Esta é uma homenagem a todos os artistas populares do Nordeste, a partir da figura central do maior e mais irreverente poeta caririense: Zé de Matos, que viveu nos engenhos de rapadura e botequins de Crato e Barbalha no início de século passado.
O pouco que restou do poeta popular foi transmitido de boca em boca, de língua em língua, por sucessivas gerações, como um verdadeiro brado contra a voraz destruição do tempo, o esmaecimento da memória do povo, o estilhaçamento da memória nordestina.
O que restou da poética de Zé de Matos é suficiente para demonstrar categoricamente a grandeza de sua arte. Nela estão presentes o anarquismo, a irreverência, a picardia e a iconoclastia tão marcantes ainda hoje nos filhos genéticos ou adotivos do Crato.
Certa feita Zé de matos de passagem por Barbalha se arranchou na casa de um rico fazendeiro proprietário de engenho. Foi convidado a fazer um verso. Nesse dia o homem estava enfadado e indisposto. O fazendeiro insistiu : Você lá é poeta, você lá sabe fazer poesia. Se fosse poeta fazia.
Em Barbalha tudo ou quase tudo girava em torno do Dr. Leão Sampaio. Era o deputado, era o prefeito, era o médico e o amigo.
Zé de Matos metrificou:
Terra de um homem só,
Procuro outro e não vejo,
Quem diz que Barbalha é terra,
Diz também que merda é queijo.
A ser solicitado para fazer um verso, dizendo que Cristo não tinha ressuscitado, Zé de Matos respondeu:
ResponderExcluir“Eu li num livro sagrado.
Que Jesus, Rei da Judéia.
Por José de Arimatéia.
Foi num sepulcro enterrado.
Ali foi posto e selado.
Mas a pedra revirou.
O corpo se levantou.
Saiu andando feliz.
Só protestante é quem diz.
Cristo não ressuscitou”.