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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

DESPEDIDA


“Receber o diagnóstico de uma doença que ameaça a vida leva a pessoa a questionamentos a respeito da mesma, seu sentido e significados. Pareceu-nos que uma doença potencialmente fatal constitui a perda da ilusão. A ilusão de um corpo perfeito, de invulnerabilidade, de imortalidade. Nos recônditos de nossa alma, percebemo-nos como eternos, mas, a morte deste corpo e desta identidade é real e aponta para o paciente como ser humano, como participante do seu processo de doença, sofrimento e finalmente da morte, como realidade existencial. Por outro lado, lidar com a perspectiva de morte é uma oportunidade ímpar de (re)significar o sentido da nossa existência.

O modo como cada paciente vive o momento de adoecimento dependerá de sua singularidade e da capacidade de enfrentamento de situações críticas ao longo de sua história. Sabemos que os mecanismos de defesa e os mecanismos adaptativos utilizados para isso facilitarão ou não a participação ativa do enfermo no controle e melhor aceitação de sua doença. A vida e a morte ganham um esboço singular quando vislumbradas na ótica da pessoa que se percebe na perda gradativa da saúde e na contigüidade inevitável da finitude. A impotência, a sensação de insuficiência, a constante expectativa de morte, a descrença em relação às medidas terapêuticas disponíveis constituem, às vezes, uma espécie de paralisia diante da realidade dos limites dos tratamentos para a cura e das demandas relativas à preservação da qualidade de suas vidas. Confrontar com estas questões é entrar em sofrimento e sobrepujar este sofrimento é forjar uma organização interna mais madura e mais próxima da realidade da vida que é a morte.

Morte, palavra que traz consigo muitos atributos, significados, associações e representações: dor, sofrimento, ruptura, interrupção, desconhecimento, tristeza. Designa o fim absoluto de um SER vivo. Numa posição antagônica, a morte coexiste com a vida, o que não a impede de ser angustiante, incutir medo e, ao mesmo tempo, ser palco de incessantes discussões. Muito se têm falado a respeito dos problemas que permeiam a discussão em torno da morte. Estudiosos e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento têm abordado o tema sob diversos olhares, na tentativa de lançar luz sobre as formas como a morte é representada e enfrentada pela sociedade atual. Deste modo, sentimos a necessidade de enfatizar o fenômeno da morte a partir de um recorte teórico que perscruta da era cristã até os dias atuais buscando compreender os diversos sentidos assumidos pelo ser humano diante da morte.

Os povos da antiguidade temiam a morte e preservavam seus parentes mortos à distância, pelo temor que eles regressassem ao povoado. A pessoa que pressentia a proximidade do seu fim, respeitando os atos cerimoniais estabelecidos, deitava-se no leito de seu quarto e ali era visitado por pessoas da comunidade. Era importante a presença dos parentes, amigos e vizinhos. Os ritos da morte eram realizados com simplicidade, sem dramaticidade ou gestos de emoção”.

Um comentário:

  1. "Não é da morte que as pessoas têm medo. É outra coisa muito mais
    trágica e perturbadora que nos assusta. Temos medo de nunca termos
    vivido. Assusta-nos chegar ao fim de nossos dias com a sensação de que
    jamais estivemos realmente vivos, pois nunca descobrimos o que é a vida".
    Harold S. Kushner

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