Às
vésperas de completar 30 anos da partida de Luiz Gonzaga, o jornalista
Antônio Rodrigues revisita a terra natal do autor de Asa Branca,
clássico feito em parceria com o cearense Humberto Teixeira
Um trio com sanfona, triângulo e zabumba, em um posto de gasolina, nos
"recepcionava" tocando "A Morte do Vaqueiro". Assim foi minha chegada a
Exu, por volta de 9 horas, no sábado passado (27/julho). À medida que
surgiam visitantes, de passagem para Serrita, onde acontece a
tradicional Missa do Vaqueiro, os pares se formavam nas calçadas e ruas
para dançar. Homem com mulher. Mulher com mulher. Homem com homem.
Do lado pernambucano da Chapada do Araripe, vizinho ao Crato, no Ceará,
formou-se esse pequeno município de 31 mil habitantes. Com mais da
metade da população morando na zona rural, a economia local se dá,
principalmente, pela agricultura e pecuária. Contudo, a terra onde
também nasceu Bárbara de Alencar, a heroína da Revolução Pernambucana,
consegue viver na sombra do sanfoneiro. "Posto Gonzagão", "Farmácia Aza
Branca", "Rua Assum Preto". Por todos os lados, há referências ao homem
que popularizou o xote e o baião. O único lugar em que encontro tantas
citações a um só personagem é a minha terra, Juazeiro do Norte, e sua
devoção quase "onipresente" ao Padre Cícero.
Museu do Gonzagão
O Museu do Gonzagão, idealizado quando o "Rei do Baião" ainda era vivo,
reúne objetos pessoais, certificados, títulos, medalhas, troféus e
prêmios que recebeu ao longo da carreira. Além disso, possui sanfonas
que o acompanharam em momentos marcantes, como a visita do Papa João
Paulo II, em Fortaleza, em 1980, e o último instrumento que empunhou
antes de morrer.
O Parque Aza Branca hoje é o principal ponto turístico de Exu.
Localizado na BR-122, quem cruza Pernambuco com destino ao Ceará ou
vice-versa, costuma parar por lá. Outra dica importante é ir até o
distrito de Araripe, a cerca de 12 quilômetros da sede do Município. Foi
lá onde nasceu Bárbara de Alencar, na Fazenda Caiçara, em 1760. A
poucos metros dali, 152 anos depois, veio ao mundo Luiz Gonzaga do
Nascimento, o único dos nove herdeiros que não carrega os sobrenomes dos
pais, Januário dos Santos e Ana Batista de Jesus. "Luiz", porque nasceu
no mesmo dia que celebra Santa Luzia (13 de dezembro); "Gonzaga",
sugestão do vigário que o batizou, porque também homenageia São Luís de
Gonzaga; e "Nascimento", por ter nascido no mesmo mês que Jesus Cristo.
Seu batismo ocorreu na Capela de São João Batista, que permanece viva na
história do distrito de Araripe.
Prezado Armando Rafael - Este texto é do Dr. Geraldo Menezes Barbosa, um dos maiores escritores da região do cariri na minha avaliação.
ResponderExcluirVeja:
Faz muito tempo, mas aconteceu. Vale a pena lembrar. Após abastecer meu veiculo, a margem da BR 116, descobri sentado, no restaurante, ao lado do seu motorista, o famoso Luiz Gonzaga, de boné e óculos escuros, tendo o olhar voltado para estrada. Estava absorto, talvez lembrando sua terra no Exu ou estimulado pelo cheiro da carne assada que vinha do alpendre.
Luiz trazia no rosto desenhos profundos de um homem amargurado, emagrecido, ombros caídos, em nada se assemelhando aquele biotipo amorenado, monumento vivo de braços valentes repuxando os pulmões da sanfona, estremecendo a plateia no melhor ritmo do reinado do baião daqueles velhos tempos.
Aproximei-me dele para tocar-lhe o ombro, em sinal de identificação amiga dos nossos bons momentos da Radio Progresso de Juazeiro, nos shows delirantes programados.
Luiz Gonzaga! Que bom revê-lo! Nunca mais andou pelo Juazeiro?
Minha saudação de alegria teve uma resposta melancólica. Erguendo a cabeça, o sanfoneiro fitou-me buscando uma identificação que não conseguia e balbuciou triste:
Como vai o senhor?
Resposta anonima e diferente a um passado bem recente, quando nos abraços no acerto de contas dos contratos e na alegria de suas noites de sucessos. Desconversei qualquer coisa e fui saindo entristecido. Seu motorista, ao lado, sinalizou-me com um olhar de decepção confirmando que seu patrão já não era o mesmo.
Prossegui viagem profundamente constrangido por aquele encontro. Sentir que o rei estava próximo de morrer. Já não expressava a simpática eloquência comunicativa de festa interior, quando dissertava o linguajá do baião em livre palestra regionalista, sem a necessidade de olhar para o teclado. Luiz exibia ali um fantasma amargurado de corpo e alma. Havia perdido a alegria de viver, vitima da falta de saúde, decepções e sem esperança por um amanha propicio. Nunca imaginei ver aquele "monarca nordestino" condenado a um abandono de si próprio, sem a capacidade de sonhar. Ele que distribuiu tantos sonhos de amor por esse mundo a fora. Que encantou os terreiros e palcos. Acelerei o carro na certeza de ter visto, pela ultima vez, o mais eloquente folclorista do Brasil.
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