A força eleitoral do Cariri
Nos dias atuais, compõe a região do Cariri 29 municípios. Contam eles
com mais de 711 mil eleitores aptos a votar nestas eleições de 2018, a
se realizarem em 7 de outubro próximo. Desses eleitores, 295.301 (mais
de 41%), residem na conurbação Crajubar (Crato, Juazeiro e
Barbalha. Só Juazeiro do Norte tem mais de 160 mil eleitores). E
imaginar que, com toda essa força – devido as esdrúxulas leis eleitorais
em vigor – o Cariri não tem um único deputado federal nos dias de hoje.
Se tivéssemos voto distrital o Cariri formaria, com certeza, um
distrito eleitoral, como foi na época do Brasil Império. Nada justifica
que uma região tão importante e tão povoada seja desprovida de um
deputado que represente mais de 1 milhão de habitantes.
O Cariri no tempo da monarquia
Um assunto puxa outro. Pouca gente se dá conta disso. Durante os 518
anos de sua história, o Brasil (do descobrimento em 1500, aos dias
atuais), viveu 389 anos da sua existência sob a forma de governo monárquica
(entre 1500 a 1889). Ou seja, durante 75% da sua existência o Brasil
nunca foi a república, que é hoje. Tanto tempo de monarquia deixou
marcas que não se apagam facilmente. Isso nos remete a uma pergunta
pertinente: Como era o Cariri durante os quase 200 anos (de 1700 a
1889), quando nossa pátria viveu sob o regime da monarquia?
Cariri real, Cariri verdadeiro
Foi significante a presença do Cariri na época da monarquia. Basta
lembrar que, em 1847, o engenheiro cratense Marcos de Macedo, deputado
pela Província do Ceará, apresentou ao Imperador Dom Pedro II a ideia de
transpor as águas do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe, a fim de
amenizar os problemas gerados pela seca nordestina. Naquele tempo a
ideia não foi concretizada porque a engenharia não tinha condições de
realizar uma obra daquele porte. Basta dizer que a dinamite sequer tinha
sido inventada.
À época da monarquia, a sociedade caririense, diferente dos dias
atuais, cultivava os valores morais e éticos, como o respeito à família,
à propriedade privada e à Igreja Católica. Dom Pedro II criou, em
1859, uma Comissão Científica de Exploração (que os cariocas apelidaram de “Comissão das Borboletas”),
composta por renomados especialistas, destinada à investigação
científica, que realizou pesquisas nas áreas de botânica, geologia,
mineralogia, zoologia, astronomia, geografia e etnografia, no Ceará e na
região do Cariri.
Renato Braga assim escreveu sobre a Comissão Científica: “Os viajantes foram bem acolhidos no Crato e demais localidades do Cariri. A todos (cratenses) causou
estranheza, para não dizer espanto, a simplicidade de maneiras dos
“doutores” a contrastar com a arrogância dos donos de engenho e
autoridades (de Crato).
A mentalidade dos súditos caririenses
O Prof. José Denizard Macedo de Alcântara (foto ao lado),
erudito e douto cratense, dá o arremate sobre a mentalidade monarquista
que imperava no Cariri. Escreveu ele (na apresentação do livro “Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro”, de Joaquim Dias da Rocha Filho):
“Um bom entendimento dos fatos exige que se considere a realidade histórica, sem paixões nem preconceitos. A sociedade brasileira (e consequentemente a sociedade caririense) plasmou-se
à sombra da monarquia, com todo o seu cortejo de princípios, hábitos,
usos e costumes, não sendo fácil remover das populações esta herança
cultural, tão profundamente enraizada no tempo; daí o apego (do povo) aos Soberanos, a aversão às manobras revolucionárias que violentavam suas tradições éticas e políticas”
“Ora, dentre os dados da evolução histórica brasileira há que se ter em conta o seguinte: O centro de gravidade desta sociedade (aqui incluída a sociedade caririense), eminentemente
rural, era sua aristocracia territorial, única força social de peso na
estrutura nacional, repartida em clãs familiares, e profundamente adita
ao Rei, de quem recebia posições públicas e milicianas, além de outras
benesses, sentimento este que mais se avolumara com a transmigração da
Família Real, em 1808 (de Portugal para o Brasil), pelo contato
mais imediato com a Coroa, bem como pelos benefícios prestados ao
Brasil, no Governo do Príncipe Regente Dom João VI”.
Como surgiu o Museu de Paleontologia
O Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri está
situado na cidade de Santana do Cariri e funciona como núcleo de
pesquisa e extensão daquela universidade.
Para tanto, dispõe de centro de pesquisa com laboratório, biblioteca e
videoteca. Segundo seu criador – o Prof. Plácido Cidade Nuvens – a ideia
de viabilizar esse museu nasceu no âmbito da programação das
festividades do centenário do município de Santana do Cariri, em 1985.
Exercendo o cargo de Prefeito, Plácido Cidade Nuvens enviou à Câmara
Municipal mensagem com projeto de lei, a qual, depois de aprovada virou a
Lei nº 197/85. Em 1991, o museu foi entregue à Universidade Regional do
Cariri que, desde então, o administra e é responsável pela evolução e
ampliação de suas instalações. O Museu de Paleontologia de Santana do
Cariri – além de atração turística – é conhecido hoje em todo o Brasil.
Lendas e Mitos do Cariri
Fundação Casa Grande de Nova Olinda
Existe na cidade de Nova Olinda uma ONG denominada Fundação Casa Grande–Memorial Homem-Cariri.
Criada em 1992, a partir da restauração da Casa Grande da Fazenda
Tapera, esta construída em 1717, no lugar da aldeia dos índios
Cariús-Cariris, onde hoje se ergue a cidade de Nova Olinda.
A Fundação Casa Grande faz um trabalho de preservação das lendas e
mitos que contam a história do Homem-Cariri. Tornou-se, assim, uma
escola de gestão cultural que tem como missão educar crianças e jovens
através dos programas de Memória, Comunicação, Artes e Turismo. Os
mitos, segundo Alemberg Quindins, fundador e presidente da Fundação Casa
Grande são narrativas que possuem componente simbólico. Persiste no
imaginário das camadas mais simples da população caririense, como
acontecia com os povos da antiguidade.
Uma lenda que sobrevive: A Pedra da Batateira
A nascente da Pedra da Batateira
Na cidade de Crato, até décadas atrás, a população simples divulgava
uma lenda: a de que os índios Cariris, aprisionados e escorraçados pelo
povoador branco, haviam “encantado” (tapado) com uma gigantesca pedra, a
grande nascente existente no sopé da Chapada do Araripe. Essa “Pedra da
Batateira” (assim era chamada) continuou a barrar os milhões de litros
de água daquela nascente, represando-as no subsolo. Mas um dia essa
pedra não resistiria a força das águas represadas, cederia e inundaria o
Crato inteiro e parte do vale do Cariri. Essa lenda era um terror para
as crianças no início do século passado. Interessante que esse mito
ainda persiste (com menor intensidade) mas, algumas pessoas residentes
nos sítios ainda se recusam a morar na cidade de Crato, temendo a
vingança da Pedra da Batateira...
Um homem importante para o progresso do Cariri: Dom Quintino
Embora, nascido no sertão central do Ceará, o jovem Pe. Quintino
Rodrigues de Oliveira e Silva chegou ao Cariri tão logo foi ordenado
sacerdote, em 19 de junho de 1887. E daqui nunca mais saiu. Inicialmente
se fixou no distrito de Jamacaru (município de Missão Velha). Em 1889
foi nomeado Vigário de Crato. Nesta cidade permaneceu durante 40 anos,
até sua morte em 29 de dezembro de 1929.
Em 10 de março de 1915 foi nomeado primeiro bispo da nova Diocese de
Crato, tomando posse em 1º de janeiro de 1916. Deu prioridade, no seu
episcopado às causas espirituais. Foi, no entanto, o homem das grandes
realizações materiais que modificaram o cenário social e econômico do
Cariri.
Fundou, em 1822, o Seminário Episcopal de Crato, tornando-se o pioneiro
do ensino superior no interior do Ceará. Criou, em Crato, os Colégio
Diocesano e o Santa Teresa de Jesus. Fundou, em 1921, a primeira
instituição de crédito do Sul do Ceará, o Banco do Cariri, que prestou
grandes benefícios ao comércio e à lavoura da região. Criou no seu
episcopado 5 paróquias, entre elas a de Nossa Senhora das Dores de
Juazeiro do Norte.
A melhor biografia sobre Dom Quintino continua sendo a escrita pelo Pe. Azarias Sobreira (“O primeiro Bispo de Crato”), onde destacou as virtudes morais, o espírito de pobreza e a coragem pessoal que ornavam a personalidade do ilustre prelado.
Sua postagem é um belo informativo. História, cultura, memória de mãos dadas. Valeu.
ResponderExcluir"em 1847, o engenheiro cratense Marcos de Macedo, deputado pela Província do Ceará, apresentou ao Imperador Dom Pedro II a ideia de transpor as águas do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe", pode dar a fonte dessa informação, por gentileza?
ResponderExcluir