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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

COMPOSITORES DO BRASIL


“A mulher mente brincando
E às vezes brinca mentindo
Quando ri está chorando
E quando chora está rindo”
(Nuvem que passou)

NOEL ROSA
Parte dois

Postado por Zé Nilton

Seu companheiro do Conjunto Bando de Tangarás, o músico, compositor, locutor e escritor Henrique Fores Domingues – Almirante – conviveu com Noel Rosa desde antes de descobrirem os caminhos da música. Escreveu belas páginas sobre o gênio da Vila, e enfeixou no livro clássico “No Tempo de Noel Rosa”, Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1977.

Em suas páginas escreveu passagens hilárias sobre Noel, com esta que se segue:

“O sono de Noel era dos mais extraordinários do mundo: duro, pesado, impenetrável.
Certa vez, João de Barro, tendo emprestado seu violão a Noel, necessitou buscá-lo no chalé da Teodoro e Silva (residência do poeta da Vila). Ás volta com sua escolinha, Dona Marta (mãe de Noel), dada a intimidade dos dois, indicou:- Pode apanhar seu violão que está no quarto. E pode acorda Noel. – Noel ressonava e o amigo pensou que pudesse despertá-lo facilmente. Primeiro, tocou levemente o seu ombro. Nenhum resultado. Em seguida balançou-o, dando-lhe sacudidelas, fortes a princípio e fortíssimas no final. E Noel não acordou de maneira alguma.

Arnaldo e Oswaldo Araújo, velhos alfaiates, velhos amigos da família, noutra ocasião receberam encomenda de um terno que Noel necessitava com pressa. A primeira prova pode ser feita na alfaiataria, mas a última forçosamente se realizou na casa de Noel, que não pôde ser despertado. Com a ajuda de Dona Marta ele foi colocado de pé, à força, sem tomar conhecimento de si próprio. Assim ocorreu aquela estranha prova de calça e paletó

Noel reconhecia a própria resistência para abandonar o leito. Quando necessitava acordar em horas prefixadas a fim de cumprir obrigações importantes, ao chegar em casa alta madrugada, distribuía por todos os cantos – sobre a mesa, em cordas estiradas pelos corredores, pendurados nas lâmpadas, pelo chão, à porta do quarto, à vista do fogão, à entrada do banheiro – avisos alertadores, em letras garrafais, com abundância de exclamação, deixando clara sua preocupação em não faltar ao compromisso assumido.

ATENÇÃO!!!
MUITO IMPORTANTE !!!
NÃO SE ESQUEÇAM !!!
PRECISO ACORDAR CEDO!!!
CEDÍSSIMO!!!
GRAVAÇÃO ÀS 10 HORAS!!!
É IMPORTANTÍSSIMO !!!
NÃO ACREDITEM EM DESCULPAS!!!

Na manhã do embarque de Noel para o Sul, Dona Marta viu-se em apuros. Por felicidade, Graça Melo Surgiu. Pouco faltava para o Itaquera zarpar e Noel na cama, insensível aos berros, aos solavancos, à retirada violenta de todas as roupas. (...) Noel foi posto de pé, a muque; enfiaram-lhe as calças, a camisa, o paletó. Atabalhoadamente, Dona Marta completava a mala. Á porta, o carro que deveria conduzi-lo ao cais buzinava aflito. E Noel, meio carregado por Graça Melo, Dona Marta e pelo Calulá (o seu amigo para assuntos de acordar), foi atirado dentro do taxi, como um trapo, semi-inconsciente. No trajeto, ia completando suas roupas à medida que os solavancos do automóvel em disparada permitiam.

Os companheiros – Chico Alves, Mário Reis e outros – o aguardavam, já sem esperanças. E ele subiu, sobraçando a mala entreaberta, desgrenhado, camisa fora das calças, olhos empapuçados, mas feliz.” (pp. 107-109).

Coisas de gênio.

Amanhã, a segunda parte da homenagem a Noel Rosa.
Vamos falar mais um pouco de sua obra, ouvindo:

O orvalho vem caindo, de Noel Rosa e Kid Pepe, com Aracy de Almeida, gravação de 03/11/1933
João Ninguém, de Noel Rosa, com Noel Rosa, gravação de 24/07/1935
Tenho raiva de quem sabe, de Noel Rosa, Kid Pepe e Zé Pretinho, gravação de 25/04/1934
Século do Progresso, de Noel Rosa com Isaura Garcia, gravação de 28/07/1937
São coisas nossas, de Noel Rosa, com Noel Rosa, gravação de 1932
Pierrô Apaixonado, de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres, com Maria Betânia, gravação original de 1936, para o filme “Alô, alô Carnaval !
Tarzan, o filho do alfaiate, de Noel Rosa e Vadico, com Noel Rosa, gravação de 1936
Por causa da hora, de Noel Rosa, com Noel Rosa, gravação de 10/10/1931
Mentir (ou mentira necessária) de Noel Rosa, com Mário Reis, gravação de 28/09/1932
A.B. Surdo, de Noel Rosa e Lamartine Babo, com Olga Jacobina e Lamartine Babo, gravação de 1930, para o carnaval de 1931.
Fita amarela, de Noel Rosa, com Francisco Alves e Mário Reis, gravação de 29/12/1932
Pastorinhas (ou Linda Pequena), de Noel Rosa e João de Barro (Braguinha), gravação de 13/12/1937
Cem mil Réis( ou você me pediu), de Noel Rosa e Vadico, Chico Buarque e Luiza Buarque, gravação original de 05/03/1936
Cordiais saudações, de Noel Rosa, com Noel Rosa e o Bando de Tangarás, gravação de 18/08/1931.

Quem ouvir, verá !

Programa Compositores do Brasil
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Todas às quintas-feiras, às 14 horas
Rádio Educadora do Cariri – 1020 khz
Apoio. CCBN
Prof.Zeniltom.

Um comentário:

  1. Prezado Professor.

    Desta vez, como por um milagre, conseguir postar um video de "Fita Amarela" para agregar um pouco de valor a sua bela postagem Compositores do Brasil.
    Obrigado e Abraços.
    A. Morais

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