Para quem que ainda não ouviu falar na Beata Nhá Chica, informo que este era um apelido dado a Sra. Francisca Paula de Jesus, filha e neta de escravos. Dona Francisca de Paula de Jesus – mais conhecida por Nhá Chica –, foi beatificada pela Igreja Católica em 2013. Nascida em Minas Gerais, em 1808, num distrito do município de São João del Rey, aos dez anos, em 1818, ela acompanhou sua mãe que se mudou para a vila de Baependi. Nesta última cidade, Nhá Chica viveu toda a sua vida, vindo a falecer – em odor de santidade – em 14 de junho de 1895. Ficou órfã de mãe aos dez anos de idade. E a partir daí viveu sozinha. Dizia Nhá Chica que “cresceu e viveu sob os cuidados de Nossa Senhora”. Nunca aceitou propostas para casamento.
Nhá Chica era analfabeta. Na infância aprendeu com a mãe a amar a Deus e fazer caridade às pessoas, sem distinção. Tinha profunda devoção a Virgem Maria. Venerava, no seu humilde lar, uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição. Em frente a essa estatueta rezava por horas seguidas... E nesses colóquios recebia orientações para ajudar a quem a procurava. Ganhou fama de uma mulher santa, visionária, que sempre acertava nas profecias anunciadas.
Quando de sua beatificação, o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança escreveu: “Durante muito tempo o Brasil católico — a Terra de Santa Cruz — sentiu a ausência de santos brasileiros reconhecidos. Afortunadamente eles vêm chegando, como a manifestar o desvelo da Providência em que nossa Nação conte, nessa quadra histórica, com mais intercessores. E Nhá Chica é muito genuína e caracteristicamente brasileira, por suas origens, seu temperamento, sua bondade, sua Fé singela e íntegra.”
Mas voltemos ao título e assunto deste artigo. Com fama de vidente, Nhá Chica foi procurada, em 1889, por um grupelho de “republicanos” de Baependi, torcedores da derrubada do Imperador Dom Pedro II do Trono Brasileiro e da implantação do regime republicano na nossa pátria. No livro “Nhá Chica, perfume de rosa – Vida de Francisca de Paula de Jesus”, o escritor italiano Gaetano Passarelli, narra o fato: “Um deles saiu-se com o seguinte pedido: “Dona Francisca, reze para o Senhor ajudar a mandar embora o Imperador”. A anciã o fitou e ficou impassível. A essa altura, ela perguntou: “Por quê? é uma ingratidão com relação ao Imperador, ele é o pai de todos nós”.
Desconsolados, eles pediram então que ela fizesse pelo menos a previsão de quem venceria a disputa: se os monarquistas ou os republicanos. Nhá Chica disse que iria rezar diante da imagem de Nossa Senhora da Conceição e voltaria com a resposta. Retirou-se. Depois de algum tempo voltou e disse: “Podem gritar: República”. Entretanto, em 1895, pouco antes de falecer, Nhá Chica teve uma longa conversa com o médico Henrique Monat. Este deixou escrito detalhes do encontro. Durante o diálogo com Monat, Nhá Chica deu seu veredito sobre os rumos do regime republicano no Brasil: “Estou vendo a República como uma coisa sem consolo nem sossego”.
A profecia de Nhá Chica, feita há 125 anos, não poderia ser mais exata...
Fonte
de Consulta: PASSARELLI, Gaetano. Nhá Chica, perfume de rosa – Vida de
Francisca de Paulo de Jesus. Edições Paulinas. São Paulo, 2013. Páginas
151,152 e 171.
Prezado Armando - Quem vivia sob os cuidados de Nossa Senhora não podia nem devia aceitar propostas de casamento. A vida de Nhá Chica já era completa de paz, harmonia e resignação.
ResponderExcluirQuanto aos republicanos sebosos, nojentos e corruptos conseguiram o que queriam, transformaram o Brasil na casa de Mãe Joana que é hoje.
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Recomendo a leitura inteira da entrevista, nela Nha Chica diz que perguntaram se poderiam gritar Monarquia, ao que ela responde que não, que não era essa a vontade de Nossa Senhora. Ela diz ainda que obedece, e que Deus escreve por linhas tortas e que se essa era a vontade dele, ou seja, que se estabelecesse a República, que assim deveria ser. Ainda faz considerações sobre a Revolução Federalista e sobre como a antiga constituição era pior para os Negros que poderiam ser maltratados e surrados pelos senhores sem punição, porém todavia reforça essa percepção de desassossego na República.
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