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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 10 de outubro de 2009

O Brasil já foi governador por uma mulher – por Armando Lopes Rafael



Em 14 de novembro de 1921, falecia no exílio a Princesa Isabel, a Redentora. Para quem não sabe, ela foi a única mulher a ocupar a Chefia de Estado, no continente americano, no século passado. Pois foi Regente do Império do Brasil em 3 ocasiões, as quais somadas totalizam mais de três anos, quando substituiu seu pai, o Imperador Dom Pedro II. Ainda hoje, 119 anos depois do golpe militar que instaurou a República, nenhuma mulher chegou a ocupar o cargo de Presidente do Brasil.

Uma das primeiras preocupações do historiador deve ser a análise do fato histórico a partir da mentalidade da população, ao tempo que esse feito ocorreu. É fácil lançar libelos contra figuras e casos da nossa história quando se julga acontecimentos de cem ou duzentos anos atrás, pela ótica do hoje. Uma análise serena requer um recuo ao modus vivendi da época.
A servidão da raça negra é um desses exemplos.
A escravidão ocorreu em quase todo o mundo. Teve início no século XVI, por necessidade da mão-de-obra para as lavouras das terras que eram descobertas. O regime de sujeição da simpática raça negra não foi criação da sociedade brasileira. A história nos mostra: no nosso país quem mais combateu a mancha da escravidão negra foi a Família Imperial Brasileira. A família de Dom Pedro II não possuía escravos para dar o bom exemplo à sociedade.
Cabe a pergunta: por que Dom Pedro II não acabou de vez com a escravidão? Não estava ao seu alcance emancipar os escravos! Diferente de hoje, à época do 2º Reinado a maioria do Parlamento era contrária às iniciativas do Imperador e favorável à manutenção da escravidão. Fortes razões econômicas motivavam deputados e senadores do Império a manterem o status quo. O Poder Legislativo Imperial era tão respeitado, que, em 1910, Rui Barbosa escreveria: “Na Monarquia o Parlamento era um escola de estadistas. Na República converteu-se numa praça de negócios".
No 2º Reinado vivíamos num Estado de Direito Democrático. A imprensa era livre. O Partido Conservador e o Partido Liberal se revezavam no poder. Circulava até um jornal republicano defendendo a queda da Monarquia. A Constituição do Império, que nunca fora desrespeitada (como viria a acontecer várias vezes sob a República) não concedia ao Imperador, por exemplo, dispor de um instrumento tipo a Medida Provisória, usada e abusada hoje pelo Presidente da República, o poderoso Lula da Silva.
Entretanto de Dom Pedro II e da Princesa Isabel partiram todas as iniciativas que visavam extinguir, de forma gradual, a escravidão no Brasil. Utilizaram para isso o respeito, prestígio e confiança de que eram portadores junto à sociedade brasileira, influenciando parlamentares e ministros nesse objetivo. Tudo feito constitucionalmente, através de leis conhecidas como: "Euzébio de Queiroz" (1850), "Nabuco de Araújo" (1854) "Lei do Ventre Livre" (1871), "Lei dos Sexagenários" (1885), culminando com a "Lei Áurea", proposta e sancionada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, que libertou definitivamente os negros do injustificável cativeiro...

4 comentários:

  1. Excertos de um depoimento do bisneto da Princesa Isabel, Dom Luiz de Orleans e Bragança:

    “A 15 de novembro de 1889, os militares que estavam no Rio de Janeiro — eram minoria, representavam um terço do Exército brasileiro — proclamaram a República. O golpe foi totalmente alheio à vontade do povo. Tanto que os republicanos embarcaram a Família Imperial rumo ao exílio, à noite, para que não houvesse reação popular. Na partida, a Princesa Isabel passando junto à mesa onde havia assinado a Lei Áurea, bateu nela o punho fechado e disse: “Mil tronos houvera, mil tronos eu sacrificaria para libertar a raça negra”.

    “D. Pedro II recusou 5 mil contos de réis — cerca de 4 toneladas e meia de ouro, uma fortuna — que lhe ofereceram os republicanos golpistas, porque, dizia, o novo governo não tinha direito de dispor assim dos bens nacionais. Da. Teresa Cristina, mal chegando a Portugal, morreu de desgosto no Grande Hotel do Porto. Eu lá estive há alguns anos, quando o hotel inaugurou uma placa em memória dela. E D. Pedro II faleceu a 4 de dezembro de 1891, no Hotel Bedfor, em Paris, onde uma placa recorda o passamento do ilustre hóspede. Tal era o prestígio que cercava sua pessoa, que a República francesa concedeu-lhe funerais completos de Chefe de Estado, contrariando o governo republicano brasileiro que se sentia incomodado com o prestígio do nosso imperador”.

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  2. Parabens Armando pelo excelente texto historico.

    Como observador levanto as seguintes avaliações:

    Um dos fatos que mais contribuiram para a queda da monarquia foi o fim da escravatura. Este fato nobre e talvez o mais sublime de um governante na historia do Brasil, atingiu interesse poderosos da epoca.

    Os Inconfidentes Mineiros reagiram diante de um imposto de 1/5. Hoje o Brasileiro para 2/5 e não se sabe que fim o dinheiro arrecado toma. Até calote sofre da parte que pagou a mais por parte do Governo.

    Os monarcas cuidam do reino como uma "joia rara", que haverá de ficar para filhos, netos etc. Quem haveria de desejar deixar algo ruim para seus descendentes? Por esta razão nos paises governados pelo regime Monarquico não se tem conhecimento de tanta corrupção, desordem e anarquia. Todos, sem exceção, apresentam ao mundo preceitos de moralidade e descencia. Quando a chaga da corrupção acontece é enfrentada com o rigorda justiça, com punição, com cadeia.

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  3. Caro Morais:

    É verdade. Comparando popularmente a forma de governo monárquica com a forma republicana, poderíamos fazer uma analogia com quem possui casa própria e quem mora em casa alugada. Quando a casa é própria e uma torneira aparece quebrada, substituímos imediatamente por outra nova. Afinal, temos de resolver o problema pois continuaremos a residir no imóvel por tempo indeterminado. Quando se mora em casa alugada faz-se um “remendo”, amarra-se a torneira com arame etc. Afinal, todo inquilino é sempre transitório.
    Igual a um presidente de república.
    Este sabe que tem um prazo certo para deixar as benesses da “viúva” e quem vier atrás que feche a porta...Às vezes até foge do cumprimento do dever pela renúncia covarde como fez Jânio Quadros.
    Além do mais um Monarca garante unidade, estabilidade, continuidade e planejamento a longo prazo. Na república quando entra novo governante manda paralisar as obras do antecessor se este foi seu adversário.
    O Rei não pertence a nenhum partido político. Não chegou ali por conchaves e sim por um direito. Governa para todos, indistintamente. Já o presidente chegou ao poder por alianças políticas, nem sempre legítimas. Será um pai para os seus correligionários e um padrasto para os adversários.
    Lula foi eleito com 60% dos votos do eleitorado. Significa dizer que 40% dos brasileiros não o queriam como presidente.
    O Rei une. O presidente divide.
    O Rei foi preparado desde a infância para o exercício do cargo. O presidente muitas vezes nunca administrou nada e é improvisado como Chefe de Governo e Chefe de Estado.
    E por aí vai. Se eu fosse enumerar as vantagens da Monarquia e as desvantagens da república o escrito ia longe...

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  4. Em 1.887, a estatística oficial acusava a existência de mais de 720.000 escravos em todo o país.

    O ambiente geral era de apreensão ante a expectativa da promulgação da lei Áurea, que feria os interesses particulares de todas as classes conservadoras com a libertação de tantos escravos de uma só vez.

    Segundo esses conservadores, a abolição da escravatura constituía um duro golpe na fortuna pública.

    Somente os abolicionistas estavam contentes com o andamento do processo libertador.

    D. Pedro II, liberal por natureza, tinha vontade de decretar a libertação de todos os escravos, mas, ponderado e conhecedor dos terríveis exemplos da guerra civil que ensangüentara os Estados Unidos da América, durante longos anos na campanha abolicionista, evitava a tomada de uma decisão extrema.

    Contudo ficou muito feliz quando a sua filha promulgou a Lei do Ventre Livre. Isto era o inicio da extinção gradual do cativeiro.
    ____________XXXXXXXXXX_____________

    Quando da Proclamação da República, D. Pedro II não permitiu que se derramasse uma gota de sangue no imprevisto acontecimento.

    Ele amou de tal forma o povo brasileiro, que recusou a montanha de dinheiro que lhe era oferecida, pedindo simplesmente um travesseiro de terras do Brasil, para no seu exílio de saudade e pranto lembrar desse povo.

    Vicente Almeida

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