ele fez pesados ataques ao povo de Crato, em ilações que – mais dias, menos dias – verá que foram precipitadas, irrefletidas e imprudentes.
Enquanto leremos abaixo a versão do jornalista J. Alcides, veremos também outro artigo sobre o mesmo assunto. Este foi escrito pelo jovem Mauro Cordeiro Filho, uma pessoa sensata, equilibrada, objetiva e que pesquisou sobre o assunto antes de produzir o artigo que passo a transcrever:

“Afinal, onde estou? Juazeiro do Norte e a redistribuição geográfica: mitos e verdades  – Por Mauro Cordeiro Filho
Bandeira de Juazeiro do Norte

O título ficou grandão? Ficou. Mas o burburinho nas vias públicas de Juazeiro e nas redes sociais (calçada virtual) também foi grande. Não é que tenhamos desenvolvido nosso blog com caráter de observatório urbano, mas não podemos deixar de falar sobre o dia 21 de fevereiro de 2017.

Nós, juazeirenses, amanhecemos com uma notícia bomba…

Esse foi o costumeiro “bom dia” dessa terça feira, distribuído nos grupos de celular e redes sociais. Tratava-se na verdade de um texto alvoroçado informando levianamente sobre a nova divisão territorial de Juazeiro do Norte e cidades circunvizinhas.
Quem conhece o Cariri sabe concretamente que é possível, por estrada, percorrer as cidades do triângulo Crajubar (Crato-Juazeiro-Barbalha) com mais de uma rota. O que demonstra por si só uma interligação entre as cidades da região. A propósito, o desenvolvimento da região metropolitana tem apontado para uma ampliação das condições de mobilidade; como é o caso do Projeto do anel-viário (quase em conclusão), com 43km de malha viária, facilitando a locomoção entre Caririaçu-Juazeiro-Crato-Barbalha-Missão Velha.

Acontece que a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou, em 29 de dezembro de 2016, a Lei Estadual n.º 16.198 que descreve os limites intermunicipais de 128, dos 184 municípios do Ceará.
 
Nesse contexto, Juazeiro do Norte, ao lado de  Abaiara, Altaneira, Antonina do Norte, Assaré, Aurora, Baixio, Barbalha,  Barro, Brejo Santo, Campos Sales, Canindé, Caririaçu, Farias Brito, Icó, Iguatu, Jardim, Jati, Lavras da Mangabeira, Mauriti, Milagres, Missão Velha, Nova Olinda, Potengi, Santana do Cariri, Tarrafas, Umari, Várzea Alegre e tantas outras cidades, tiveram seu espaço remodelado. Até Fortaleza teve redimensionamento territorial.
 
Deixando de lado o partidarismo, a explicação mais simples para o estranhamento da população de Juazeiro, se dá pela de falta de percepção de algo que já vem acontecendo há muito tempo: um fenômeno urbano-geográfico chamado de conurbação – típico de regiões metropolitanas.

Do fenômeno urbano
Quando olhamos a legislação remota, de 1911, que eleva o povoado de Juazeiro à cidade, encontramos uma delimitação esparsa do território:
Conforme a Lei Estadual n.º 1028, de 22 de julho de 1911, tem-se que:

Art.2.º: Os limites do Município:
(…)

Linhas divisórias:
Com São Pedro, ao Norte, a linha divisória é o riacho dos Carneiros. Com Barbalha, ao Sul, a linha divisória é a Lagoa Seca. Com Missão Velha, a Leste, a linha divisória é o Rio Carás, no Alto da Jurema. Com o Crato, a Oeste, a linha divisória é o riacho São José.

O que acontece, afinal?
Na realidade é que a expansão de Juazeiro do Norte tem superado o seu limite territorial. A ocupação do território – com loteamento e construção de residências, entre outras intervenções urbanas, acabou que extrapolando o nosso limite – ou ocupando áreas ainda não delimitadas. Ou seja, no processo de extensão de Juazeiro, experimenta-se o fenômeno de conurbação.
 
Conurbação se dá quando duas ou mais cidades se encontram formando um mesmo espaço geográfico. Em outras palavras, dividem entre si o mesmo contexto urbano, diminuindo as diferenças territoriais nas áreas de entorno. É a expansão de uma cidade em direção às cidades vizinhas.

Quando transitamos pelas vias, as placas de trânsito conseguem sinalizar a delimitação dos territórios. No entanto, dentro dos espaços, somente com as glebas de terra, difícil é encontrar os marcos originais de território. Pelos efeitos da conurbação, a grande parte da população – e até o Governo, não sabia exatamente onde começava e terminava os limites município.
Para termos compreensão visual do que é redimensionamento territorial, basta olharmos os mapas da Evolução Territorial do Ceará, entre os anos de 1823 a 2000, elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), que é uma fonte oficial. Numa análise simples é possível observar que o território cearense vem sido alterado no lastro temporal. Haja vista, desde 1920, quase não houve alteração entre os territórios municipais do estado cearense. Aliás, há 66 anos (desde 1951) não há alteração no atlas cearense.

O que é mito?

      Muitas pessoas acabaram repassando informações inverídicas a respeito da divisão. Recebemos um mapa em que se ressalta somente o território mais central da zona urbana, dizendo ser os novos limites de Juazeiro. A Colina do Horto aparece recortada, tendo o principal Cartão Postal da cidade como pertencente à Caririaçu. Até o Aeroporto Orlando Bezerra, praticamente o único em funcionamento na região, agora pertenceria à Missão Velha. Pasmem! Houve até a possibilidade de construírem uma estátua de “Jonas Esticado”, já que a do Pe. Cicero foi embora pra Caririaçu. Foi piada pra gringo ver!

O que é verdade?
A verdade é que não precisamos nos preocupar em fazer ocupações, manifestações ou outros atos similares. Muito menos sair dizendo por aí que Juazeiro foi vendido pro Crato.Alimentar esse tipo de posicionamento só enfraquece as relações sócio-político-econômicas, promovendo um aldeamento regional.

De fato, se ampliarmos o novo mapa, verifica-se que houve sim um redimensionamento. Mas não é verdade a informação de venda de glebas ou de que Horto do Juazeiro agora pertença à Caririaçu.
A Lei Estadual vem para suprir uma carência existencial. Com a moderna tecnologia de georreferenciamento é possível traçar exatamente as coordenadas dos marcos delimitadores. Com a atualização, áreas que até então eram territórios indefinidos, passam a pertencer a um determinado município. Mas isso não altera o contexto urbano em que se encontram.

Se essa região limítrofe não fosse ocupada, certamente não haveria tanta discussão nas redes sociais.


O ponto de maior virtude nessa história, é conseguir levantar um debate atraindo o interesse dos cidadãos em reconhecer o espaço que lhe pertence, que lhe é de direito. Apesar disso, a discussão e apropriação não pode se dá de forma arrogante, incrustando sentimentos desarojados ou sem fundamentação. A Cidade é um direito e deve ser pensada de forma universal e democrática, mas nunca com tom jocoso. 

Procurando o “Norte”!

Vislumbramos sim a possibilidade de surgir alguns problemas nessa história. Algumas situações desconfortáveis já podem ser identificadas. Por exemplo, os loteamentos e as residências que estavam compreendidos nessa área indefinida, que ora achou-se pertencer à Juazeiro, agora pertencem a outros municípios.
A conurbação tem essa característica em si. Quando a concentração urbana limita-se ao centro, não há esse tipo de problema. Mas, quando há expansão à deriva, num processo rápido e contínuo, fica difícil compreender onde realmente é o limite. Na maioria das vezes,  como neste caso, se faz necessário um redimensionamento a partir do cenário urbano hodierno.

Afinal, onde estamos?
Voltando a pergunta que nos insere nesse diálogo urbano: onde estamos? Estamos no Ceará, na Região Metropolitana do Cariri. Estamos juntos e misturados! O Cariri tem um feeling que nos une, ao passo que cada espaço tem traços peculiares. Somos distintos, mas umbilicalmente ligados.
Por isso a importância de um planejamento urbano voltado para as necessidades da Cidade e Região. Uma cidade com desenvolvimento, com acessibilidade… uma cidade universalizada. Se até agora estávamos dormindo quanto aos problemas da urbe, este pode ter sido o estalo que faltava para despertar.
A conversa não para por aqui… Vai ter Parte II, sim!”
***    ***   ***
O leitor agora compare o artigo acima (de Mauro Cordeiro Filho) com o artigo que vai ler abaixo (do jornalista J. Alcides)

Um comentário:

  1. Não conheço esse processo divisório do território entre municípios cearenses. Conheço a historio e em nenhuma época, desde o Padre Cicero e noutros tempos com outras lideranças nunca se votou nada que prejudicasse Juazeiro do Norte. O Povo de Juazeiro está sem lideres, sem representantes a altura do seu contingente eleitoral. E paga caro por isso.

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