Já não era sem tempo. Galego do Alfinim, um sujeitinho franzino, olhos miúdos, chegado ao Baixio dos Dantas procedente da Paraíba, que se estabelecera no comercio do ramo de sucatas, casado com Salomé e pai de três meninos, não tinha mais duvidas: havia chegado à hora de se candidatar a uma vaga de vereador na câmara municipal. Sua experiência e liderança na quarta suplência do Sindicato dos Colhedores de Arroz da localidade, já o qualificavam para um bom desempenho da função.
Galego do Alfenim causava inveja e admiração a muita gente, sua ascensão repentina no comercio já era motivo para andar contando vantagens e cagando goma. Seu comercio sortido com grande variedade de produtos vendia, imaginem, de imagens de santos a mezinhas medicinais. De tudo tinha um pouco: alecrim pra difruço, casca de jurema pra dor de dente, quina quina pra sarar pereba, raspa de juá pra escovação, rumã pra garganta inflamada, rabo de tatu pra desentupir o ouvido, marcela pra dor de barriga, aguardente alemã para o batimento descompassado do coração, azeite doce para dor no umbigo, magnésia pra entupimento demorado, folha de goiabeira para caganeira e a mais procurada, catuaba para o palpite.
Mas, como todo mundo, um dia, cai numa esparrela, Galego também caiu na sua. Filiou-se ao PMDB na esperança de se aliar a esse magote de sanguessugas, esse lote de indecentes que por aí está há muitas décadas mamando nos cofres públicos. Como dizem a medida do ter nunca enche. Contratou Belizaria, uma cabocla avoada e esperta, conversadeira de arezia e lorota para ser o Duda Mendonça de sua campanha. Propaganda é a alma do negocio, afinal de contas Alfinim ouviu o ex-governador do Ceara, Deputado Federal e quase candidato a presidente da Republica declarar, em Fortaleza, que o Duda era capaz de vender um tolete de cocô.
O homem é poderoso, falou tá falado. Foram à riba, foram abaixo, comício pra cá, comício pra lá e o Galego terminou dando corda para Belizaria um pouco mais da conta, a ponto desta já está opinando sob que roupa, que sapato, que tipo de penteado devia fazer no cabelo, o perfume a ser usado, para desespero de Salomé, esposa do Alfinim.
Galego muito jeitoso dizia: Salomé, se aveche não muié, não se afregele que a causa é justa. Quando nós chegarmos lá, hum! Oh, nós desconta!. Mais que nada, quando saiu o resultado da eleição cadê os votos. Apenas um, o do próprio.
Alfenim afobou-se e partiu a tomar satisfação. Na casa da Belizaria já a encontrou com seu jeitinho dengoso dizendo: é Galego, você sabe né, nós avançamos o sinal, não tivemos cuidado, a coisa está atrasada 12 dias, ontem estive muito enjoada e tonta que nem fui votar e eu acho que vamos ter uma surpresa. Estou pensando que vai ter menino na nossa historia, assim você cumpre logo, a sua promessa que fazia de me assumir de vez.
Galego avermelhou, ficou roxo, branco! Já pensei em tudo, disse Belizaria, até o nome já escolhi, se for menino vai se chamar Alfinim Junior; agora se for menina o nome será de sua escolha, completou Belizaria.Faltou terra nos pés do Galego. Não quis mais saber de votos e partiu pra casa, arquitetando um plano para preparar Salomé para o pior que estava por vi.
Salomé, ao ver Alfinim de longe, já foi justificando sua traição eleitoral: É Alfinim, tudo seu era com Belizaria, não queria saber deu, e, na hora de votar eu me lembrei da "Talsinha" fiquei com raiva e votei em branco, contrariando sua merecedência.
Tem nada não Salomé, falou Alfenim, vamos esquecer esta eleição, vamos pensar em nosso futuro, nosso casamento e em nossos boguelos. Você tem que ser forte, o povo aumenta mais não inventa, e, está inventando que o menino que a Belizaria espera é meu filho. O reboliço foi grande e Galego do Alfinin nunca mais teve paz, nem quis saber de eleição.
Por A. Morais
Quando Zaqueu perguntou a mulher: Muié tu num votou neu não? Ela respondeu: Zaqueu, os que não ti conhecem não votaram imagina se eu que ti conheço ia votar?
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