Há
exatos 85 anos, em Juazeiro do Norte, aos 90 anos falecia o santo dos
sertanejos, Padre Cícero Romão Batista. Quase cego. Proibido de celebrar
ou de falar do milagre que presenciou. Obediente. Semana passada, falei
sobre o Padre Cícero. O tema é inesgotável e eu lembrava leitura que
havia concluído: “Padre Cícero: Santo dos Pobres, Santo da Igreja”, de
Ir. Annette Dumoulin, Edições Paulinas, 2017, livro divido em três
partes.
A primeira, o Padre Cícero do ponto de vista da autora, religiosa,
doutora em Ciências da Educação, nascida na Bélgica que um dia chegou a
Recife, encontrou com outro santo, Dom Helder, que lhe indicara ir a
Juazeiro e ali ela se encontrou com o santo Cícero Romão e sua legião de
romeiros. Na segunda parte, o Padre Cícero por ele mesmo, quando a
autora habilmente transforma uma carta do Padre Cícero, num diálogo com
um casal de romeiros, bem esclarecedor e edificante. Na última, Padre
Cícero no ponto de vista do Papa Francisco, lemos a tão esperada
reconciliação da Igreja com o Padre Cícero, pois, ele nunca se afastou
da Igreja, sempre a amou e obedeceu, mesmo quando a injustiça lhe doía
no físico e na alma.
O livro de Irmã Annette tem informações muito peculiares. E se aqui na
terra temos amigos, penso que no céu também as amizades seguem. Todos os
biógrafos do Padre Cícero falam da influência que o Padre Ibiapina
(José Antonio Maria Pereira Ibiapina, advogado, professor universitário,
padre, missionário e santo sobralense), exerceu sobre o Padre Cícero e
vemos uma semelhança a mais entre os dois. Um dia, Padre Ibiapina foi
proibido de visitar sua terra, Sobral, por um bispo da então Diocese do
Ceará, depois, foi obrigado a deixar sua obra missionária no Cariri e o
Padre-Mestre Ibiapina tudo deixou, em silêncio, deixando apenas um
texto. Padre Cícero foi impedido de celebrar no povo que ele transformou
em cidade. Sofreu, mas, nada reclamou. Buscou justiça, mas, esta só tem
se apontado post-mortem.
Outro exemplo é o de Dom Helder que sugere à autora, jovem religiosa
doutora, belga a conhecer o Juazeiro. Na maturidade, eles se reencontram
em Juazeiro e o Bispo Helder Câmara mostra-lhe mais um sinal da
santidade do Pe. Cícero. Conta ele que jovem seminarista foi a Juazeiro
vender assinatura de um jornal da Igreja que muitas vezes criticava o
Padre Cícero. Não vendendo uma assinatura, este assina e recomenda que o
povo assine. E o Servo de Deus Helder Câmara sai de Juazeiro com uma
caderneta de assinaturas. São atitudes de santidade.
Neste 20 de julho, lembramos também o dia do amigo, da amizade. O Padre
Cícero se dirigia a todos como amiguinhos, “amiguinho”. E a data da
entrada de Padre Cícero na pátria celeste, 20, é antecedida e precedida
de eventos marcantes na vida do santo de Juazeiro: 21/07/1891 é a data
da nomeação da primeira comissão para analisar os fatos ocorridos em
Juazeiro, em 01/03/1889; o dia 22/07/1911 foi a criação do Município de
Juazeiro, do qual Pe. Cícero foi o primeiro prefeito (único cargo
político que ele exerceu); em 22/07/1914, ele foi eleito 1º
vice-presidente do Estado do Ceará, mas, não assume nem reivindica o
cargo. A 20 de julho de 1934, ele faleceu em sua casa, cercado pelos que
o amavam e admiravam. Suas ultimas palavras, conforme Ir. Annette,
foram: “No Céu, rezarei para cada um de vocês”.
A bênção, meu Padim!
(*) José Luís Lira é
advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do
Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito
Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina)
e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É
Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte
livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais
brasileiras.
Padre Cicero, um homem muito adiante do seu tempo.
ResponderExcluir