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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

GAROTO PROPAGANDA - Por Mundim do Vale

Não ganhei nenhum presente
Na passagem do natal,
Porque Noel não é gente
É um boneco virtual.
Fui dormir na esperança
De ganhar uma lembrança
Mas perdi a minha fé.
Na hora que acordei,
Na meia só encontrei
O mal cheiro de chulé.

Fiquei mais contrariado
Porque um vizinho meu
Mostrou um carro importado
Que papai Noel lhe deu.
Será que o bom velhinho,
Enxergou só meu vizinho
Porque anda caducando?
Ou será por preconceito,
Que ele age desse jeito
Só de rico se lembrando?

Já perdi esperança
Nesse Noel trapaceiro
Que só visita criança
Se o pai tiver dinheiro.
Pois eu lhe digo, Noel:
- Eu tenho um pai lá no céu
Que não gosta, disso não.
Quando seu filho nasceu,
Foi pobre assim como eu
Mas deixou uma lição.

Você com o seu saco cheio
E a bengala na mão
Onde tiver aperreio
Não passa por perto não.
Não conhece favelado,
Filho de desempregado
Subproduto de gente.
Porém a casa bonita,
No natal você visita
Para deixar o presente.

Será se você existe
Ou não existe sou eu?
Eu tou aqui muito triste
Por conta do jeito seu.
Passou cantando: - Ou, ou, ou....
Mas comigo não deixou
Nem um pequeno peão.
Ficou seco, o saco seu,
Mas você encheu o meu
De revolta e exclusão.

Você só não sabe disto
Porque é um boneco mal
Mas é para Jesus Cristo
Toda festa de natal.
Você só gosta do cobre,
Não anda em casa de pobre
Porque a mídia não manda.
É uma peça do mercado,
Que foi muito bem treinado
Pra garoto propaganda..

Mundim do Vale


3 comentários:

  1. Mundim eu penso como voce, porque é um periodo de alegrias para os que tem muito e tristezas para excluidos, e o tal Noel só visita aquele que já tem de sobra, e, esquece os que mais precisam.

    Como sempre sua poesia alerta para este detalhe, e mostra que existe muita falação e pouca ação no sentido de saimos desta situação de enganação.

    Um abraço.

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  2. Mundin, se você encontrar na sua cidade um velhinho de botas, gorro, roupa vermelha e com um saco pendurado: Cuidado! Corra! pois este elemento poderá ser um tarado. O Papai Noel não existe.
    Ele é fruto apenas da nossa imaginação. Brincadeira.

    O Papai Noel ainda é o principal morador do imaginário popular. É o veículo que nos leva de volta à infância e aos prazeres de uma época sem preocupações e problemas.

    Um Abraço.

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  3. Morais e Polvinha.
    Para desenvolver esse poema de natal, eu me inspirei em um causo antigo lá de nós.
    era mês de dezembro e Antônio de Rosa Pagé ainda criança, brincava com outros garotos, que diziam que no natal Papai Noel vinha botar presentes embaixo das suas redes.
    Foi o bastante para Antônio sair dizendo em toda parte que também ia ganhar. No dia 24 ele foi dormir mais cedo para que chegasse logo o outro dia. Seus pais num total descuido, esqueceram de colocar pelo menos uma lembrança simbólica, para que o garoto não sofresse aquela frustação. Na hora que Antônio acordou passou a maõ por baixo da rede e o chão tava mais limpo do que o terreiro de madrinha Lêlê.
    Enquanto estava em casa ficou até calmo, mas quando saiu na rua que viu a criançada toda com brinquedos, dizendo que tinham ganhado de de Papai Noel, ficou triste e disparou num choro de fazer pena. Chegando em casa seu primo Luizão Pagé perguntou:
    - Que qui tu tem minino?
    - É pruque Papai Noé num trouve presente pra eu.
    - Deixa de ser besta Antônio! Qui papai Noé num inziste não.
    - Inziste sim! Qui ele deu brinquedo os fí de Luís Proto os de Chico Francisco e os de Dr. Lemo. Agora quem num Inziste é nóis, qui samo fí de pobe.

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