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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 12 de abril de 2010

A mulher nos tempos bíblicos – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Na época em que Jesus viveu, os homens judeus iniciavam suas orações diárias no muro das lamentações, agradecendo a Deus por não terem nascido mulher: “Bendito Aquele que não me fez pagão, que não me fez mulher e não me fez lavrador.” Por esta oração, vemos que três classes eram completamente inferiorizadas e discriminadas: os não judeus, a quem eles denominavam pagãos, as mulheres e os trabalhadores do campo. A mulher era totalmente subjugada ao homem, numa quase escravidão, praticamente sem nenhum direito. Não podia deixar os cabelos à mostra, nem ensinar ou dar testemunho. Era considerada impura quando menstruada. Ao dar à luz um menino se tornava impura durante sete dias. E deveria aguardar a purificação do seu sangue durante trinta e três dias, não podendo freqüentar o santuário ou tocar em qualquer objeto sagrado. Se a criança fosse uma menina esse tempo duplicava. (Lv 12; 1-5). Era também proibido a uma mulher estar sozinha com um homem. “Qualquer um que fale muito com uma mulher é causa de mal para si mesmo, descuida da Lei e termina na Geena”, sentenciava o Talmude em um de seus tratados, o “Pirqe Aboth”, o “livro das sentenças dos sábios”.

Ao homem era permitido repudiar sua mulher por um motivo qualquer e lhe dar uma carta de divórcio. (Dt 24,1). À mulher era-lhe negado até o direito de escolher seu próprio marido. E geralmente as mulheres judias casavam com esposos escolhidos pelos pais e que muitas vezes somente os conheciam no dia do casamento.

O matrimonio judeu de então era realizado em duas etapas: o “esponsal”, cerimônia na qual os nubentes eram declarados marido e mulher. Nessa fase a moça estava com doze anos de idade e o rapaz com dezoito anos. Após essa cerimônia, cada um dos noivos voltava para a casa de seus pais. Decorrido um ano, realizavam-se as núpcias, e então, marido e mulher passavam a ter vida em comum.

Se por acaso, uma mulher fosse flagrada em adultério durante essas duas fases do matrimônio deveria ser apedrejada. Se o adultério fosse após as núpcias ela seria estrangulada. Já o homem, somente cometeria adultério se a mulher com a qual mantivesse relação sexual fora do casamento fosse judia e casada. Portanto o homem poderia se relacionar com todas as mulheres solteiras e pagãs, desde que não judias.

A mulher declarada adúltera que os fariseus apresentaram a Jesus para que ele ditasse a sentença de apedrejamento foi uma dessas meninas vivendo entre as duas fases do seu casamento. Era uma armadilha que os fariseus prepararam para acusar Jesus. E ele escrevendo na areia, talvez, quem sabe, os inúmeros pecados cometidos por aqueles acusadores, respondeu: “Quem entre vós não tiver pecado, atire nela a primeira pedra.” “E todos se retiraram um a um, começando pelos mais velhos.” (Jo 8,7). E esses mais velhos que o evangelista cita, não são os velhos em idade, mas os presbíteros, entre eles escribas e fariseus que apesar do prestigio e do direito de julgar, se fragilizavam a qualquer ameaça de serem desmascarados.

Alguns trechos do Antigo Testamento nos revelam o preconceito contra a mulher naquela época. No livro do Eclesiástico ou Sirácida, lemos as seguintes referências: “Nenhuma ferida é como a do coração, e maldade nenhuma é como a da mulher!” (Sr 24,12). “Prefiro morar com um leão ou dragão a morar com uma mulher maldosa. A maldade de uma mulher transforma seu aspecto e seu rosto sombrio lhe dá o ar de um urso.” (Sr 24; 15-16). “A mulher está na origem do pecado e é por causa dela que todos nós morremos.”(Sr 25; 24).

O nascimento de uma mulher era considerado uma grande desgraça para a família judia. E quando já existiam duas filhas mulheres, a terceira deveria ser abandonada fora das vilas e cidades. Se por acaso, a recém-nascida sobrevivesse aos lobos e animais carnívoros, era recolhida pelos mercadores de escravos que, de manhã cedo, percorriam as periferias das cidades e das vilas à procura dessas meninas, para criá-las como escravas e destiná-las à prostituição.

Em todos os relatos dos Evangelhos em que Jesus é confrontado com uma mulher, convidado a condená-la, ele que veio para salvar através de sua prática, denunciou as inúmeras injustiças contra a mulher, libertando-a da condenação arquitetada pelos doutores da lei.

Atualmente, apesar das leis de muitos países considerarem direitos iguais para homens e mulheres, a mulher continua sendo discriminada pelo arraigado machismo que nos impregna. Quer em relação ao trabalho, ou ao nível salarial, ou quando se submete a qualquer cargo público, a mulher geralmente não é bem vista. E quem de nós ao ver uma mulher cometendo pequena barbeiragem no trânsito não exclamou ainda: “Só podia ser uma mulher!”?

A força da mulher que trabalha, cuida dos filhos, executa e administra os serviços domésticos e ainda dá atenção ao marido fortalece a família. Nós nem imaginamos como ser possível assumir essas múltiplas tarefas depois de um longo dia de trabalhos e preocupações.

A valorização da mulher e sua participação na vida social e política é de fundamental importância para o crescimento das relações sociais. Dosando a sensibilidade e a delicadeza próprias da mulher com a racionalidade e firmeza do homem, viver se tornará mais fácil e agradável. Nós, os homens, devemos valorizar a mulher, pois sem ela a humanidade não existiria.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo


3 comentários:

  1. Agradeço ao amigo Morais pela acolhida ao texto. Um abraço

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  2. Jesus não só acolheu a mulher pecadora, como também a sua própria mãe. Nas bodas de Caná sua mãe estava lá para lhe dizer: Faça o milagre da transformação da água em vinho, e ele fez. Maria era uma mulher forte e é por isso que será proclamada por todas as gerações:
    Lucas 1,48 Porque olhou para a humilhação de sua serva. Doravante todas as geraçoes me felicitarão.
    Maria, mãe de Jesus era tão poderosa que ao visitar sua prima maria Isabel que estava grávida de João Batista, disse: Que honra para mim receber a mãe do meu senhor! E nesse momento a criança estremesse em seu ventre.
    Por essas e outras devemos respeitar muito quem deu à luz a luz do mundo.

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