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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 20 de setembro de 2018

CARIRIENSIDADE (Por Armando Lopes Rafael)


 
    A força eleitoral do Cariri   

    Nos dias atuais, compõe a região do Cariri 29 municípios. Contam eles com mais de 711 mil eleitores aptos a votar nestas eleições de 2018, a se realizarem em 7 de outubro próximo. Desses eleitores, 295.301 (mais de 41%), residem na conurbação Crajubar (Crato, Juazeiro e Barbalha. Só Juazeiro do Norte tem mais de 160 mil eleitores). E imaginar que, com toda essa força – devido as esdrúxulas leis eleitorais em vigor –  o Cariri não tem um único deputado federal nos dias de hoje
    Se tivéssemos voto distrital o Cariri formaria, com certeza, um distrito eleitoral, como foi na época do Brasil Império. Nada justifica que uma região tão importante e tão povoada seja desprovida de um deputado que represente mais de 1 milhão de habitantes.

O Cariri no tempo da monarquia

    
        Um assunto puxa outro. Pouca gente se dá conta disso. Durante os 518 anos de sua história, o Brasil (do descobrimento em 1500, aos dias atuais), viveu 389 anos da sua existência sob a forma de governo monárquica (entre 1500 a 1889). Ou seja, durante 75% da sua existência o Brasil nunca foi a república, que é hoje. Tanto tempo de monarquia deixou marcas que não se apagam facilmente. Isso nos remete a uma pergunta pertinente: Como era o Cariri durante os quase 200 anos (de 1700 a 1889), quando nossa pátria viveu sob o regime da monarquia?

Cariri real, Cariri verdadeiro 

      Foi significante a presença do Cariri na época da monarquia. Basta lembrar que, em 1847, o engenheiro cratense Marcos de Macedo, deputado pela Província do Ceará, apresentou ao Imperador Dom Pedro II a ideia de transpor as águas do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe, a fim de amenizar os problemas gerados pela seca nordestina. Naquele tempo a ideia não foi concretizada porque a engenharia não tinha condições de realizar uma obra daquele porte. Basta dizer que a dinamite sequer tinha sido inventada.

      À época da monarquia, a sociedade caririense, diferente dos dias atuais, cultivava os valores morais e éticos, como o respeito à família, à propriedade privada e à Igreja Católica.  Dom Pedro II criou, em 1859,  uma Comissão Científica de Exploração (que os cariocas apelidaram de “Comissão das Borboletas”), composta por renomados especialistas,  destinada à investigação  científica, que realizou pesquisas  nas áreas de botânica, geologia, mineralogia, zoologia, astronomia, geografia e etnografia, no Ceará e na região do Cariri.

         Renato Braga assim escreveu sobre a Comissão Científica: “Os viajantes foram bem acolhidos no Crato e demais localidades do Cariri. A todos (cratenses) causou estranheza, para não dizer espanto, a simplicidade de maneiras dos “doutores” a contrastar com a arrogância dos donos de engenho e autoridades (de Crato).

A mentalidade dos súditos caririenses


       O Prof. José Denizard Macedo de Alcântara (foto ao lado), erudito e douto cratense, dá o arremate sobre a mentalidade monarquista que imperava no Cariri. Escreveu ele (na apresentação do livro “Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro”, de Joaquim Dias da Rocha Filho):

       “Um bom entendimento dos fatos exige que se considere a realidade histórica, sem paixões nem preconceitos. A sociedade brasileira (e consequentemente a sociedade caririense) plasmou-se à sombra da monarquia, com todo o seu cortejo de princípios, hábitos, usos e costumes, não sendo fácil remover das populações esta herança cultural, tão profundamente enraizada no tempo; daí o apego (do povo) aos Soberanos, a aversão às manobras revolucionárias que violentavam suas tradições éticas e políticas”

       “Ora, dentre os dados da evolução histórica brasileira há que se ter em conta o seguinte: O centro de gravidade desta sociedade (aqui incluída a sociedade caririense), eminentemente rural, era sua aristocracia territorial, única força social de peso na estrutura nacional, repartida em clãs familiares, e profundamente adita ao Rei, de quem recebia posições públicas e milicianas, além de outras benesses, sentimento este que mais se avolumara com a transmigração da Família Real, em 1808 (de Portugal para o Brasil), pelo contato mais imediato com a Coroa, bem como pelos benefícios prestados ao Brasil, no Governo do Príncipe Regente Dom João VI”.

Como surgiu o Museu de Paleontologia


   O Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri está situado na cidade de Santana do Cariri e funciona como núcleo de pesquisa e extensão daquela universidade.
    Para tanto, dispõe de centro de pesquisa com laboratório, biblioteca e videoteca. Segundo seu criador – o Prof. Plácido Cidade Nuvens – a ideia de viabilizar esse museu nasceu no âmbito da programação das festividades do centenário do município de Santana do Cariri, em 1985.

    Exercendo o cargo de Prefeito, Plácido Cidade Nuvens enviou à Câmara Municipal mensagem com projeto de lei, a qual, depois de aprovada virou a Lei nº 197/85. Em 1991, o museu foi entregue à Universidade Regional do Cariri que, desde então, o administra e é responsável pela evolução e ampliação de suas instalações. O Museu de Paleontologia de Santana do Cariri – além de atração turística – é conhecido hoje em todo o Brasil.

Lendas e Mitos do Cariri 

Fundação Casa Grande de Nova Olinda

    Existe na cidade de Nova Olinda uma ONG denominada Fundação Casa Grande–Memorial Homem-Cariri. Criada em 1992, a partir da restauração da Casa Grande da Fazenda Tapera, esta construída em 1717, no lugar da aldeia dos índios Cariús-Cariris, onde hoje se ergue a cidade de Nova Olinda. 

    A Fundação Casa Grande faz um trabalho de preservação das lendas e mitos que contam a história do Homem-Cariri. Tornou-se, assim, uma escola de gestão cultural que tem como missão educar crianças e jovens através dos programas de Memória, Comunicação, Artes e Turismo. Os mitos, segundo Alemberg Quindins, fundador e presidente da Fundação Casa Grande são narrativas que possuem componente simbólico. Persiste no imaginário das camadas mais simples da população caririense, como acontecia com os povos da antiguidade.

Uma lenda que sobrevive: A Pedra da Batateira

 A nascente da Pedra da Batateira

    Na cidade de Crato, até décadas atrás, a população simples divulgava uma lenda: a de que os índios Cariris, aprisionados e escorraçados pelo povoador branco, haviam “encantado” (tapado) com uma gigantesca pedra, a grande nascente existente no sopé da Chapada do Araripe. Essa “Pedra da Batateira” (assim era chamada) continuou a barrar os milhões de litros de água daquela nascente, represando-as no subsolo. Mas um dia essa pedra não resistiria a força das águas represadas, cederia e inundaria o Crato inteiro e parte do vale do Cariri. Essa lenda era um terror para as crianças no início do século passado. Interessante que esse mito ainda persiste (com menor intensidade) mas, algumas pessoas residentes nos sítios ainda se recusam a morar na cidade de Crato, temendo a vingança da Pedra da Batateira...

Um homem importante para o progresso do Cariri: Dom Quintino

     Embora, nascido no sertão central do Ceará, o jovem Pe. Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva chegou ao Cariri tão logo foi ordenado sacerdote, em 19 de junho de 1887. E daqui nunca mais saiu. Inicialmente se fixou no distrito de Jamacaru (município de Missão Velha). Em 1889 foi nomeado Vigário de Crato. Nesta cidade permaneceu durante 40 anos, até sua morte em 29 de dezembro de 1929.

     Em 10 de março de 1915 foi nomeado primeiro bispo da nova Diocese de Crato, tomando posse em 1º de janeiro de 1916. Deu prioridade, no seu episcopado às causas espirituais. Foi, no entanto, o homem das grandes realizações materiais que modificaram o cenário social e econômico do Cariri.

     Fundou, em 1822, o Seminário Episcopal de Crato, tornando-se o pioneiro do ensino superior no interior do Ceará. Criou, em Crato, os Colégio Diocesano e o Santa Teresa de Jesus. Fundou, em 1921, a primeira instituição de crédito do Sul do Ceará, o Banco do Cariri, que prestou grandes benefícios ao comércio e à lavoura da região. Criou no seu episcopado 5 paróquias, entre elas a de Nossa Senhora das Dores de Juazeiro do Norte.

       A melhor biografia sobre Dom Quintino continua sendo a escrita pelo Pe. Azarias Sobreira (“O primeiro Bispo de Crato”), onde destacou as virtudes morais, o espírito de pobreza e a coragem pessoal que ornavam a personalidade do ilustre prelado.

2 comentários:

  1. Sua postagem é um belo informativo. História, cultura, memória de mãos dadas. Valeu.

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  2. "em 1847, o engenheiro cratense Marcos de Macedo, deputado pela Província do Ceará, apresentou ao Imperador Dom Pedro II a ideia de transpor as águas do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe", pode dar a fonte dessa informação, por gentileza?

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