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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A Imprensa contra Bolsonaro ou contra si mesma? –– por Antonio Jorge Pereira Jr (*)

Publicado no jornal O POVO, 31-08-2018.

    Em dois artigos anteriores havia compartilhado com o leitor critérios para selecionar um candidato. Pensava especialmente nos indecisos. O primeiro texto propunha modo de reduzir racionalmente a quantidade de 13 a 1 (cenário de votação). No segundo, sugeri como pautar a própria escolha antes de ser pautado pelo marketing dos candidatos. Antes de continuar, digo ao leitor que estou indeciso quanto a meu voto. Isso me facilita observar alguns eventos. Por isso, hoje queria falar de outro risco: a tentativa da Grande Mídia de distorcer as eleições. A isso serve pensar no "fenômeno Bolsonaro".

      No começo de agosto Bolsonaro foi entrevistado no Rodaviva e no Globo News. Na última terça esteve no Jornal Nacional. Nos três ambientes os jornalistas se repetiram. Nas perguntas e no tom depreciativo, irônico, por vezes cínico. Julgavam-se hábeis para desbancar o topete do militar. No entanto, a pessoa que encontraram parece que estava além da caricatura. Não se exarcebou, de modo geral. Naturalmente não satisfará nunca parte dos eleitores. Mas soube atenuar o peso de perguntas com ênfase negativa. Conseguiu vender-se para parcela da população como simples e sincero, pelo estilo como respondia. Sua atitude facilitou notar a tentativa quase infantil dos jornalistas de colocá-lo entre bifurcações para "enquadrá-lo", armando-lhe declarações de autocondenação, praticamente estapafúrdias ("então o senhor vai tirar direitos dos trabalhadores?"; "então o senhor vai promover a tortura?). Nessas situações, ele desfazia as questões estruturadas com perguntas simples: "Onde a senhora leu isso, qual a fonte?". 

     Não poucas vezes o jornalista titubeava ou dizia apoiar-se em uma fonte secundária. Ele então reconstruía a narrativa do fato e, a partir disso, respondia. Ao mesmo tempo, muitas desculpou-se por ter passado do ponto. Isso fez ele ganhar empatia de parte do público. E os jornalistas perderam credibilidade. Pelo menos de minha parte. O pacto de desconstrução pode ser observado no site do G1 e no jornal O Estado de São Paulo: nos dois veículos, todos os dias, enquanto os demais têm uma manchete neutra ou favorável, a do Bolsonaro é, sempre, negativa. Fiz tal análise nos últimos dez dias.   

       Até as escolas militares, reconhecidas pelo resultado acadêmico, foram depreciadas por custarem mais, em matéria do jornal O Estado de São Paulo. Balanço: como no filme "A dança dos vampiros", os repórteres estão a gerar o efeito reverso. As entrevistas serviram de combustível para os eleitores do Bolsonaro, que se tornaram mais engajados. Além disso despertaram a curiosidade de outros. Vale lembrar que parte da população se identifica com suas ideias e se sente depreciada quando a imprensa zomba de quem seria um representante dela. Por isso a atitude soa a desrespeito aos eleitores, para além da pessoa do candidato, atitudes que escapam da função da imprensa. Algo parecido foi visto na eleição de Trump. A desinformação, ao invés de gerar o efeito pretendido, teve resultado oposto. Provocou maior engajamento de seus eleitores. O tempo passou. Paradoxalmente, 15 meses depois da posse, Trump atingira maior popularidade que Obama em igual período.

       Por tudo isso, acredito que quando a imprensa se engaja contra Bolsonaro (ou contra outro qualquer) ela está agindo contra si mesma.

(*) Antonio Jorge Pereira Jr. E-mail: antoniojorge2000@gmail.com

Um comentário:

  1. Mídia vendida, corrupta e sebosa. Está trabalhando em favor de quem lhe financiou por anos. Descuida-se que a população é trouxa mais não o suficiente para não notar. E, termina fazendo a propaganda do Bolsonaro de quem tanto fala.

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