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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

SOBRE MÚSICA

Texto de Zé Nilton

Outro dia, aqui no Sanharol, o Morais dedicou a música “As Pastorinhas”, de Noel Rosa e Braguinha (João de Barro) aos seus amigos e, ao mesmo tempo, nos brindou com o clippe da música “Atire a primeira pedra”, de Ataulfo Alves e Mário Lago.

O amigo Morais aproveitou o ensejo para citar uma passagem do meu texto, quando discorria sobre o nosso exímio compositor e instrumentista Cleivan Paiva, apresentado no Programa Compositores do Brasil, levado ao ar pela Rádio Educadora do Cariri, no dia 21 de janeiro, em que chamava a atenção para o estrago que a indústria fonográfica e a mídia estão, em comum acordo, encetando à juventude em todo o mundo.

Sem querer sociologizar e já sociologizando, acredito que essa crise das artes rebatendo na música, tem a ver com a atual vaga do processo histórico por que estamos passando.

Não há dúvida de que a crise é de valor. Em assim sendo, ela alcança tudo o que subjaz nas crenças ideológicas de direita e de esquerda. A dessubstancialização do sujeito, o simulacro no lugar do real e a pouca crença no devir, dizem de um mundo que de repente aceita a convivência com as irracionalidades,coisa absurda de se pensar até um dias desses.

A meu ver, essas coisas ditas desses tempos pós-modernos, são mais uma questão ideológica, muito bem arquitetada pelas forças hegemônicas detentoras de poder, em todos os níveis, para preservar e promover este modelo sufocante de relação do homem com as suas necessidades, do que a realidade vivenciada pelo ser humano no mundo.

Mas o que esta digressão metida a besta tem a ver com Morais, Cleivan Paiva e as músicas “As Pastorinhas” e “Atire a primeira pedra” ?

Mais ou menos isto: Falando de Morais e de Cleivan Paiva e a evocação das duas canções, estas nos remetem a um tempo justificadores de um mundo em que as coisas “estavam no lugar”: a música servia ao espírito humano na sua busca de viver e transformar a realidade; as teorias serviam para se pensar e transformar o mundo; a História era a mestra da vida, com a missão de rever o passado no presente para projetar um melhor futuro; as religiões prometiam a felicidade nos céus, depois disseram que a felicidade estaria na terra – na terra de todos; a ciência trataria de redimir o sofrimento humano...

Como nada disso se realizou plenamente no plano humano veio a descrença, a desrregulamentação, a desorientação, a flexibilização (tudo é maleável, é possível), a irracionalidade ( a razão do mais lucro e menos ética), e tudo se resolverá no mercado, e vai por aí...

Então, a música que toca hoje nas mídias do mundo, é caudatária desse pensamento hegemônico e bem organizado de que tudo deve ser posto no mercado.

Aí, meu caro, o mercado é isso aí !

E por falar nisso, como está o mercado da música no nosso Siará ?

Em tempo: tem uma turma grande nesses tristes vales vivenciando,“morrendo e resistindo” as irracionalidades do mercado musical. Fazendo, falando, promovendo e ouvindo (na Rádio Chapada do Araripe) a música que serve, eita nós !
Prof. Zenilton

Um comentário:

  1. Prezado Prof. Zenilton.

    Este seu texto é um atestado de defesa da boa musica, seja ela a nivel regional ou nacional. É a defesa da inteligencia, da capacidade de criação musical. Quando a criação é boa marca o criador para sempre. Como disse no caso das duas musicas comentadas. Crianças dos nossos tempos conhecem e cantam a musica de 50, 60 anos atras. Diferentemente dos bagulhos que se ver por aí que são jogados goela abaixo pela midia e em poucos dias estão condenados ao esquecimento. Parabens a Radio Chapada do Araripe por promover o que é bom.

    Parabens a voce e um forte Abraço.

    A. Morais

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