A passagem do candidato do PSL à Presidência da República, Jair
Bolsonaro, por Fortaleza tem o poder de criar impacto. Pelos vídeos e
fotos que circulam pelas mídias sociais, parece que há mais gente ao
lado do Mitô do que o diz a vã filosofia.
Em 1950 houve uma campanha ferrenha contra o Getúllio Vargas no Brasil.
Umas das cronistas mais anti-Getúlio da imprensa brasileira era a
escritora Rachel de Queiroz, que escrevia em favor do adversário de
Getúlio. O líder da Revolução de 1930 era chamado de caudilho, ditador,
perverso, manipulador, adepto à censura. Era odiado pelos intelectuais.
Quando as urnas se abriram, Getúlio Vargas estava eleito. Sem espaço
nenhum nos jornais, Getúlio usou o rádio – impulsionado por ele, diga-se
de passagem – e fazia chegar sua mensagem aos milhões de iletrados nos
rincões do Brasil.
No dia 25 de novembro de 1950 foi publicada a crônica “Um pouco de
autocrítica”, que mostrava uma Rachel de Queiroz que reconhecia que a
capacidade dos intelectuais influenciarem o povo era mínima. “A dolorosa
verdade é que o povo não nos lê, o povo não nos conhece. E a pequena
parte dele que nos lê, não nos escuta”, afirma a escritora. Falava no
esforço em vão de recitar a cantilena anti-Getúlio nos cantos das
páginas “pregando no deserto”. Segundo Rachel, enquanto os intelectuais
demonstravam saber de tudo sobre as revoluções dos homens, era Getúlio
quem parecia ter descoberto a chave do coração do povo. Qual é esse
segredo?, questiona a cronista, trazendo para si a razão da escrita:
“Afinal entender e comover as gentes é o nosso ofício”.
Em 2002, Jean Marie Le Pen, candidato de extrema direita chegou ao
segundo turno nas eleições francesas. Foi um susto. Le Pen surgia com um
discurso impossível de se acreditar, afirmando entre outras coisas que
as câmaras de gás usadas na Segunda Guerra Mundial contra os nazistas
eram um “detalhe bobo”. Nessa época, li um artigo que afirmava que a
responsabilidade de Len Pen estar no segundo turno era dos intelectuais
franceses que não haviam ocupado o lugar de debate na França,
minimizando o poder de um discurso neonazista, nacionalista e
conservador.
A passagem do candidato do PSL à Presidência da República, Jair
Bolsonaro, por Fortaleza tem o poder de criar impacto. Pelos vídeos e
fotos que circulam pelas mídias sociais, parece que há mais gente ao
lado do Mitô do que o diz a vã filosofia. A julgar pelo discurso tão
frágil que chega a ser bobo do candidato, mas que toca a tantas milhares
de pessoas, o papel dos intelectuais, se é que existe ainda algum, é
vão. Se Getúlio tinha o rádio, Bolsomito tem os chatbots, tem os grupos
de WhatsApp, tem a rede.
Cheguei à conclusão de que o jornalista Érico Firmo talvez tenha
cometido um equívoco quando disse na coluna de ontem que “Só uma coisa
explica a força de Bolsonaro: o ódio”. Pode também ser fé. Fé irracional
em tudo o que ele fala. Fé que Bolsonaro é o homem que vai resgatar a
família dos libertinos da esquerda, fé que o liberalismo tosco que ele
prega vai salvar o país do comunismo (?), fé que a tortura é o santo
remédio, fé que ele faz cara de mal, mas é bom, fé que é ele é
exatamente como eu e você. Só há duas diferenças entre nós e ele. A
primeira é que é ele quem está lutando pelo poder. A segunda é que ele
poderá ser bem diferente de você, mas sua fé não o deixa perceber.
(*) Regina Ribeiro. Jornalista do O POVO -- E-mail: reginah_ribeiro@yahoo.com.br
O desencanto da população com os políticos é tamanho que havia de surgir algo diferente. Que Deus abençoe Bolsonaro e não permita que as forças viciadas e corruptas o destruam.
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