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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Crônica - Por Dr. Jose Bitu Moreno


Dr. Bitu recebe prêmio das mãos do Coordenador de Saúde Ricardo Tardelli ao lado o Secretário da Saúde Luiz Roberto Barradas Barata e o Governador José Serra.
Cronica - Dr. Jose Bitu Moreno

Nesses dias, caso sinta um sopro, como um xale tricotado de vento e de tempo, que se enrosque em sua nuca, abraçando o pescoço, alisando as têmporas, mesmo que por breve momento, Se em meio a uma frase, pare, sem razão, meio confuso, procurando as palavras, como se um dedo as tivesse trocado de lugar, Se a melodia de uma música, o trecho de uma canção, tocada no rádio ligado ao acaso, ou percebida enquanto caminha apressado, lhe façafechar os olhos emocionado, Se o entardecer, ou a lua no céu de estrelas, lhe faça sair por um momento de sua rotina, e o embeveça refazendo sentimentos que antes já tivera, Ou se no alvorecer, ao ouvir o canto de pássaros, ou o susurrar defolhas nas árvores, lhe venha a lembrança de outras palavras faladas e de manhãs já vividas, Ou ainda se a fragância ocasional de um perfume, ou qualquer fragância que seja, lhe desperte a lembrança de alguém, de algum fato, ou de algo que não consegue definir de imediato, Mas enfim, se com outros, em um bar, numa festa, numa conversa ocasional, no lugar onde estiver, lhe venha a sensação de já ter vivido momento igual, ouvido palavras semelhantes...Fique certo que sou eu, seu irmão, seu amigo, que nesses dias tem pensado em você, no passado que vivemos juntos, no dia afortunado que nos conhecemos, e lhe manda esse recado, essa mensagem nas mais diversas formas que a saudade pode tomar Meu amigo, meu caro amigo, meu saudoso amigo, fui outro, mais completo, depois que lhe conheci, que Deus lhe preserve, lhe guarde e lhe alivie os caminhos, Que você tenha um Natal luminoso e que o Ano Novo lhe permita dormir e acordar todos os dias, com a sensação de que teve e de que vai ter um dia feliz. A roda do destino por acaso nos separou, mas a rede da vida cuidou para que ficássemos indelevelmente ligados.
De todo o meu coração,
José Bitu Moreno

4 comentários:

  1. Prezado Dr. Jose Bitu Moreno.

    Este seu texto e esta sua cronica, são um atestado da intelectualidade de Varzea-Alegre.

    Saiba: antes de ti já tivemos Padre Antonio Vieira, Dr. Dario Batista Morena, seu tio, bem como outros que dignificaram nossa terra pela cultural e pelo conhecimento.

    Voce merece nosso aplauso pelo que representam para nós as suas vitorias. Deus lhe abençoe e lhe faça feliz.

    Antonio Morais.

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  2. José Bitu,
    Quis falar sobre você,sobre a honra de ter publicado poemas ao lado das suas composições poéticas de raríssima inspiração. Minhas palavras seriam insuficientes, pelo que você é como pessoa, profissional e poeta, mas eis que suas próprias palavras se apresentam, nesse maravilhoso texto, e nos mostram que as vezes a natureza abre exceção e faz surgir, em uma só pessoa, a capacidade técnica, a grandeza espiritual e o talento artístico.
    Um grande abraço.

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  3. Caro Morais, muito obrigado por suas palavras. O seu blog me aguça muito as saudades de Várzea-Alegre, Sanharol, Inharé e de todos vocês...Agora, que se aproxima meu aniversário,revendo algumas crônicas, deparo com esta que escrevi em outro aniversário:

    Numa bela manhã de primavera, sento-me para sonhar. Abril se aproxima rápido, trazendo na sacola, mais um aniversário. Ah, esse tempo poderia ser mais lento!! Como na infância, em que as horas se espreguiçam na divertida vida, e assim demoram a passar. Talvez também seja assim na velhice, tal qual a idosa senhora que mora sozinha no andar de cima, que impossibilitada de vencer as escadas, escolheu a cozinha para passar os dias, e sua janela como o relógio da vida.
    Mas nessa manhã, quero escolher as doces lembranças como um travesseiro, onde vou me afundar e sonhar de novo, como se a vida que já foi, pudesse novamente vir a ser.
    A vida que foi boa, posso contar pelas manhãs. As manhãs da infância com Vovó Biluca na sua casa branca. Após as noites de chuva, as manhãs claras e límpidas de Várzea-Alegre, com suas ruas de pedras, que o sol ajudava a polir. As manhãs de domingo em Fortaleza, onde a praia do Futuro nos preenchia de sol e mar, alimentando a alma de energia e beleza. A manhã em que cheguei em Marília, a cidade que do alto do espigão ainda se enrolava na névoa, espreguiçando-se...Bela Marília, linda menina, formosa senhora. Por suas ruas silenciosas, puxando as cortinas das tantas manhãs, eu e Natha nos dirigíamos para a FAMEMA, ouvindo no rádio os lamentos apaixonados das músicas de raízes.
    O Hospital de Clínicas aparecia muitas vezes como se assentado em nuvens, da névoa que subia dos vales, enbranquecendo a cidade em clima de sonho.
    Veneza se me surgiu numa manhã clara, após uma cansativa noite de trem, como a súbita revelação de um paraíso terreno, como uma bela jovem saída de um quadro renascentista, mostrando sua virginal nudez, e eu parasse estupefado frente a tanta beleza.
    Na ilha de Capri sentado no alto de uma escarpa, mirando o azul profundo do mar, sentindo as fragâncias de limões nos pomares, senti pela primeira vez que minha mulher era aquela ilha, era o meu sonho do distante, do belo, do indefinido...A poesia de meus melhores dias.
    E para que as manhãs se fizessem, foram necessários os galos e os pássaros. No tempo da casa branca, no Inharé, os galos se esgoelavam festejando o dia e espalhando orvalho. Mas aqui, na Alemanha, têm sido os pássaros...Fui com Anna Carolina para a escola e no caminho lhe lembrei de silenciar os outros barulhos do dia, para que ouvisse a algazarra dos pássaros. Quando levei André lhe falei baixinho de um passarinho que entre os galhos de uma árvore se escondia, chamando-o pelo nome. Meus dois filhos são dois pequenos passarinhos que enfeitam e fazem todas as manhãs dos meu dias.
    E se apenas uma foto houvesse que recordasse ou resumisse todas as manhãs que tive, as minhas manhãs, uma existe em que estamos reunidos no clube recreativo de Várzea-Alegre, minha família, papai de chapéu de feltro, mamãe em vestido estampado de seda, as irmãs de saias brancas plinçadas e blusas azul-marinho, e os filhos homens em roupa domingueira, mas de calças curtas, botas e meias até metade das canelas . Estamos felizes e paira certa ingenuidade no ar, razões porque se tornou muito antiga a foto, utópica, etérea, totalmente deslocada pelo tempo. Mirávamos um futuro que nos desmentiria. Sonhávamos um vida que jamais existiria. Fomos naquele instante, o que jamais tornaríamos a ser. Aquela manhã, jamais se repetiria. Mas o instantâneo do retrato, ficou para sempre.

    Grande abraço,
    José Bitu

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  4. Dr. Jose Bitu Moreno.

    Postarei essa sua cronica no Domingo dia 25 de Abril.

    Já postei umas cinco historias do seu avô Jose Bitu no Blog do Sanharol. Amanha vou reprisar uma para o seu deleite. Vale a pena lê sobre José Bitu, Mundim do Sapo, Ze André e Ze de Ana do Sanharol.
    Um forte abraço.

    Antonio Morais

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