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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Dia do juizo final - Por Mundim do Vale


No ano de 1932 além da grande seca, surgiu um boato em Várzea Alegre, de que São Raimundo tinha aparecido a uma beata dizendo que o mundo ia se acabar ás 05 horas da tarde do dia 13 de Agosto. Dizia ainda, que o sinal seria: Três estrondos semelhantes a trovão. O primeiro ás 15 horas, o segundo ás 16 horas e o terceiro e último ás 17 horas.
A pequena população ficou em polvorosa. No dia marcado algumas famílias resolveram reunir-se na usina de Vicente Primo, para rezarem e morrerem juntas. Entre as famílias estava a do escultor de São Raimundo Nonato, Zé de Toim, a sua família era composta do casal e sete filhos. Um desses filhos era Valdomiro ainda garoto. Na usina as famílias reunidas começaram as rezas: Ave Maria – Salve Rainha – Pai nosso.
Nesse momento a mãe notou a ausência de Valdomiro e muito preocupada falou: - Oh meu Deus, cadê Valdomiro? Onde se socou esse menino? Porque não está aqui para morrer junto com a gente? Ou Zé! Vá cassar o bichim vá! Enquanto isso Valdomiro já estava na Betânia acompanhado de outras crianças. Chegaram na casa de Vicente Cassundé, encontraram vazia porque os moradores também estavam rezando na usina. Daí começaram a malinar em tudo que encontravam. Tinha na dispensa um tubo de guardar legumes que estava vazio e no canto da parede um pau de bater arroz. Quando Valdomiro viu o pau falou: Eu vou já fazer o primeiro sinal. Deu uma pancada tão violenta naquele tubo, que com o silêncio que havia naquele momento, toda a cidade escutou. Lá na usina começou o chororou; Valei-me São Raimundo. Valei-me meu Padim Ciço! Foi o primeiro sinal! Uma hora depois Valdomiro disse: Tá na hora do segundo sinal. Deu uma pancada mais forte do que a primeira, de tão forte que foi, fez calos nas mãos. Lá em baixo na usina nessa hora do segundo aviso já caiu uns quatro ou cinco idosos com ataques. Depois da arrumação Valdomiro desceu para a usina, onde a mãe chorava pensando não ver mais o filho. Nessa hora já tinha mais de dez com a vela na mão, foi quando o Mestre Horácio perguntou: E o último sinal que hora é que vai ser? Zé de Toim olhou no relógio de algibeira e falou: já passa 15 minutos eu acho que não vai ter mais sinal não. Valdomiro falou: Vai não pai! Eu não vou mais bater naquele tubo não, porque eu já tou com as mãos toda imbatocada. – Pois tu vai ficar também com o espinhaço imbatocado depois das lapadas que eu vou lhe dar.
Aquele não foi o dia do juízo final, mas Jorge Siebra foi chamado para atender Valdomiro e mais de quarenta idosos. Dedico este causo ao meu grande amigo Zé Haroldo, neto do escultor de São Raimundo, Zé de Toim.
Por Mundim do Vale.

4 comentários:

  1. Valdemiro era um danado. O que tem de historias dele não há quem conheça. Essa por exemplo não a conhecia.

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  2. Meu grande amigo Nanum (Pierre chamava NANÚ)!

    Depois da nossa conversa na casa de Graziela, eu você e Mundinho de Chico Luís, passei a acompanhar o Blog e confesso que adorei.

    Gostaria de parabenizar o meu amigo Morais pela idéia do blog e por ter você a apoiá-lo com os seus brilhantes "causos" de nossa querida Várzea Alegre.

    As histórias de tio Valdemiro são todas muito engraçadas e eu confesso que ele era o tio com quem eu mais me identificava. Sempre alegre, não tinha tempo ruim pra ele, gostava de desafios. Ele próprio me contou a história de quando ele foi pedir madrinha Julinha em casamento e eu quase morri de rir. Mas ela tem que passar pela censura do Morais pois tem um chute em determinada parte de um cachorro e eu não sei se posso contar com detalhes.

    De qualquer forma, vocês estão de parabéns e me coloco à disposição do amigo Morais para colaborar no que me for possível.

    A propósito, gostaria de informar ao Morais, no sentido de esclarecimento em nome da credibilidade do excelente blog, que o Padre José Gonçalves (que era irmão da minha avó materna Josefa Gonçalves Bezerra) tem como sobrenome Ferreira e não Pereira como consta em alguns "causos". Isso porém não tira o brilho dos mesmos (causos) e serve apenas para questão de registro.

    Obrigado pela dedicação do causo de Tio Valdemiro e contem comigo, pois já virei "tiete" do Blog.

    Morais, parabéns, meu amigo.
    Abraço!

    Taloim (Pierre chamava de TALUIM).

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  3. Prezado Jose Bezerra.

    Agradeço pela visita. Muito obrigado pela correção, eu sempre soube que era Ferreira e não Pereira. Deve ter sido erro de digitação. Estarei fazendo a devida correção. Caso o amigo tenho interesse em postar alguma mensagem no nosso blog estamos as ordens basta para tanto enviar e-mail para: moraisenair@hotmail.com que faremos a postagem. O Mundim do Vale vem mantendo o Blog quase sozinho está precisando de adjetorio. Um forte abraço.
    A.Moraissince

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  4. Taluim.Obrigado pelo seu comentário
    sobre o causo. Eu não quero aqui ser um Tiradentes com o pescoço dos outros, mas esteja bem á vontade no blog do Sanharol, você é um conterrâneo que muito valoriza as coisa lá de nós.
    Abraço.
    Nanu.

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