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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 9 de março de 2016

Páginas da História do Cariri - por Armando Lopes Rafael

Pinto Madeira

O Cariri esteve – durante alguns anos do século XIX – dividido entre simpatizantes da ideologia republicana e adeptos da Monarquia. O confronto dessas idéias foi motivo de contendas as mais variadas.


Joaquim Pinto Madeira era o que poderíamos chamar de caudilho. Rico proprietário rural e chefe político da Vila de Jardim, era por índole um afeiçoado às coisas da Monarquia. Foi fundador da sociedade secreta “Trono do Altar”, que defendia a monarquia absoluta. Lutou ele, ativamente, contra os promotores dos movimentos libertário-republicanos da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador de 1824.

Após a derrota da família Alencar, em 1817, coube a Pinto Madeira, à época ocupando o posto de Capitão de Ordenança, conduzir até a cidade de Icó os 20 malogrados presos políticos - do clã dos Alencar e alguns agregados a essa família - da sedição de Crato. Provavelmente, durante o percurso, esses prisioneiros sofreram humilhações por parte do caudilho. O que era esperado, face ao temperamento belicoso de Pinto Madeira.
Em 1831 o imperador Dom Pedro I abdicou do trono brasileiro e voltou para Portugal, onde tomou o nome de Dom Pedro IV. Os adversários de Pinto Madeira aproveitaram esse acontecimento para dele se vingar. Acuado, o caudilho, com a ajuda do vigário de Jardim, Padre Antônio Manuel de Sousa, armou cerca de dois mil homens, a maioria com rudimentares espingardas, e invadiu o Crato, em 1832, para dar caça aos seus inimigos liberais. Dizem que de tanto abençoar as espingardas dos jagunços e, na falta destas, dar bênçãos a cacetes (pequenos bastões de madeira) o Padre Antônio Manuel de Sousa ficou conhecido como "Padre Benze - Cacetes".

Pinto Madeira e o Vigário Manuel foram vitoriosos no Crato, mas logo começaram a sofrer reveses. Terminaram por se render ao General Pedro Labatut, um mercenário francês que atuava no Brasil, desde as lutas pela independência. Presos, ambos foram enviados para Recife e depois para o Maranhão. Pinto Madeira retornou preso ao Crato, em 1834, onde, num júri parcial – composto por antigos inimigos seus – foi condenado à forca, sentença posteriormente comutada para fuzilamento, em face de o réu ter alegado sua patente militar de Coronel.

“Morreu virilmente Pinto Madeira. Conta a tradição, ouvida por mim desde menino, que momentos antes do fuzilamento, ofereceu-lhe um lenço, para que vedasse os olhos, um dos seus mais implacáveis inimigos. Recusou o condenado a oferta (...) Durante anos a fio, fez-lhe promessas o rude povo do sertão, considerando-o um mártir, isto é um santo”. (Cfe. Irineu Pinheiro, na monografia: “Joaquim Pinto Madeira”, Imprensa Oficial do Ceará. Fortaleza, 1946, página 21).

Texto de Armando Lopes Rafael

14 comentários:

  1. Joaquim Pinto Madeira nasceu no Sítio Silvério, sopé da Chapada do Araripe, no município de Barbalha.

    As cidades de Barbalha e Juazeiro do Norte homenageiam este caudilho como nome de uma de suas ruas. Em Crato, Pinto Madeira é o nome oficial do bairro anteriormente conhecido com Barro Vermelho.

    Em Fortaleza existe também uma importante rua no centro que termina no bairro Aldeota denominada “Pinto Madeira”.

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  2. Armando.

    Mais uma vez voce tras um belo texto, uma pagina triste da historia vivida em nossa região nos seculos passados. Mais uma colaboração que no futuro servirá de pesquisas para os leitores interessados sobre o assunto.

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  3. Já enviei recortes desta História, que inclui Várzea Alegre, pois o e ncontro do grupo de Pinto Madeira e as tropas do governo, se deu em nossa cidade, mais precisamente onde hoje é o Sitio Iputi, onde morreram muitos homens e a tropa de Pinto Madeira que restou fugiram desordenados rumo ao Cariri.

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  4. Aprecio ler a História do nosso Brasil, através de dois nomes, da atualidade, o gaucho Eduardo Bueno e o cratense Armando Lopes Rafael.
    Excelente texto da nossa História.
    Parabéns Armando.

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  5. Giovani, suas historias sobre o povo de Várzea Alegre são pra lá de engraçadas, chego a chorar de rir.
    Agora, me explique esta: Se o Sítio Iputi, situa-se em Várzea Alegre e Várzea Alegre é Cariri, como pode a tropa fugir desordenada para o Cariri?
    De duas uma, ou eles fugiram para outra região ou se espalharam pelo Cariri, não foi? rs rs rs

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  6. OK,Armando
    São matérias como essa que o leitor do blog gosta, meus parabens.

    José S. Bitu

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  7. Maria da Gloria.

    Varzea-Alegre pertence a região centro sul do estado, nas divisões das regiões administrativas. Pertence a Região de Iguatu. Os municipios do cariri começam nas divisas com Farias Brito e Caririaçu. O relato do Giovani é exato. Ele me enviou eu não postei porque era um pouco longo e não tive o tempo de resumir de modo que o leitor entendesse os fatos.

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  8. Morais, obrigada pela correção e informação. Eu estava em dúvida se Várzea Alegre é Cariri ou Centro Sul do Estado. Por isso peço desculpas ao bom contador de estórias Giovani que falou com propriedade.

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  9. Sr. Zé Bitu
    É muito bom vê-lo entre nós. O senhor é um varzealegrense muito simpático, gentil e amável.
    Parabéns! Fique sempre entre nós.

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  10. Que interessante parte da nossa história trazida por Armando Lopes Rafael. Admito que não sabia a origem de Pinto Madeira. Vi várias vezes seu nome na importante rua da Capital, mas não sabia da sua participação na história do Cariri , do Ceará e do Brasil.
    Parabens...

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  11. É...

    Armando Rafael

    Você sempre enriquece a nossa história, trazendo a lume, fatos que não devem ser esquecidos, especialmente quando se trata de acontecimentos envolvendo a nossa terra.

    abraços do

    Vicente Almeida

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  12. Armando Rafael, muito interessante o seu resgate histórico sobre o senhor Pinto Madeira, pois além de saber que ele era do Cariri, eu só tinha conhecimento da continuação da via pública, que leva o seu nome, em Fortaleza, que é a rua Torres Câmara.

    Valeu!

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  13. mais uma vez, Dona Glória lhe agradçeo pelos elogios, mas o que relatei s eencontra no livro : história do Ceará, da Pré História 'a ao governo Cid Gomes, de Ariton de Farias, e sobrre este detalhe do sítio Iputi, quem me informou foi o Sr. Tibúrcio Bezerra, um historiador auto-didata.

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  14. Gostei muito do texto, sou historiador e cratense. gostaria de saber se vc tem algum material sobre miguel xavier, ele foi uma figura importante no cariri durante o imperio, ele tbm tem osobrenome pimenta, onde no crato tem um bairro com esse nome. meu blog é loucosporhistorialocal.blogspot.com
    obg

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