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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Programa de Auditório

Um cumpadi meu, meu querido conterrâneo, foi um belo dia fazer um passeio pela capital de São Paulo. Isso se deu naquela época dos boleros, lá pros anos 50 ou 60. Muito bem: caminhava o dito cujo pelas ruas das Palmeiras, onde existia a famosa Rádio Nacional, quando, ao passar pela porta, se depara com uma multidão pronta para entrar no auditório onde se anunciava uma apresentação do então grande astro da música mexicana, Pedro Vargas, que fazia um enorme sucesso com todos os seus discos lançados no Brasil. Isso na forma de 78 rotações, a famosa "bolacha preta" na época de ouro do disco.
Só para se ter uma idéia, os títulos apelativos das músicas de Pedro Vargas - e de outro cantor mexicano, famoso na época, o saudoso Gregório Barros - eram mais ou menos assim: "Perfídia", "Pecadora", "Hipócrita". Tudo na base do xingamento, do pejorativo, que era o que o povão que consumia disco gostava.
Pois bem: o meu cumpadi vê anunciado ali o grande cantor e resolve não deixar passar em branco a oportunidade única de assisti-lo, só para depois contar vantagem lá na minha terrinha.
Compra o ingresso, se abanca num bom lugar e assiste prazerosamente ao mexicano desfiar um rosários de umas 20 canções do seu repertório. Claro que, como é de praxe entre os artistas, ele deixou para o final os grandes sucessos, para atender os pedidos do público.
CANTOR (para o público) - Ahora ustedes podem pedir las canciones que quieran.
Bastou isso para o pessoal do auditório começar uma gritaria, todos ao mesmo tempo.
FÃ - Perfídia!
OUTRO - Hipócrita!
OUTRO - Pecadora!
OUTRO - Malvada!
A gritaria ia por esse caminho quando o meu cumpadi achou-se no direito de também xingar.
E no berro:
CUMPADI (gritando) Ladrão... sem-vergonha... cafageste... ordinário... fio duma égua...
Naturalmente, foi expulso da Radio Nacional, o meu cumpadi...

Autor: Rolando Boldrin

SR BRASIL, programa de Rolando Boldrin
TV Cultura Terças-feiras 21:00 hs / Domingo 10:00 hs

Glória Pinheiro

4 comentários:

  1. Maria da Gloria.

    Outro dia me encontrei com o Capitão Ariovaldo Carvalho. Como leitor do nosso Blog ele gosta de contar novidades e contou esta, afirmando que é fã do Roland Blodrin e que havia assistido o Programa neste dia que foi contada esta perola. Boa historia.

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  2. Morais, já falei para Boldrin que o pessoal daí aprecia o que ele faz. Pelo artista alegrar meio mundo e divulgar a cultura popular dos quatro cantos do Brasil, este ano ele estará sendo homenageado pela Escola de Samba Pérola Negra.
    Uma justa homenagem ao artista versátil que não divulga a si próprio mas sim aos seus iguais: cantores, compositores, contadores de causos, etc... Obrigada pelo comentário.

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  3. Glória,

    Eu tenho um plantão, na terça-feira à noite, numa cidadezinha aqui do interior, de nome Cariús, e, vez por outra, dou uma espiadinha no programa do Boldrin.

    Essa semana, aconteceu um acidente de motocicleta no horário do programa e eu o perdi por completo.

    Digo como o CUMPADI: Ladrão... sem-vergonha... cafageste... ordinário... fio duma égua...

    Saudações.

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  4. Ô Sávio Pinheiro...

    A TV em Cariús é a cabo? Antena parabólica? Você poderia me informar qual o sistema de transmissão? Gostaria de passar essa informação à uma amiga que mora em Recife.

    Sempre que der, continue assistindo que é bom.

    Saudações

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