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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 30 de junho de 2010

BRIGA NA PROCISSÃO AUTOR Chico Pedrosa

Quando Palmeira das Antas
pertencia ao Capitão
Bento Justino da Cruz
Nunca faltou diversão:
Vaquejada, cantoria,
procissão e romaria sexta-feira da paixão.
Na quinta-feira maior,
Dona Maria das Dores
No salão paroquial reunia os moradores
E ao lado do Capitão fazia a seleção
de atrizes e atores

O papel de cada um
o Capitão que escolhia
A roupa e a maquilagem
eram com Dona Maria
O resto era discutido,
aprovado e resolvido
na sala da sacristia.

Todo ano era um Jesus,
um Caifaz e um Pilatos
Só não faltavam a cruz,
o verdugo e os maus-tratos
O Cristo daquele ano
foi o Quincas Beija-Flor
Caifaz foi Cipriano,
Pilatos foi Nicanor.

Duas cordas paralelas
separavam a multidão
Pra que pudesse entre elas
caminhar a procissão
Cristo conduzindo a cruz
foi não foi advertia
Pro centurião perverso
que com força lhe batia

Era pra bater maneiro
mas ele não entendia
Devido a um grande pifão
que bebeu naquele dia
Do vinho que o capelão
guardava na sacristia.

Cristo dizia: ôh, rapaz,
vê se bate devagar
Já estou todo encalombado,
assim não vou aguentar
Tá com a gota pra doer,
Ou tu pára de bater
ou a gente vai brigar.

O pior é que o malvado
fingia que não ouvia
E além de bater com força
ainda se divertia,
Espiava pra Jesus
fazia pouco e dizia
Que Cristo frouxo é você,
que chora na procissão
Jesus pelo que eu saiba
não era mole assim não.

Eu tô batendo com pena,
Tu vai ver o que é bom
Na subida da ladeira
da venda de Fenelon
O couro vai ser dobrado
Daqui até o mercado
a cuíca muda o som.

Naquele momento ouviu-se
um grito na multidão
Era Quincas que com raiva
sacudia a cruz no chão
E partia feito um maluco
pra cima de Bastião

Se travaram no tabefe,
ponta-pé e cabeçada
Madalena levou queda,
Pilatos levou pancada
Deram um bofete em Caifaz
Que até hoje não faz
nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão,
o cacete foi pesado
São Tomé levou um tranco
que ficou desacordado
Deram um cocorote
na careca de Timóti
que até hoje é aluado.

Até mesmo São José,
que não é de confusão
Na ânsia de defender
o filho de criação
Aproveitou a garapa
pra dar um monte de tapa
na cara do bom ladrão.

A briga só terminou
quando o Doutor Delegado,
Interviu e separou:
cada Santo pro seu lado
E desde que o mundo se fez,
Foi essa a primeira vez
Que Cristo foi pro xadrez,
Mas não foi crucificado.


Postado por Raimundinho

3 comentários:

  1. Mundim.

    Voce sempre surpreendendo. Grande Chico Pedrosa, que belo poema.

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  2. Mundin,

    O que o Chico Pedrosa não sabe é que aqui na terrinha Jesus já foi intimado.


    Um abraço.

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  3. Dr. Savio.

    Na terrinha Jesus brigou com Santinho na bodega de Senhor.

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