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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 10 de março de 2010

"O Partido da bandidagem - Editorial do Estadão".

O recém-escolhido tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, está tecnicamente certo quando diz que nunca tinha sido acusado de nada nem responde a processo algum, civil ou criminal, por sua atuação na Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários de São Paulo (Bancoop), de que foi diretor financeiro (entre 2003 e 2004) e presidente (de 2005 até fevereiro passado). Mas os seus protestos de inocência só se sustêm graças à letárgica andadura da Justiça brasileira.
Datam de setembro de 2006, há 3 anos e meio portanto, as primeiras denúncias de irregularidades na cooperativa, levantadas pelo Ministério Público (MP) do Estado. Em 2007, foi aberto inquérito criminal para apurar delitos da entidade, como superfaturamento de obras, apropriação indébita, desvio de verba e formação de quadrilha. No ano seguinte, uma testemunha disse ao MP que recursos desviados da Bancoop ajudaram a financiar clandestinamente a vitoriosa campanha presidencial de Lula em 2002.
A testemunha, Hélio Malheiro, era irmão de um ex-presidente da cooperativa, Luiz Eduardo, falecido em um acidente de carro em 2004, juntamente com dois outros dirigentes da instituição. Dizendo-se ameaçado de morte, Hélio foi acolhido no Programa de Proteção a Testemunhas do governo paulista. O seu depoimento foi crucial para o MP caracterizar a Bancoop como uma “organização criminosa” e solicitar a quebra do seu sigilo bancário, como foi noticiado em junho de 2008.
Só na semana passada, porém, o promotor responsável pelas investigações, José Carlos Blat, recebeu o papelório — mais de 8 mil páginas de registros de transações entre 2001 e 2008. E foi com base nessa documentação que ele pediu, na última sexta-feira, o bloqueio das contas da Bancoop e a abertura dos dados bancários e fiscais de João Vaccari Neto, acusando-o de “gestão fraudulenta”.
A apropriação para fins pessoais e políticos dos recursos dos cooperados, fundos de pensão e empréstimos captados pelo sindicato dos bancários transformou 400 famílias em vítimas do conto da casa própria: os imóveis que compraram na planta não foram construídos, mas os lesados continuaram a pagar as respectivas prestações. Segundo a revista Veja, que teve acesso aos autos do inquérito, a Bancoop sacou em dinheiro vivo de suas contas pelo menos R$ 31 milhões. Outros cheques, somando R$ 10 milhões, favoreceram uma empreiteira formada por diretores da entidade, que, por sinal, era sua única cliente conhecida.
O responsável pelas obras da cooperativa disse que os pagamentos eram superfaturados em 20%. “Os dirigentes da Bancoop”, apurou Blat, “sangraram os cofres da cooperativa em benefício próprio e também para fomentar campanhas políticas do PT.”
A prova mais gritante foi o R$ 1,5 milhão pago entre 2005 e 2006 — quando a instituição estava praticamente quebrada — a uma firma espectral de serviços de segurança, então de propriedade de Freud Godoy, na época segurança de Lula. Cada qual a seu modo, Godoy e Vaccari se envolveram no escândalo do dossiê, a compra abortada pela Polícia Federal de material supostamente incriminador para candidatos tucanos na campanha de 2006. Quando a operação fez água, Lula chamou os seus autores de “aloprados”.
Pelo dossiê, os petistas pagariam R$ 1,7 milhão. Nunca se descobriu de onde veio a dinheirama. À luz do que já se sabe das falcatruas da Bancoop, ela pode ter sido a fonte pagadora da baixaria. Tão logo entregou parte da bolada aos encarregados de comprar o dossiê, foi para Vaccari que ligou um dos cabeças da operação, Hamilton Lacerda, então assessor do senador Aloizio Mercadante.
Mas Vaccari não é o primeiro elo da cadeia. Ele deve a sua carreira ao companheiraço Ricardo Berzoini, que presidia o PT até poucas semanas — e, como tal, foi acusado de autorizar a compra do dossiê. Berzoini alçou o bancário Vaccari à presidência do sindicato da categoria, em 1998. Em 2004, Berzoini salvou a Bancoop da falência, ajudando-a a levantar no mercado R$ 43 milhões — via fundos de pensão de estatais comandados por petistas do grupo dele e de Vaccari.
A Polícia Federal chegou a abrir inquérito sobre o prejuízo imposto aos fundos para favorecer a Bancoop. A rigor, nenhuma surpresa, considerando a folha corrida do PT. Mas, a cada escândalo, mais se aprende sobre a destreza com que a bandidagem petista se apossa do dinheiro alheio para chegar lá — e ali se manter.
O Estadão.
10 de Março de 2010.

Um comentário:

  1. "A CPI da Bancoop vai investigar denúncias da existência de um esquema de desvio de dinheiro da Bancoop para campanhas eleitorais do PT, envolvendo o atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que presidiu a cooperativa até fevereiro deste ano. O requerimento pedindo a criação da CPI havia sido apresentada pelo deputado Samuel Moreira em outubro de 2008. O grupo de trabalho será composto de acordo com o princípio da proporcionalidade. Pela tradição da Casa, o próprio proponente da CPI, Samuel Moreira, deve presidi-la. Só depois dessas definições será marcada a primeira reunião de trabalho do grupo.

    Fundada em 1996 por um grupo do PT, a Bancoop sofre uma devassa da 1ª Promotoria Criminal da capital. Segundo o promotor promotor de Justiça José Carlos Blat, que conduz o inquérito, o rombo pode ultrapassar R$ 100 milhões. Ele está convencido de que parte desse dinheiro foi destinada a campanhas eleitorais do PT. Outra fatia teria caído na conta de dirigentes da cooperativa. Blat requereu na sexta-feira, 5, a quebra do sigilo bancário e fiscal de Vaccari. Além disso, ele quer acesso aos dados de dois ex-diretores, Ana Maria Érnica e Tomás Edson Botelho Fraga e o bloqueio das contas da entidade.
    Por sua vez, em nota publicada em seu site no último sábado, 6, a Bancoop acusou o promotor de procurar "sistematicamente a imprensa com o objetivo de fazer acusações políticas". A cooperativa admitiu, no entanto, ter "vivido dificuldades administrativas" em 2003 e 2004, período em que Vaccari ocupou o cargo de diretor administrativo financeiro".
    O Estadão.

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